Novo filme do Prime Video mistura comédia, mistério, reviravoltas e crime sob o sol da Itália Divulgação / Amazon Prime Video

Novo filme do Prime Video mistura comédia, mistério, reviravoltas e crime sob o sol da Itália

Uma mãe solo e apresentadora digital volta a cruzar o caminho da antiga amiga em um casamento na ilha de Capri, onde alianças frágeis convivem com negócios obscuros e perguntas sem resposta. Em “Outro Pequeno Favor”, Anna Kendrick e Blake Lively retomam Stephanie e Emily sob direção de Paul Feig, agora em um cenário de mar azul, hotéis históricos e festas que escondem acordos. O ponto de partida é simples: um encontro que deveria selar paz e prosperidade reacende o tabuleiro de chantagens e oportunidades, com cada movimentação vigiada por câmeras, celulares e olhares atentos.

O enredo acompanha a tentativa de Stephanie de aproveitar a nova chance profissional e afetiva sem perder de vista as próprias inquietações. Emily, por sua vez, retorna como a figura que prefere falar pouco e agir nos espaços vazios das conversas. Reaparecem velhos conhecidos, entra um círculo de parentes com interesses distintos e aparecem parceiros de ocasião que enxergam vantagem em qualquer mudança de vento. A partir desse grupo, a narrativa distribui pistas e falsos atalhos enquanto capta pequenos gestos que valem mais do que declarações. O resultado é um jogo de dupla face que coloca a amizade como moeda e escudo.

Feig mantém a linha de comédia com crime e aposta em situações de risco tratadas com ironia. A câmera observa as trocas entre as protagonistas e valoriza os diálogos que funcionam como pequenas armadilhas. Kendrick explora a ansiedade de Stephanie com humor autoconsciente, modulando a fala para transformar insegurança em estratégia de sobrevivência. Lively faz de Emily um enigma calculado, cuja presença altera a temperatura da sala sem esforço aparente. Quando dividem cena, as duas sustentam o eixo dramático e puxam o público para a dúvida que move o filme: confiar ou desconfiar de quem conhece nossos hábitos melhor do que nós mesmos.

A ambientação em Capri acrescenta um componente estratégico. As vielas, as escadarias e os terraços ajudam a desenhar perseguições discretas e encontros inesperados. O figurino reforça discursos silenciosos, do terno que afirma controle ao vestido que confunde intenções. Não há exibicionismo gratuito; cada escolha visual sugere posição social, poder de influência e capacidade de se mover entre grupos. O espaço idílico, sempre usado como cartão-postal, torna-se cenário para disputas de herança, contratos criativos e promessas que mudam de preço conforme a plateia. O turismo internacional fornece o pano de fundo para personagens que medem palavras porque qualquer deslize vira notícia.

O roteiro prefere a comédia de engano ao quebra-cabeça lógico. Há idas e vindas que ampliam o universo de suspeitos, com foco em interesses acionários, pautas jurídicas e negócios que usam o casamento como palco social. Em alguns momentos, a multiplicação de subtramas dilui a tensão, especialmente quando coadjuvantes caricatos entram e saem sem impacto proporcional. Mesmo assim, a história recupera a firmeza sempre que volta ao duelo central, que cresce por contraste: uma personagem se esconde no excesso de fala, a outra no silêncio que corta caminho. O efeito é de perseguição em círculos, com cada nova informação alterando o mapa das alianças.

O humor nasce das consequências. Ao invés de investir em choque físico, Feig prefere a hesitação após uma mentira mal contada, o constrangimento diante de uma verdade dita na hora errada e o telefonema que muda a hierarquia da sala. Essa escolha mantém o tom leve sem descolar do risco. O perigo existe, mas costuma chegar com sorriso torto e olhar lateral. Quando a situação aperta, a narrativa pede inventividade às protagonistas, que testam estratégias domésticas para tapar buracos de histórias oficiais. O riso, nessas horas, funciona como ferramenta de avanço, não como descanso.

Os temas que marcaram o primeiro encontro das personagens voltam sob nova luz. A amizade feminina não aparece como idealização, mas como pacto difícil que mistura cuidado e cálculo. A maternidade aparece como responsabilidade real, com horários, culpas e negociações. A ambição é tratada sem moralismo, entendida como mecanismo de proteção e de ascensão. Nesse sentido, “Outro Pequeno Favor” observa como a sociedade premia quem domina as aparências e pune quem erra a etiqueta, mesmo quando o erro é menor que a farsa coletiva. O filme encontra matéria nessas contradições e prefere comentar relações de poder em pequenas cenas de convivência.

A direção confia na química do par central e constrói ao redor trilhos claros para o público acompanhar mudanças de rota. A edição sustenta os truques com cortes que privilegiam reação e suspeita, enquanto a trilha musical aciona referências de glamour pop para colorir o ambiente. Nada se impõe como protagonista absoluto. Imagem, som e atuação trabalham para a mesma ideia de jogo social. Quando tudo ameaça dispersar, uma nova troca entre Stephanie e Emily recoloca o foco, sinalizando que é nesse eixo que está a força de repetição desejada pela produção.

Comparado ao filme anterior, o novo capítulo troca a malícia suburbana por um playground internacional, com a promessa de lucros rápidos e atenção constante de fotógrafos e influenciadores. O deslocamento muda o tipo de risco: menos vizinhos curiosos, mais contratos e cláusulas. Essa atualização ajuda a diferenciar a sequência sem romper com o que motivou o encontro inicial das duas mulheres. A habilidade de sobreviver no caos continua sendo moeda valiosa, e o charme de uma mentira bem contada permanece arma de primeira linha quando o objetivo é sair inteira.

As reviravoltas acumulam pistas num ritmo que valoriza deduções de curto alcance. O desenho das soluções evita explicações longas e confia que a plateia acompanhe por observação. Em alguns trechos, certos acordos parecem fáceis demais, o que pode frustrar quem busca rigor absoluto na investigação. Ainda assim, o filme preserva o interesse ao manter a disputa emocional em primeiro plano, com as personagens medindo poder enquanto se protegem. O resultado final prefere abrir portas a consolidar sentenças definitivas, sugerindo que a dupla pode retornar quando um novo convite transformar a promessa de paz em mais um caso para administrar.

Filme: Outro Pequeno Favor
Diretor: Paul Feig
Ano: 2025
Gênero: Comédia/Crime/Mistério/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★