Fantasia de mistério com Julianne Moore e Jeff Bridges acabou de chegar à Netflix e já entrou para o Top 10 mundial Divulgação / Warner Bros.

Fantasia de mistério com Julianne Moore e Jeff Bridges acabou de chegar à Netflix e já entrou para o Top 10 mundial

Desde a antiguidade, narrativas sobre seres mitológicos e os indivíduos excepcionais que conseguem estabelecer com eles alguma conexão caem no gosto do público. Poderes ocultos que desafiam a razão e constituem um atalho do humano para o divino tornam-se  uma metáfora acerca da força que paira entre o céu e a terra, revelando grandeza por trás de uma aparente fragilidade. O problema sempre foi discernir o que levaria ao bem dos tantos logros do demônio, e essa singela questão supera o entendimento de muitos, despertando também o interesse de quase todos. Joseph Delaney (1945-2022) era um obcecado pelo assunto, e nas 224 páginas de “O Aprendiz: As Aventuras do Caça-Feitiço” (2004) destrincha algumas das várias nuanças do sobrenatural ao criar uma dinastia de bruxos que opera nas sombras, onde habita uma legião de outras criaturas, tão enigmáticas quanto perigosas. Sergei Bodrov faz de “O Sétimo Filho” uma versão aplicada do livro de Delaney, apostando nos efeitos especiais que costumam hiptonizar a audiência. Mas falta alguma coisa.

Tudo tem a essência de um conto de fantasia medieval involuntariamente satírico. Nossa história começa no vilarejo por onde passam de tempos em tempos caçadores de bruxas, fantasmas e cavaleiros de ordens sagradas secretas, entre os quais se destaca Mestre Gregory, uma figura imponente, mas debochada, habitante das duas dimensões, a física e aquela além-túmulo. Gregory tenta capturar Mãe Malkin, a feiticeira suprema, dama dos sortilégios, mais poderosa a cada século que vira. Para ser verdadeiramente indestrutível, Malkin precisa esperar a terrível noite da lua de sangue, quando as entidades demoníacas reúnem-se numa aliança para estender seus domínios. É impossível ver Jeff Bridges e Julianne Moore juntos e não pensar em “O Grande Lebowski” (1998), com Gregory e Malkin na pele de uma reedição carnavalesca dos protagonistas do thriller nonsense de Ethan e Joel Coen. Bridges e Moore sabem que o segredo aqui é não se levar a sério e chutam o balde em atuações excêntricas e farsescas. Tem lá sua graça, mas não satisfaz.

O eixo do filme gira em torno da busca de Gregory pelo sétimo filho de alguém que tenha visto a luz do mundo depois de seis irmãos. Thomas Ward é esse candidato a messias, inspirando todas as atenções do velho bruxo, que chega a ele e o arrasta para a missão de aniquilar Malkin, enfrentando ainda habilidosos espadachins, homens-ursos e um monstro voraz, tão cego quanto um morcego, mas munido de um faro infinitamente melhor que o do cão mais esperto. Bridges deveria servir de escada a Ben Barnes, mas o que acaba por acontecer é o oposto, e Gregory domina a cena com tiradas autoirônicas sobre sua peculiar condição de transitar de um mundo para o outro sem a menor chance do descanso eterno, obrigado a perseguir a criatura por quem fora apaixonado em alguma quadra do tempo. A propósito de paixão, Alice Deane, a aspirante a bruxa por quem Thomas deixa-se enfeitiçar, chacoalha o marasmo da segunda metade até o desfecho, porque Alicia Vikander supera as expectativas, como é do seu feitio. Com certo esforço, acham-se uns coelhos nessa cartola.

Filme: O Sétimo Filho
Diretor: Sergei Bodrov
Ano: 2014
Gênero: Aventura/Fantasia
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.