O melhor filme de ação de 2025, até agora, chegou sob demanda ao Prime Video Divulgação / Eighty Two Films

O melhor filme de ação de 2025, até agora, chegou sob demanda ao Prime Video

Hutch Mansell tenta transformar uma viagem em descanso com a esposa e os filhos, mas a pausa se desfaz quando um esquema criminoso local invade o cotidiano e expõe a fragilidade da normalidade. Em “Anônimo 2”, a cidade depende de um parque temático cansado, vitrine de promessas falidas e alianças oportunistas que confundem diversão com negócio de porões. O ex-assassino, hoje pai em busca de rotina confiável, identifica sinais de perigo em detalhes que outros ignoram, e a antiga habilidade cresce novamente no corpo. Com Bob Odenkirk, Connie Nielsen, RZA, Christopher Lloyd, John Ortiz, Colin Hanks e Sharon Stone, sob direção de Timo Tjahjanto, a narrativa trata o retorno de Hutch como uma prova de caráter diante das tentações do passado.

O ponto de partida não complica: férias, família, um lugar que vende felicidade por ingresso e a percepção de que conflitos pequenos escondem uma rede mais ampla de extorsão e conluio. Odenkirk combina graça seca e exaustão controlada, equilibrando um corpo que carrega lembranças de dor com um olhar treinado para medir distâncias, saídas e superfícies úteis. Connie Nielsen faz de Becca uma parceira lúcida, atenta ao risco de conviver com alguém que protege os seus, ainda que isso convoque forças que não cabem no cotidiano. O casal se observa com afeto e receio, e esse atrito mantém acesa a pergunta sobre até onde a família suporta viver sob alerta.

Tjahjanto prioriza clareza espacial. As lutas nascem de decisões visíveis e consequências audíveis, sem cortes que escondem impacto. A câmera acompanha o corpo, não a pirotecnia, e organiza trajetórias que começam em um olhar e terminam em objetos banais convertidos em defesa. Bancos, corrimãos, placas e portas trocam de função quando o combate exige improviso. O humor aparece da precisão desses usos e do contraste entre a fadiga do protagonista e a eficácia que insiste em retornar. O riso não dilui a ameaça; serve de respiro que mantém a atenção no que está por vir.

Os antagonistas reforçam esse desenho pragmático. John Ortiz e Colin Hanks representam a ambição provinciana que cresce em ambientes onde todo mundo se conhece e quase ninguém responde pelos atos. Sharon Stone cria uma chefia fria, sedutora e prática, capaz de definir o rumo da cidade quando a violência passa do limite tolerado pelos cúmplices. A vilania evita a caricatura total ao conservar lógica própria, mesmo que algumas motivações recebam menos tempo do que merecem. Em confronto com Hutch, esses personagens revelam como o poder local prospera com gestos pequenos e a sensação de impunidade.

O roteiro prefere economia. Em vez de explicações longas, coloca o protagonista diante de impasses que exigem reação imediata. O efeito é um andamento que avança sem alarde e preserva a tensão do presente. Certos laços, porém, ficam apenas sugeridos. Há sinais de distância entre Hutch e a família que pediriam maior desenvolvimento, e algumas consequências se dissipam com rapidez após choques intensos. Ainda assim, o foco contínuo nas decisões do momento preserva o interesse e confirma que a normalidade depende de escolhas feitas sob pressão.

A comparação com o primeiro filme é inevitável. A memória central anterior foi a briga do ônibus, que condensava descoberta e reinvenção do personagem. Aqui, a aposta recai sobre variedade e ritmo. Em vez de perseguir um único momento monumental, a narrativa apresenta sucessivas situações que exploram cantos, passagens técnicas e atrações desativadas do parque. O espaço, gasto e ainda funcional, funciona como um manual improvisado de defesa, no qual a criatividade importa mais do que a perfeição. O resultado privilegia soluções ao alcance da mão e confirma que a cidade inteira pode virar um arsenal oportunista.

Odenkirk sustenta esse projeto com um corpo que acusa o tempo e um rosto que domina o sarcasmo. Ele evita o heroísmo blindado. Aceita o tropeço, erra o cálculo, cai, levanta e continua. A graça nasce da honestidade dessa presença, que se alinha à preferência de Tjahjanto por enquadramentos que registram reação e consequência. Connie Nielsen acompanha esse deslocamento com firmeza e transforma Becca em referência moral que não ignora o risco. RZA e Christopher Lloyd retornam como ecos de uma história que insiste em bater à porta, lembrando que a rede de afetos de Hutch não se limita ao lar e pode tanto ajudar quanto complicar.

A música costura tensão e alívio sem tomar a dianteira. A montagem preserva o caminho do olhar e evita confusão quando o cenário oferece distrações por todos os lados. Essa clareza funciona como escolha estética e também como regra ética: o público entende onde cada personagem está, o que pode fazer e qual preço paga por cada passo. Quando o humor cresce, a dor não vira piada cruel. O riso aparece como ferramenta de sobrevivência e permite respirar antes da próxima pancada.

Nem tudo convence. Um ou outro coadjuvante se comporta como peça descartável, e a cidade, com suas instituições, às vezes se reduz a silhuetas. Essas limitações não apagam o interesse de ver Tjahjanto dialogar com um universo que pede espetáculo e encontra na fisicalidade sua via principal. Em vez de anunciar uma reinvenção total, “Anônimo 2” consolida uma identidade baseada em ação legível, ironia controlada e observação de uma família que tenta preservar rotinas enquanto o passado melhora a mira para acertá-las novamente.

O desfecho resiste a respostas fáceis. Hutch continua dividido entre o abrigo doméstico e a atração por um mundo que sempre o reconhecerá como ferramenta útil. Resta a impressão de que a promessa de normalidade precisa ser renovada diariamente, e que qualquer nova viagem exigirá outros acordos entre quem ele foi e quem tenta ser.

Filme: Anônimo 2
Diretor: Timo Tjahjanto
Ano: 2025
Gênero: Ação/Comédia/Crime/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★