Na HBO Max: o filme tão assustador que 50% desistem no meio, eleito pela ciência um dos mais apavorantes da história Divulgação / Warner Bros.

Na HBO Max: o filme tão assustador que 50% desistem no meio, eleito pela ciência um dos mais apavorantes da história

O terror contemporâneo é muitas vezes acusado de valer-se de recursos fáceis — computação gráfica, sustos mecânicos, narrativas manjadas — para fisgar o espectador. Esse vício passa longe de “Invocação do Mal”, um dos filmes que marcaram uma urgente revitalização das histórias do gênero, juntando performances acima da média a uma trama convincente, daquelas que ninguém se atreve a duvidar. Tarimbado, James Wan apresenta já no longa inaugural da franquia a necessidade de causar incômodo, pânico, asco, indo além do conto de assombração e urdindo um tratado sobre o medo e a fé, vislumbrando a reação humana frente ao inexplicável. O roteiro de Carey W. Hayes e Chad Hayes revisita os casos verídicos investigados por Ed (1926-2006) e Lorraine Warren (1927-2019), um demonologista autodidata e sua esposa médium, estabelecendo um paradigma até revolucionário para as produções refinadíssimas que o sucederam.

Em 1971, Roger Perron e a esposa, Carolyn, mudam-se com as cinco filhas para um casarão sucateado em Harrisville, Rhode Island. Dois anos antes, Annabelle Higgins, uma garota conhecida por seu dom de comunicar-se e receber entidades do outro mundo, era uma dos habitantes da mansão, e de certa maneira ela continua presente. Wan abre seu filme com uma sequência em que Ed e Lorraine partilham sua experiência falando a uma plateia de universitários, e dedicam atenção especial ao caso Annabelle. A partir desse ponto, o diretor passa a esmiuçar a vida dos Perron depois de Harrisville, e aprendemos que é sempre um péssimo negócio adquirir um imóvel velho no meio do nada, ainda que por uma bagatela. Ninguém duvida que por trás de velhos maciços de alvenaria recobertos por toras de madeira podem se esconder criaturas que a razão não consegue explicar, e essa convivência requer cuidado.

Os Hayes sublinham o fato de que atividades demoníacas são raras, e aproveita o gancho para também expor os Warren como um casal feliz e religioso. Ed nunca trabalha sem Lorraine e voltando de uma averiguação no porão de uma família das redondezas, Carolyn os aborda, insistindo para eles analisem o novo lar dos Perron. Eles chegam a uma casa na qual os relógios param às três e sete, portas jamais param de bater, um odor pútrido emana dos ambientes e pombos chocam-se contra as janelas, num espetáculo genuinamente tétrico. Ed nota que os três estágios da manifestação diabólica, infestação, obsessão e possessão, ocorrem num ciclo que se retroalimenta, e o dia 1º de novembro de 1971 marca o princípio da batalha. As mulheres são as grandes figuras aqui, e à medida que Carolyn sucumbe à interferência de Bathsheba Sherman, a bruxa que tomou conta da propriedade, Lili Taylor domina a tela, retorcendo-se, sendo jogada de um lado para o outro e, sim, lançando jatos de vômito e sangue, mais e mais cheia das feridas e equimoses com que Bathsheba lhe presenteia gostosamente. Os sobrevalorizados jumps scares, uma praga nessas narrativas, acontecem — especialmente perturbadora, uma cena em que quadros dispostos ao longo de uma parede na escada caem num estrépito abrupto parece querer alertar o espírito de quem está assistindo —, mas Lorraine não se dá por satisfeita, e Vera Farmiga diz quem está no comando. Como todo bom filme de terror, “Invocação do Mal” fala de pessoas e suas neuroses, que podem ou não ter ramificações extraterrenas. O último capítulo da franquia, “Invocação do Mal 4: O Último Ritual” (2025), de Michael Chaves, que também dirigiu “A Freira 2” (2023), chega às salas de projeção mantendo a aura cult do começo, embora visivelmente mais tecnológico. A boneca é insaciável.

Filme: Invocação do Mal
Diretor: James Wan 
Ano: 2013
Gênero: Suspense/Terror
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.