Romance com Hilary Swank que fez mais de 30 milhões de espectadores caírem aos prantos nos cinemas está na Netflix Divulgação / Warner Bros.

Romance com Hilary Swank que fez mais de 30 milhões de espectadores caírem aos prantos nos cinemas está na Netflix


Há filmes que não pretendem reinventar o romance, mas ressignificá-lo sob o peso da perda, e é justamente nesse território frágil entre o amor e o luto que “P.S. Eu Te Amo” encontra sua força. Sob a direção de Richard LaGravenese, o filme parte de uma premissa simples, quase ingênua, para investigar algo que raramente o cinema trata sem ironia ou excesso de sentimentalismo: o que permanece de um amor quando a presença física desaparece. A história de Holly Kennedy, mulher que perde o marido e recebe dele uma série de cartas póstumas, se transforma menos em uma narrativa de superação e mais em um ensaio emocional sobre o processo de reaprendizado, de si, do outro e da própria vida.

Hilary Swank, usualmente associada a papéis dramáticos de resistência física ou moral, encontra aqui uma vulnerabilidade inédita. Sua Holly é uma mulher dilacerada, mas nunca caricatural; há verdade na confusão, na raiva, no desamparo. O filme a acompanha enquanto ela se perde em pequenas lembranças e se reconstrói por meio de rituais afetivos, as cartas de Gerry, interpretado por Gerard Butler, funcionam como bússolas de um luto que não deseja piedade, mas sentido. Cada mensagem que chega pelo correio é uma espécie de lembrete de que o amor pode sobreviver à ausência sem se tornar prisão. A escrita de Gerry não é consolo fácil, mas provocação: ele a impele a viver, mesmo que isso signifique deixá-lo para trás.

O enredo poderia facilmente desabar em lugares-comuns do melodrama romântico, e em muitos momentos parece flertar com isso. Mas há algo curioso na condução de LaGravenese: uma sensibilidade que permite que o humor e a dor coexistam, quase sempre no mesmo gesto. As amigas de Holly, vividas por Lisa Kudrow e Gina Gershon, introduzem uma leveza que não banaliza o sofrimento, apenas o humaniza. A mãe, interpretada com notável contenção por Kathy Bates, oferece o contraponto mais duro: o amor maduro que já aprendeu que perder faz parte de viver. Entre risos e lembranças, o filme evita o tom desesperado das histórias que transformam o luto em espetáculo, preferindo a delicadeza das pequenas reconstruções cotidianas.

Há também um valor inegável na ambientação. A Irlanda não é mero cenário bucólico; ela carrega uma atmosfera quase espiritual, como se o território, verde, úmido e melancólico, refletisse a própria jornada de Holly. A paisagem se torna extensão do que ela sente: a névoa que encobre os campos é a mesma que tolda sua mente, e o sol tímido que surge ao final não é metáfora de esperança, mas de aceitação. A direção de fotografia transforma o luto em uma experiência visualmente tátil, em que cada cor e textura parecem pulsar o resíduo do amor perdido.

O filme também propõe uma discussão sutil sobre gênero. Ao se aventurar no terreno tradicionalmente subestimado das comédias românticas, Hilary Swank desafia o rótulo de “atriz de papéis sérios” e prova que a leveza pode conter profundidade. Sua atuação é construída em nuances: a expressão corporal abatida, a fala entrecortada, o olhar que busca Gerry em lugares onde ele já não está. Butler, por sua vez, ainda que limitado por um sotaque irregular, compõe um personagem encantador pela autenticidade, sem cair na idealização típica do amante falecido. O que os une não é a tragédia, mas o senso de humor, uma espécie de ternura que sobrevive ao tempo.

“P.S. Eu Te Amo” não é um filme que transforma o amor em promessa eterna, mas em experiência finita e valiosa. Ele fala sobre aprender a existir sem o outro, sem negar que o outro foi essencial. É um romance que entende o luto não como um fim, mas como continuidade: uma forma de lembrar enquanto se caminha. Ao final, não há catarse nem revelação milagrosa, apenas a constatação de que o amor verdadeiro não termina, mas muda de lugar.

Talvez seja por isso que, mesmo em seus momentos mais piegas, o filme permaneça tocante. Ele não pretende convencer o espectador da grandiosidade do amor, e sim lembrá-lo de sua fragilidade. E nesse gesto, há uma beleza desarmante, porque amar, como viver, é aceitar que a ausência também faz parte da história.

Filme: P.S. Eu Te Amo
Diretor: Richard LaGravenese
Ano: 2007
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★