A Revista Bula reuniu cinco obras que se distinguem não apenas pelo enredo, mas pela forma como traduzem sentimentos universais em imagens. São produções que atravessam décadas e estilos, oferecendo ao espectador a experiência rara de encontrar beleza em narrativas que falam de amizade, liberdade, empatia, amadurecimento e memória.
De Peter Weir, “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) permanece como um retrato atemporal da juventude diante de regras rígidas e sonhos proibidos. Já “A Incrível História da Ilha das Rosas” (2020), dirigido por Sydney Sibilia, recupera a ousadia de um engenheiro italiano que decidiu construir, em pleno Adriático, uma ilha livre de convenções.
No cinema norte-americano recente, “Um Lindo Dia na Vizinhança” (2019), de Marielle Heller, apresenta Tom Hanks no papel do lendário Fred Rogers, e revela como a gentileza pode confrontar o ceticismo moderno. Da Bélgica vem “Close” (2022), de Lukas Dhont, um delicado estudo sobre amizade adolescente e as pressões sociais que a ameaçam. Por fim, “Blue Jay” (2016), de Alex Lehmann, aposta na intimidade de um reencontro entre antigos amantes, filmado em preto e branco, para explorar a melancolia das escolhas passadas.
A seleção não pretende esgotar possibilidades, mas propor um percurso. Esses cinco títulos lembram que o cinema pode ser contemplativo sem perder força narrativa, e que a beleza, quando bem trabalhada, continua sendo um dos caminhos mais convincentes para emocionar.

Léo e Rémi, dois meninos de 13 anos, compartilham uma amizade intensa, feita de rotinas, brincadeiras e silêncios confortáveis. A entrada numa nova turma torna a proximidade alvo de olhares invasivos e comentários maliciosos, introduzindo culpa e confusão onde antes havia abrigo. O distanciamento gradual, motivado pelo medo de julgamento, altera dinâmicas afetivas e deixa arestas que ninguém sabe aparar. Um acontecimento devastador interrompe a possibilidade de diálogo e empurra Léo para um luto precoce, repleto de perguntas sem resposta. Entre campos de flores, treinos de hóquei e visitas contidas, a história acompanha tentativas hesitantes de reparar o irreparável e assumir responsabilidades que excedem a adolescência. O filme investiga vulnerabilidade masculina, pressões sociais e os limites da linguagem quando sentimentos se agigantam, propondo um olhar delicado para o que resta quando a amizade é atravessada por tragédia.

Nos anos 1960, o engenheiro Giorgio Rosa, cansado de burocracias, decide construir uma plataforma em águas internacionais do Adriático. O improvisado território ganha bares, idiomas e carimbos, tornando-se uma micronação que atrai curiosos, idealistas e oportunistas em busca de um começo sem amarras. A inesperada projeção pública provoca a reação do governo italiano, que enxerga ameaça à ordem e à soberania. Entre negociações diplomáticas tensas, pressões econômicas e disputas legais, o projeto vai de utopia excêntrica a símbolo de liberdade contestada. O percurso afetivo do protagonista — dividido entre ambição, teimosia e o desejo de ser levado a sério — expõe as fraturas entre sonho individual e poder institucional. Humor, romance e choque político se entrelaçam, enquanto a maré da opinião pública decide o destino de uma ideia que ousou existir fora do mapa.

Um jornalista da “Esquire”, Lloyd Vogel, recebe a tarefa de perfilar um ícone da televisão infantil conhecido por gentileza e constância. Cético por natureza e carregando mágoas familiares, ele espera desvendar uma persona cuidadosamente construída. O encontro, porém, desmonta defesas: conversas pausadas, atenção plena e um interesse genuíno conduzem o repórter a confrontar ressentimentos, especialmente a relação fraturada com o pai. À medida que a reportagem avança, a observação do cotidiano do apresentador — sua disciplina emocional, sua forma de lidar com conflitos e sua fé na escuta — transforma a investigação em jornada íntima. Entre entrevistas, set de gravação e reencontros dolorosos, o caderno de anotações vira espelho, obrigando o autor do perfil a reescrever a própria história. O resultado é um retrato do poder terapêutico da empatia, onde pequenas práticas cultivam mudanças profundas.

Jim retorna à cidade natal para lidar com a casa da mãe falecida e, por acaso, reencontra Amanda no corredor de um mercado. O choque inicial dá lugar a um passeio por memórias: cafés improvisados, fitas antigas, rabiscos adolescentes e o retorno à antiga residência dele, onde objetos esquecidos reacendem gestos familiares. Ao longo de um dia, a conversa dança entre piadas internas, cumplicidades e feridas mal cicatrizadas, até alcançar o segredo que moldou destinos opostos: uma gravidez no passado e a decisão difícil que os afastou. Sem grandes movimentos externos, a narrativa se apoia em olhares, pausas e confissões, perguntando se a maturidade oferece uma segunda chance ou apenas uma compreensão mais nítida do que foi perdido. Entre ternura e melancolia, o reencontro revela como escolhas íntimas ecoam no tempo e redefinem o que chamamos de lar.

Em 1959, um professor de literatura, John Keating, retorna à conservadora Welton Academy e rompe a rotina com métodos inusitados. Ele convida os alunos a enxergar a poesia como uma força capaz de iluminar escolhas e confrontar expectativas sufocantes. Entre eles, Neil Perry descobre a vocação para atuar, enquanto Todd Anderson, tímido e inseguro, encontra sua voz. O lema “carpe diem” passa a ecoar nos corredores, mas a inspiração também acende conflitos com pais autoritários e uma direção escolar rígida. A redescoberta da sociedade secreta de leituras, os ensaios teatrais e a amizade entre colegas aproximam sonhos e medos, até que consequências trágicas revelam o custo de desafiar padrões. A narrativa examina coragem, responsabilidade e luto, perguntando o que significa viver de acordo com desejos próprios quando o mundo exige obediência.