99 minutos de gargalhadas: o filme mais hilário, surreal e divertido que você verá neste fim de semana. No Prime Video Divulgação / Amazon Prime Video

99 minutos de gargalhadas: o filme mais hilário, surreal e divertido que você verá neste fim de semana. No Prime Video

Uma professora de improviso em Londres, insegura sobre o futuro e atolada em contas, recebe de um policial a proposta de ensinar bandidos a acreditarem em histórias. A missão pede coragem e sangue-frio: criar personagens, sustentar mentiras úteis, escapar de armadilhas e, se necessário, mudar de rumo sem perder o fio. Sob o título brasileiro “Improvisação Perigosa”, dirigido por Tom Kingsley, a produção reúne Bryce Dallas Howard, Orlando Bloom, Nick Mohammed e Sean Bean em papéis que misturam comédia e crime, com foco na dinâmica de grupo e na arte de fingir com propósito.

O acordo é simples na teoria e arriscado na prática: a professora forma um trio com dois alunos para se infiltrar em uma quadrilha e coletar informação. O policial orienta, mas não garante rede de proteção quando o improviso falha. A cidade aparece como labirinto funcional de pubs, depósitos e corredores de escritório, sem maquiagem turística. A cada encontro, regras mudam conforme a hierarquia local, e pequenos sinais — um apelido dito fora de hora, um olhar que foge — abrem brechas para suspeitas que não se desfazem com facilidade.

O elenco sustenta a proposta. Bryce Dallas Howard constrói a protagonista como alguém que administra ansiedade e liderança, capaz de transformar exercícios de sala em ações de risco calculado. Orlando Bloom compõe um aluno vaidoso e criativo, inclinado a passar do ponto quando percebe plateia. Nick Mohammed oferece senso de timing para o pânico, com reações que expõem inexperiência e boa vontade no mesmo gesto. Sean Bean encarna o policial com humor seco e impaciência, figura que confia na ideia do plano, mas enxerga limites nos amadores com quem trabalha. Esse conjunto garante revezamento de foco e mantém a atenção mesmo quando a trama repete truques.

A encenação valoriza proximidade física e reações rápidas. A fotografia assinada por Will Hanke privilegia interiores apertados e luzes duras de galpão, que comprimem os corpos quando o disfarce ameaça ruir. A montagem de Mark Williams evita confusão espacial em perseguições e negociações de corredor, permitindo localizar quem observa e quem mente em cada situação. A trilha de Daniel Pemberton amarra variações de humor e perigo sem ditar resposta emocional, reforçando passagens de preparo, aposta e fuga. A combinação preserva clareza, qualidade rara em comédias de ação que aceleram sem critério.

O roteiro, creditado a Derek Connolly e Colin Trevorrow com contribuições do duo Ben Ashenden e Alexander Owen, extrai ideias divertidas do choque entre técnica de improviso e submundo. Códigos de cena, palavras-senha, “sim, e…” e regras de escuta ativa aparecem como ferramentas aplicadas a interrogatórios e encontros com criminosos. Quando funcionam, abrem portas; quando falham, expõem o trio ao ridículo e ao risco. A graça brota de equívocos humanos, sem humilhação gratuita, e de uma constatação incômoda: muitas armas do crime organizado são administrativas, não apenas físicas, o que torna a mentira verossímil um ativo cobiçado.

Entre as virtudes, destaca-se o modo como a narrativa trabalha a equipe. A professora aprende a delegar sem perder a liderança; o aluno mais confiante descobre limites ao esbarrar em gente que não ri; o mais hesitante entende que coragem também é saber recuar. Essas pequenas correções de rota, somadas, dão unidade ao trio e sustentam a empatia por personagens que não nasceram para a aventura, mas decidem avançar por necessidade e orgulho. Há, ainda, a habilidade de Kingsley para conduzir diálogos ágeis, com pausas que parecem naturais e pausas que denunciam perigo.

Nem tudo funciona com o mesmo rendimento. Alguns antagonistas são desenhados de forma cartunesca, o que reduz o senso de ameaça em pontos-chave. Determinadas soluções dependem de coincidências e de atalhos logísticos que soam rápidas demais para um ambiente tão vigiado. Em trechos do terço final, a narrativa repete dinâmicas de desconfiança sem acrescentar dados que mudem o curso do plano, o que provoca pequenas quedas de ritmo. Esses percalços não derrubam a proposta, mas deixam marcas perceptíveis quando a história precisaria ganhar densidade dramática.

Os aspectos técnicos contribuem para a sensação de jogo calculado. O desenho de som privilegia vozes e barulhos funcionais — portas, cadeados, passos discretos — e inclui silêncios que pesam mais do que um diálogo mal colocado. A direção de arte preenche salas e armazéns com objetos utilitários, sem excesso de emblemas, o que reforça a ideia de personagens em trânsito. O figurino dos protagonistas se adapta às missões com discrição, ajustando detalhes que passam por roupas de trabalho e peças neutras, recurso plausível quando alguém precisa parecer “de dentro” sem chamar atenção.

No centro está a pergunta sobre até onde se pode ir quando a atuação vira estratégia de sobrevivência. O trio aprende a calibrar mentira e verdade, pois qualquer excesso denuncia interpretação. A professora descobre que a melhor improvisação é a que sabe ouvir, e não a que grita originalidade. O policial entende que talento artístico não substitui protocolo, mas, às vezes, abre portas que força bruta não abre. Esse conjunto de descobertas compõe um retrato leve e, ao mesmo tempo, atento às implicações de brincar com identidades sob vigilância.

“Improvisação Perigosa” funciona como comédia de ação com vocação popular, sem abdicar de observações sobre trabalho, vaidade e cooperação. Quando investe no trio e em suas regras caseiras de sobrevivência, alcança frescor e mantém o interesse por personagens que pensam rápido para não serem desmascarados. Quando força coincidências ou suaviza riscos, perde tração e aproxima a ameaça de um desenho previsível. O saldo favorece a experiência, especialmente para quem se interessa por histórias em que criatividade e responsabilidade caminham juntas e a próxima palavra dita pode custar caro.

Filme: Improvisação Perigosa
Diretor: Tom Kingsley
Ano: 2025
Gênero: Ação/Comédia/Crime
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★