Quem nunca quis mudar o mundo? O desencanto político e o cinismo generalizado é algo mundial, mas o cinema continua sendo um espaço onde o inconformismo encontra fora, voz e propósito. Histórias que celebram o espírito revolucionário, seja por meio da denúncia, da resistência silenciosa ou da rebeldia aberta, não se limitam a mostrar heróis grandiosos, as indivíduos comuns empurrados ao limite, que descobrem na ética, coragem e verdade os últimos recursos contra sistemas que os querem submissos.
A Revista Bula selecionou na Netflix filmes que lembram que questionar ainda é um ato político. O que une essas obras é a recusa em aceitar o mundo coo ele é. Histórias que atravessam tribunais, redações, salas de aula, sedes corporativas e instituições falidas, revelando o quanto a estrutura social depende do silêncio de quem sofre e da conveniência de quem lucra. Cada protagonista é uma faísca: alguém que, diante da injustiça, escolhe agir mesmo quando sabe que perderá.
Essa chama revolucionária, que se manifesta de formas diferentes em cada filme, é também um retrato da persistência humana. A luta pela dignidade é sempre a mais radical das formas de esperança. Esses filmes te convidam a refletir. Eles mostram que palanques, muitas vezes, surgem quando o individuo percebe que não pode mais compactuar com o absurdo.
Robert Viglasky / NeflixUm educador emocionalmente exausto tenta manter o controle de um reformatório britânico em meio a cortes de verba, abandono estatal e adolescentes à beira do colapso. Assombrado por um trauma pessoal, ele luta para salvar jovens que já foram descartados pelo sistema. Entre rebeldia, dor e frustrações acumuladas, o protagonista se vê diante da falência institucional e de sua própria esperança. A cada dia, sua batalha se torna menos sobre disciplinar e mais sobre resistir, a si mesmo, ao álcool, ao desespero e a um mundo que parece indiferente ao sofrimento humano.
Glen Wilson / NetflixUma deputada norte-americana decide concorrer à presidência dos Estados Unidos nos anos 1970, desafiando o racismo e o machismo enraizados na política. Sua candidatura improvável inspira uma geração, mas também a expõe a ataques implacáveis e à solidão do pioneirismo. Entre alianças quebradas e discursos incendiários, ela transforma a luta individual em um ato coletivo de resistência. O filme acompanha o preço de desafiar o poder, e a coragem necessária para abrir caminho onde nunca houve espaço.
Divulgação / NetflixUm grupo de cidadãos comuns, arruinados por práticas abusivas do sistema financeiro, decide se unir para enfrentar os grandes bancos que os enganaram. Entre reuniões comunitárias e manifestações improvisadas, eles transformam a indignação em ação concreta, desafiando advogados, executivos e a lógica de impunidade que protege os poderosos. À medida que a mobilização cresce, os protagonistas percebem que sua luta é maior do que a perda material: trata-se de recuperar a dignidade e provar que o poder pode, sim, vir de baixo. Em meio à ironia e à raiva, o filme revela o quanto a solidariedade é, ainda hoje, a forma mais pura de revolução.
Divulgação / MaxUma jovem analista de inteligência é interrogada pelo FBI após vazar informações confidenciais do governo. O filme, baseado em transcrições reais, se passa quase inteiramente dentro de uma casa comum, onde o silêncio e a tensão revelam mais do que qualquer grito. À medida que o cerco se fecha, a protagonista tenta defender sua consciência diante da máquina estatal. O confronto entre dever e moralidade transforma o cotidiano em campo de batalha, e a verdade em uma arma de alto risco.
Divulgação / Focus FeaturesUm policial negro do Colorado decide se infiltrar em uma organização supremacista branca nos anos 1970. Fingindo ser um dos membros e usando um parceiro branco como fachada, ele expõe o racismo estrutural e o fanatismo travestido de patriotismo. A investigação se transforma em um jogo de risco e inteligência, onde cada ligação telefônica e cada encontro são um passo em direção à revelação, e ao perigo. Entre o humor ácido e a tensão crescente, a história questiona até que ponto o sistema permite que a verdade venha à tona.
Glen Wilson / Sony PicturesUm advogado idealista passa a vida defendendo causas de justiça social, mas seu rigor ético entra em choque com a realidade corrupta do sistema jurídico. Quando o sócio morre e ele precisa lidar com uma nova firma voltada ao lucro, suas convicções começam a ruir. Entre o desejo de permanecer íntegro e a tentação do pragmatismo, ele se vê preso num dilema moral que o obriga a escolher entre sobrevivência e princípio. Sua luta interna é o retrato de um ativismo solitário em um mundo que já não valoriza a retidão.

