O conflito central é impedir que uma organização elimine crianças usando disfarces e uma fórmula distribuída como guloseima. Em “Convenção das Bruxas”, Anjelica Huston, Jasen Fisher, Mai Zetterling e Rowan Atkinson conduzem um embate que cresce de um encontro casual até uma operação de sabotagem. A direção de Nicolas Roeg amarra o avanço dramático a decisões explícitas. Cada passo encurta o tempo disponível, amplia o risco e redefine o objetivo imediato.
O protagonista, um menino que perdeu os pais, viaja com a avó em busca de descanso. A rotina muda quando a idosa apresenta sinais concretos para reconhecer as inimigas. A partir desse repasse, a história sai do terreno do boato e entra no campo do protocolo de sobrevivência. O garoto aceita a informação como guia e decide observar. Essa decisão abandona a segurança do quarto de hotel e cria a primeira cadeia de consequências, exposição a vigilância, proximidade de desconhecidas hostis e necessidade de rotas de fuga.
A reunião fechada em um salão do hotel fornece a virada estratégica. Ali, a personagem de Anjelica Huston descreve metas, instruções e prazos para suas seguidoras. O que para elas é celebração vira, para o herói, documento vivo do crime. O plano de distribuição por lojas de doces dá escala nacional à ameaça e impõe urgência à resposta. Não basta fugir, é preciso interceptar a cadeia antes que saia daquele centro de convenções. A meta do menino muda, ele passa de sobrevivente para agente ativo de sabotagem, sempre apoiado pela avó, que combina experiência e sangue frio.
Quando o garoto é capturado e transformado em um pequeno animal, o ponto de vista muda de forma objetiva. O corpo reduzido redefine espaço e risco. Corredores ficam mais longos, rodapés viram passagem, portas se tornam muralhas. A mudança física limita recursos, mas cria uma vantagem tática, circular despercebido por frestas e por baixo de móveis. Essa adaptação não é ornamentação de cena. Ela altera informação disponível, linha de visão e velocidade de resposta. Com esse novo corpo, o herói consegue mapear cozinhas e depósitos sem ser notado. Volta à avó com dados verificáveis, horários, trajetos e recipientes. O par decide então atacar o ponto por onde todo alimento passa.
A escolha da cozinha como base de ação obedece à lógica do fluxo. Pratos saem de lá para todo o hotel. Se a substância da organização chegar ao preparo, a reação se espalha. Essa decisão segmenta a missão em tarefas de alto risco e baixa visibilidade, alcançar prateleiras, identificar frascos, cruzar pisos escorregadios, evitar mãos apressadas de cozinheiros. A presença do gerente, papel de Rowan Atkinson, acrescenta um obstáculo paralelo. Ele não conhece a guerra secreta, mas seu zelo pelo estabelecimento introduz inspeções e ordens que podem desmontar o plano por acidente. Em termos de ritmo, as passagens de infiltração aceleram, não para ornamentar, e sim para representar a contagem real de segundos que separa sucesso de descoberta.
Os diálogos servem ao avanço factual. A líder dita instruções a suas seguidoras e, sem querer, expõe o calendário que orienta o contra-ataque. A avó, interpretada por Mai Zetterling, evita falas decorativas. Quando fala, define tarefas. Diz onde esperar, quando recuar, como esconder frascos e por que certos passos precisam ocorrer na ordem indicada. Essa economia reforça a checagem jornalística do enredo, tudo que importa aparece em ação posterior. O vínculo afetivo entre neto e avó não é proclamado, é comprovado por gestos, esconder, conduzir, dividir riscos. A cada confirmação, o espectador entende por que a dupla prioriza precisão a bravatas.
As atuações deslocam peso de cena com escolhas que mudam informação. Anjelica Huston apresenta liderança que convence seguidoras e intimida o ambiente. Sua entrada em qualquer sala reorienta olhares e define onde o perigo se concentra. Jasen Fisher sustenta a curva do menino que pensa sob pressão, aprende rápido a usar o novo corpo e transforma limitação em ferramenta de espionagem. Mai Zetterling dá credibilidade ao plano pela postura de quem já enfrentou esse inimigo e sabe medir dano e oportunidade. Rowan Atkinson, como gerente, injeta uma camada de controle institucional que complica a missão sem precisarmos de conflitos paralelos desnecessários.
A estrutura narrativa se distribui em quatro blocos, apresentação das regras de identificação, descoberta do plano no hotel, infiltração com objetivos específicos e confronto em área comum. As elipses encurtam deslocamentos e mantêm a progressão focada. A escalada de risco é mensurável. Começa com curiosidade, avança para prova, atravessa a perda do corpo humano e alcança a execução de um plano com margem mínima para erro. O ponto alto ocorre no salão principal, diante de convidados que desconhecem a guerra em curso. A ação decisiva desencadeia desordem entre as seguidoras, pânico entre presentes e uma janela curta para consolidar vantagem. A resolução do conflito permanece preservada. Importa registrar que a decisão tomada ali cobra preço imediato e exige controle emocional para que a vantagem tática não se perca.
A direção de Nicolas Roeg aciona mudanças visuais só quando isso altera leitura. Quando a líder retira o disfarce perante o grupo, a sequência não é mera maquiagem, é prova que elimina dúvida e reposiciona toda aproximação futura no hotel. Quando a câmera acompanha o protagonista já transformado, rebaixa a altura do olhar e troca o mapa do cenário. O que era corredor vira campo aberto com riscos de todos os lados. Isso muda foco e prioriza obstáculos concretos, sapatos, rodapés, panelas, toalhas pendentes.
O som também opera como ferramenta de informação. Em infiltrações, a trilha recua e deixa passos, metais e portas assumirem a dianteira. Essa escolha alonga a percepção de tempo e ajuda a medir distâncias e ameaças fora de quadro. O humor aparece quando pratos caem, hóspedes se atrapalham e o gerente intervém. Não anula tensão. Funciona como barulho útil para encobrir deslocamentos do herói e distrair antagonistas.
Como jornalismo de enredo, “Convenção das Bruxas” mantém coerência e transparência. Objetivos são claros, obstáculos possuem forma e prazo, decisões geram efeitos verificáveis. A vitória possível depende de informação certa, uso inteligente do espaço e parceria entre gerações. Nada resolve por truque gratuito. Cada avanço tem custo e toda vantagem precisa ser confirmada no passo seguinte. Essa ética de ação sustenta o interesse do primeiro ao último minuto e oferece uma narrativa que respeita o público ao tratar causa e efeito como regra, não como adereço.
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