Um dos filmes mais aguardados dos últimos anos, mal saiu dos cinemas e já chegou ao HBO Max Divulgação / Warner Bros. Pictures

Um dos filmes mais aguardados dos últimos anos, mal saiu dos cinemas e já chegou ao HBO Max

A primeira imagem narrativa situa um teatro de guerra entre Borávia e Jarhanpur, com uma intervenção que altera a balança e reposiciona forças diante do mundo. Essa iniciativa provoca um vazio estratégico que um antagonista atento transforma em oportunidade, deslocando o conflito do campo físico para o campo da informação, da edição e da transmissão. O herói, colocado sob câmeras e pressão política, passa a responder não apenas pela eficácia da ação, mas pela legitimidade do gesto. É a partir desse ponto que “Superman” entra como peça do próprio debate, pois cada cena, a partir daqui, conecta objetivo, obstáculo e efeito público sem atalhos.

O primeiro revés concreto ocorre quando um metahumano apresentado como Martelo de Borávia derrota o protagonista em Metrópolis e obriga a retirada para a Fortaleza da Solidão. Ali, um arquivo incompleto dos pais biológicos contém meia resposta sobre a origem do herói. A informação parcial vira munição para o antagonista, que entende que completar a mensagem pode inverter o sentido do passado e corroer o presente. Ao acionar a Engenheira para invadir a Fortaleza, capturar Krypto e reparar o arquivo, ele organiza uma linha causal clara: se a mensagem for remontada e divulgada sem contexto, a cidade mudará de leitura e a confiança cairá.

Enquanto isso, um monstro gigantesco devasta Metrópolis. A criatura não cumpre função apenas visual. Na prática, dispersa recursos, ocupa telas e cria barulho informacional que favorece a emissão do arquivo restaurado. A equipe de apoio atua em paralelo, com Lanterna Verde, Mulher-Gavião e Senhor Incrível em frentes distintas. A montagem alterna os eixos, mas regula o ritmo pela prioridade de informação: o que decide o conflito é quem controla o conteúdo kryptoniano e com que moldura ele chega ao público. Quando a Engenheira conclui o reparo e o antagonista divulga a parte oculta, a cidade recebe a frase ausente com viés acusatório, e a opinião vira. Um aliado elimina a criatura que o herói tentava capturar viva, e esse contraste amplia a suspeita de critérios confusos.

Pressionado, o protagonista procura o adversário e deixa a irritação dominar, o que só acelera o desgaste. Para interromper a espiral, ele se entrega às autoridades. A aposta é de alto risco: transparência pode recompor confiança, mas também expõe vulnerabilidades. O efeito imediato revela que a prisão foi arquitetada pelo próprio vilão dentro de um universo de bolso, onde a escala de poder muda. Sem vantagem física, o herói precisa negociar e improvisar. Luthor coage Metamorfo por meio do sequestro do bebê do personagem e o obriga a produzir kriptonita, enquanto conduz um interrogatório que termina com o assassinato de Malik Ali. O crime introduz custo humano incontornável e altera a bússola de Metamorfo. Repulsa vira decisão; decisão vira ruptura; ruptura vira plano de fuga.

Fora da cela, Lois Lane sustenta a investigação. Ela pressiona aliados, convence Senhor Incrível a atravessar para o universo de bolso e localiza os desaparecidos. A operação combinada resgata Krypto, Joey e o próprio herói. Uma elipse conduz à fazenda dos Kent, onde Jonathan afirma que identidade não se explica por frases de arquivo, mas por escolhas observáveis. A cena não oferece consolo abstrato; redefine o objetivo imediato. A questão deixa de ser provar origem e passa a ser provar conduta. O passo seguinte é conectar o antagonista a Borávia, identificar fabricação de crise e reconstruir confiança com evidência.

O elo surge quando Eve Teschmacher, envolvida com Luthor e próxima de Jimmy Olsen, entrega provas do conluio. O efeito é instantâneo. O vilão aprisiona Eve e abre, no centro de Metrópolis, um portal instável para o universo de bolso, partindo a cidade ao meio. O gesto mantém coerência com o padrão já mostrado: caos visível ajuda a consolidar a narrativa de ameaça. A resposta estratégica divide frentes. Mulher-Gavião, Lanterna Verde e Metamorfo seguem para deter nova ofensiva boraviana. Na cidade, o herói confronta Engenheira e Martelo, cuja identidade verdadeira se revela como Ultraman, clone criado por Luthor para fabricar um rival sob medida e controlar a história por meio de antagonistas desenhados ao seu interesse.

