“Casa de Dinamite” é uma bomba, e isso é péssimo. Produzido pela Netflix, o novo filme de Kathryn Bigelow virou um forte candidato a mais acachapante decepção do ano, seja a culpa de quem for. Mais conhecida pelo público leigo depois de “Guerra ao Terror” (2008), com o qual ganhou o Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção em 2010, Bigelow esforça-se por reavivar junto ao público a atmosfera de desencanto de seu longa mais exitoso, deixando claro que talvez não tenha mais aquele tirocínio. O bom roteiro de Noah Oppenheim resta inócuo em 112 minutos de uma história em ritmo acelerado, que parece apenas querer encher a tela com o maior número possível de informações e esperar os louros. Acontece que agora a concorrência é muito maior e a barra está bem mais para cima.
Depois de atravessarem a Beltway, a rodovia de 103 quilômetros que circunda Washington, burocratas do primeiro time chegam à Sala de Situação, deixando na entrada celulares e, muitas vezes, também a esperança. Rompe uma nova manhã de trabalho na Casa Branca, sem sobressaltos a princípio, mas sempre um prenúncio do apocalipse. Bigelow dedica alguns minutos a esmerilhar aspectos da vida privada daqueles personagens, escolhendo uma mulher para encabeçar sua análise. A capitã Olivia Walker despede-se do marido e pede que ele a mantenha informada a respeito da evolução da febre de 38 graus do filhinho deles, e corre para o batente. Ela diz que quer ficar, mas na verdade, ela tem urgência da adrenalina que só acha em seu confinamento profissional. E este é um dia de emoções fortes.
Um míssil atômico sai de “algum lugar do Pacífico”, talvez da Rússia ou da Coreia do Norte, e estará em Chicago em quinze minutos. A capitã Walker e sua equipe tem um quarto de hora para neutralizá-lo, correndo contra o relógio para também avisar Reid Baker, o secretário de Defesa e o presidente. Esse núcleo é razoavelmente bem trabalhado por Bigelow, mas erros primários sobrepujam a boa intenção. Jared Harris rouba a cena como um pai atormentado pela culpa que vislumbra uma chance de redenção caso seja capaz de manter a salvo a filha, moradora da Cidade dos Ventos, com quem não se encontra há alguns anos. Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo — como sugere o emaranhado de siglas e acrônimos que pipocam sobre a imagem —, e… Ferguson some inexplicavelmente.
Para segurar a minoria que guarda boas lembranças de “Guerra ao Terror” e “A Hora Mais Escura” (2012), a diretora lança mão de brincadeiras metalinguísticas pouco eficazes para o público não-americano, como a sequência em que cidadãos reconstituem uma das batalhas da Guerra Civil (1861-1865). O espetáculo é assistido por Ana Park, a tradutora de idiomas asiáticos interpretada por Greta Lee, e esse é mais um dos arcos que não se fecham. O desconforto é parcialmente atenuado por Idris Elba na pele do mandachuva da América, adequando-se à conjuntura de tragédia mais e mais iminente e perdidinho, como todo mundo. “Casa de Dinamite” não tem nada do refinamento narrativo de “Guerra Civil” (2024), de Alex Garland, ou mesmo “Tempo de Guerra” (2025), de Garland e Ray Mendoza, e acaba como um imenso trailer, sem dignar-se a fornecer conclusões — o que não seria problema algum, não fosse o jeito estabanado.
É o fim de uma era para Kathryn Bigelow.
★★★★★★★★★★

