O filme que deixou o Pentágono furioso acaba de chegar à Netflix — e vai te dar taquicardia Divulgação / Netflix

O filme que deixou o Pentágono furioso acaba de chegar à Netflix — e vai te dar taquicardia

Não é por acaso que o novo longa-metragem de Kathryn Bigelow, “Casa de Dinamite”, leva esse nome. Durante sua hora e cinquenta de filme, o público sente-se como se estivesse carregando uma bomba no colo, prestes a explodir a qualquer minuto. A angústia chega logo nos primeiros minutos e segue até o último segundo, sem dar muitas explicações. É que explicações aqui não são necessárias, apenas o incômodo da verdade: a de que o mundo está nas mãos de homens que não sabem exatamente o que estão fazendo.

Com roteiro de Noah Oppenheim, “Casa de Dinamite” é uma contagem regressiva em três atos, que mostram os fatos de diferentes pontos de vista. Tudo começa quando uma ogiva nuclear é lançada em direção aos Estados Unidos, mais precisamente, Chicago. O míssil é rastreado pelo governo, que imediatamente começa ações procedimentais para interceptá-lo antes de atingir o alvo. Bigelow mistura jornalismo e cinema com uma linguagem visual verité já testemunhada em outras de suas obras. As câmeras portáteis na mão do operador, dirigidas por Barry Ackroyd, dão a sensação de um documentário gravado ao vivo, com cortes rápidos, pegando reações de diferentes personagens, balançando de nervosismo e até chacoalhando com força quando o primeiro GMD, um interceptor antibalístico, é lançado.

Importante destacar que o filme não é sobre a explosão de um míssil nuclear nos Estados Unidos, mas sobre a iminência disso e as consequências dentro do sistema político: quais decisões tomar, o colapso institucional. O enredo não se preocupa em amarrar pontas, dar explicações ou contextualizar o público, porque é exatamente sobre se sentir desorientado em uma situação completamente imprevisível e inescapável. É preciso enfrentar, mas como? O que resolveria? É possível resolver? Isso é real ou apenas um engano? A tensão aumenta a cada segundo que o míssil se aproxima.

O final pode surpreender ou frustrar os espectadores. Mas Bigelow e Oppenheim querem sacudir o público, deixá-lo perplexo, com medo e reflexivo. Afinal, as vidas de milhões de pessoas estão nas mãos de políticos que nem sempre tomam as melhores decisões, sabem o que fazer ou estão preparados para situações tão intensas quanto essa. Há uma centralização do poder decisório e, quanto maior a crise, mais reduzido é esse núcleo definidor.

Se, por um lado, o filme gerou respostas do Pentágono, que emitiu contestação sobre a capacidade de interceptação e alegou que testes mostram alta taxa de sucesso, a produção do filme contrapôs, dizendo que o enredo aponta cenários mais complexos e vulnerabilidades práticas do sistema. Além disso, o filme contou com consultoria técnica de especialistas em defesa e segurança, entre eles técnicos e ex-oficiais do governo, para fundamentar o texto. No entanto, preferiu não se consultar com o Pentágono para poder manter a liberdade criativa e crítica sobre a dramatização.

Bigelow novamente acerta ao combinar realismo e ficção no intuito de despertar provocações sobre a confiabilidade das defesas nucleares e as decisões humanas sob pressão. A fotografia e a trilha sonora aumentam o impacto da tensão sobre o público, causando uma impressão duradoura.

Filme: Casa de Dinamite
Diretor: Kathryn Bigelow
Ano: 2025
Gênero: Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.