Quando Agatha Christie encontra Hitchcock: mistério com Keira Knightley chega à Netflix Parisa Taghizadeh / Netflix

Quando Agatha Christie encontra Hitchcock: mistério com Keira Knightley chega à Netflix

Com roteiro de Joe Shrapnel e Anna Waterhouse, “A Mulher na Cabine 10”, dirigido por Simon Stone, é uma adaptação do best-seller de Ruth Ware, lançado em 2016. Apesar dos esforços da equipe criativa para manter o filme fiel ao original, trechos essenciais da trama foram alterados para compactar e, também, reorganizar as reviravoltas, visando um desfecho mais cinematográfico. Ware foi informada das mudanças e as aprovou antes do início das filmagens.

Gravado de dentro de um iate real, chamado Savannah, embarcação de alto padrão, a produção sofreu com algumas limitações logísticas, incluindo condições meteorológicas adversas (mar frio e agitado) e regras de conservação do casco e do interior da embarcação, além de atores e equipe técnica lidando com enjoo de mar e claustrofobia, entre outras dificuldades.

Alfred Hitchcock, obviamente, foi uma das inspirações tonais do filme. Sua utilização de corredores estreitos, o uso frequente de janelas e portas de vidro e a combinação do luxo com a violência foram algumas das referências retiradas do mestre do suspense. No enredo, Keira Knightley interpreta Laura Blacklock, uma jornalista convidada para participar de uma curta viagem a bordo do iate, recém-adquirido pelo bilionário Hannah Waddington (Guy Pearce). Com convidados restritos da alta sociedade, o passeio é uma espécie de despedida de Anne (Lisa Loven), companheira do anfitrião, que está com uma doença terminal.

Acompanhamos tudo do ponto de vista de Laura, que não é uma narradora confiável. Para comprometer ainda mais sua narrativa, Laura passou recentemente por eventos traumáticos e ainda se encontra fora de um ambiente acolhedor. Isso fica muito claro no começo do filme, quando os outros convidados fazem críticas às suas escolhas de roupas, como se ela estivesse sempre “inadequada”. O elenco de apoio forma um conjunto de suspeitos, elemento tradicional do gênero whodunit.

Na primeira noite a bordo, Laura testemunha o corpo de uma mulher sendo arremessado do iate. Ela chama por socorro, mas, quando se inicia a investigação, percebe-se que a mulher descrita por Laura supostamente nunca existiu. Ela acredita que a vítima estava na cabine 10, mas a tripulação afirma que o local está vazio e nunca recebeu convidados.

Laura, que já não havia sido bem recebida pelos outros convidados, passa a ser vista como inconveniente, louca e problemática. Desacreditada por todos, ela precisa provar que a cena que afirma ter visto realmente aconteceu. A montagem rápida, com cortes que aumentam o ritmo da trama, sacrifica a construção de um suspense mais tenso e profundo. Com um desfecho que entrega informações rápido demais, o filme foi considerado narrativamente fraco por críticos. De fato, o espectador não tem muito tempo para tentar descobrir o possível suspeito.

A composição da fotografia é simétrica e minimalista, valorizando o luxo e explorando vidros e reflexos para refletir a dupla realidade: aquela que existe e a que está sendo manipulada. Apesar das avaliações negativas na mídia, o longa-metragem se mantem firme no Top 10 da Netflix em sua semana de lançamento. À título de curiosidade, o orçamento foi de aproximadamente 25 milhões de dólares, sendo que um dos maiores custos do filme foi relativo à logística das gravações em um iate.

Filme: A Mulher na Cabine 10
Diretor: Simon Stone
Ano: 2025
Gênero: Crime/Mistério/Psicológico
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.