A história parte de uma invenção capaz de revolucionar o setor de energia e, ao mesmo tempo, abrir brechas para ataques a distância. A engenheira Elena desenvolve um dispositivo promissor que, nas mãos erradas, pode provocar mortes instantâneas. Após tentar denunciar os riscos e ser silenciada dentro da empresa, ela se torna alvo de uma rede criminosa internacional. É nesse ponto que o trio entra em ação: “As Panteras” reúne agentes que resgatam Elena, a treinam e a conduzem por uma investigação que passa por encontros furtivos, infiltrações e perseguições em grandes cidades europeias. Dirigido por Elizabeth Banks, o filme tem Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska à frente do elenco principal, e aposta na parceria entre profissionais com habilidades complementares para desmontar o plano de venda da tecnologia.
Logo na apresentação das personagens, o roteiro define perfis sem mistério: Sabina, vivida por Kristen Stewart, atua com ironia e improviso; Jane, de Ella Balinska, domina a parte física e a estratégia de campo; Elena, interpretada por Naomi Scott, funciona como mente científica que precisa aprender procedimentos de proteção e contra-ataque. Essa divisão simples facilita a leitura de cada missão e favorece a dinâmica do grupo, que alterna pequenos conflitos e cooperação. A figura de Bosley, ocupada por Elizabeth Banks em uma das encarnações do cargo, costura repartições da agência e ajuda a deslocar a narrativa por diferentes bases operacionais.
O enredo avança por pistas claras: componentes roubados, contatos ambíguos, executivos interessados em transformar a invenção em produto bélico. As etapas seguem uma lógica de progressão que mantém o interesse pelo objetivo central — neutralizar a ameaça — sem investir em enigmas labirínticos. A opção por explicações diretas às vezes alonga cenas expositivas, mas preserva a clareza para quem busca uma aventura de ritmo constante. Quando o filme acelera, surgem lutas corpo a corpo bem coordenadas, perseguições com mudanças de rota e pequenas armadilhas que pedem reação rápida do trio.
O desenho das protagonistas se apoia em ações concretas. Sabina cria distrações, assume riscos e tira proveito do humor para abrir caminho. Jane pensa em cercos, coberturas e rotas de fuga. Elena aprende a se defender, compreende o alcance do que criou e passa a decidir o destino da própria tecnologia. O trabalho coletivo aparece no compartilhamento de funções e na confiança construída a cada operação. Não há romantização das tarefas: a equipe erra, corrige, adapta o plano e avança. Esse conjunto dá corpo à ideia de que a agência se sustenta menos em gestos heroicos isolados e mais em método de colaboração, com protocolos, redundâncias e troca de informações.
A direção de Elizabeth Banks preserva a série de brincadeiras com disfarces e identidades temporárias, mas evita o olhar que tratava as agentes como adereço. A câmera prioriza habilidades e decisões, com atenção para movimentos de aproximação e retirada que explicam a geografia das ações. Em várias passagens, a montagem privilegia a continuidade do gesto: uma chave passa de mão, uma porta se abre, um dispositivo é ativado e a consequência aparece no quadro seguinte. O diálogo entre ação e comédia nasce desse encadeamento, sem recorrer a piadas soltas a cada minuto.
Entre os destaques do elenco, Kristen Stewart encontra um registro leve que alterna irreverência e foco quando a missão complica. Ella Balinska sustenta cenas físicas com precisão, mantendo o corpo sempre disponível para golpes, defesas e mudanças de direção. Naomi Scott dá a Elena traços de insegurança no início e, aos poucos, impõe firmeza nas escolhas. A química do trio não depende de declarações sobre amizade; ela se revela na prática, quando uma cobre a outra, faz leitura rápida do ambiente e assume a responsabilidade pelo próximo passo.
O antagonista corporativo carece de densidade, e alguns comparsas têm função utilitária. Falta a eles uma lógica interna que escape do desejo de lucro ou vingança pessoal. Ainda assim, a investigação mantém o impulso porque a ameaça técnica é concreta: o dispositivo pode ser vendido em lotes, sem controle, e qualquer comprador com recursos passaria a ter acesso a um modo silencioso de eliminação. Esse dado confere urgência às decisões das agentes e sustenta a gravidade do conflito.
O uso da música popular contemporânea cumpre papel pragmático: energiza deslocamentos, marca entradas e saídas, reforça viradas de humor. Em vez de se impor como protagonista sonora, a trilha atua como ferramenta de ritmo. O design de figurinos atende à lógica de disfarces e trocas rápidas, sem insistir na ideia de espetáculo permanente. A direção de arte privilegia ambientes reconhecíveis — escritórios envidraçados, galpões, hotéis, oficinas —, sempre com pontos de fuga que ajudam a compreender entradas, saídas e linhas de tiro.
Há momentos em que o texto verbaliza o tema da autonomia feminina de modo direto demais, o que desequilibra a naturalidade de certas conversas. Em contrapartida, a presença de diferentes mulheres em postos de comando, logística e campo, e a insistência em protocolos de cuidado, constroem um retrato profissional que não depende de discursos para existir. Essa opção aproxima a aventura de uma ética de trabalho compartilhado, na qual a liderança se move entre funções, conforme a necessidade da missão.
Quando a história se concentra na missão central, o filme alcança seu melhor desempenho. A escolha por planos que mantêm a ação legível e por piadas que nascem da situação assegura fluidez. Quando insiste em reviravoltas previsíveis, perde intensidade. Ainda assim, o fecho do arco de Elena oferece uma consequência clara: a inventora assume a responsabilidade sobre o destino da própria criação e redefine seu lugar dentro da agência.
A produção se coloca como entretenimento que respeita o público e evita promessas de grandeza. O foco está na execução cuidadosa de pequenas operações que, somadas, desarmam uma ameaça com alcance global. Sem apostar em soluções milagrosas, a equipe aprende com falhas e retoma o plano em seguida. Essa persistência, ancorada no trabalho em conjunto, sustenta a aventura e sugere continuidade para novas missões em territórios onde tecnologia e ambição econômica continuam em disputa.
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