A revelação fecha um arco temático. O vilão não apenas manipula dados; produz fatos convenientes. Krypto participa do confronto de forma decisiva, desequilibrando o duelo contra o clone. Senhor Incrível trabalha para fechar a anomalia que ameaça engolir o centro urbano. O clímax organiza simultaneidades sem confundir objetivos: salvar civis, neutralizar a tecnologia e restituir confiança são metas encadeadas. Cada escolha em uma frente interfere na outra. À medida que a fenda cede, o caminho para tornar públicas as provas contra Luthor se abre e a narrativa prepara a recomposição do pacto com a cidade.

Na fronteira externa, a ofensiva termina quando Mulher-Gavião executa Ghurkos. A decisão encerra a ameaça militar e adiciona tensão ética entre aliados, que não é descartada. O peso dessa escolha atravessa a dinâmica do grupo e compõe a aprendizagem que justificará a permanência de Metamorfo ao lado do herói. A lógica permanece íntegra: sem a morte de Malik Ali, não haveria ruptura de Metamorfo; sem a ruptura, a equipe seria menor no momento mais crítico; com a equipe reduzida, o desfecho teria custo diferente.

As consequências finais se distribuem por três esferas. Na jurídica, provas publicadas por Lois e Jimmy sustentam a responsabilização de Luthor e de cúmplices, encerrando a crise como caso de lei, não de vendeta. Na política, a cidade revisa a confiança no herói com base em evidência, não em discurso. Na afetiva, o diálogo franco entre Lois e Clark recompõe o vínculo num patamar compatível com a ética de transparência que a história cobrou de ponta a ponta. Eve é libertada do universo de bolso, o que resolve a pendência aberta no momento da delação. O cotidiano retorna sem grandiloquência e com rastro concreto de decisões que custaram caro.

Os diálogos que importam funcionam como gatilhos de ação. A entrevista inicial de Lois, ao questionar a legalidade da intervenção estrangeira, força o protagonista a medir risco político junto do risco físico. A conversa com Jonathan, na fazenda, recentra a narrativa em responsabilidade e evidência. A confissão antes da rendição altera o risco ao apostar que a investigação jornalística sustentará a verdade. Não são trocas ornamentais; movem objetivo, mudam prioridade e definem rota.

A encenação muda foco quando serve à informação. A transmissão do arquivo restaurado coloca público e personagem sob o mesmo bombardeio de dado editado e mostra como molduras alteram sentido. O universo de bolso reduz ferramentas e impõe escolhas de fuga e negociação. A captura de Krypto não é adereço; sem ela, o vilão não criaria vantagem emocional nem conseguiria o reparo do arquivo no tempo ideal para o golpe público. A montagem alterna cidade partida e fronteira externa para explicitar prioridades: primeiro conter dano humano, depois neutralizar a engenharia do antagonista, em seguida restituir confiança com publicação de provas.

Em termos de estrutura, a apresentação se apoia na sequência intervenção, queda, busca de cura e de informação. O desenvolvimento gira em torno de posse e circulação de dados. As viradas decorrem de atos verificáveis: restauração da mensagem, transmissão pública, prisão no universo de bolso, delação com documentos, abertura e fechamento do portal. O desfecho costura prisões, recomposição pública e reconciliação afetiva. Não há facilidades sem custo. A morte de Malik Ali reposiciona Metamorfo. A execução do kaiju tensiona alianças. O clone expõe a ética do antagonista. Tudo retorna ao ponto de partida: uma decisão unilateral em palco internacional tem preço alto, e somente prova consistente repara a confiança.

Ao tratar credibilidade como consequência de atos visíveis, “Superman” afirma que origem não define caráter. Quem define é o encadeamento de escolhas sob escrutínio. A narrativa sustenta esse argumento ao explicar o que acontece, por que acontece e o que decorre depois, organizando uma discussão atual sobre responsabilidade pública num mundo em que tudo deixa rastro e toda versão encontra contestação.

Filme: Superman
Diretor: James Gunn
Ano: 2025
Gênero: Ação/Aventura/Épico/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★