Você pode reclamar o quanto for e dizer que as versões em live-action acabaram com sua infância e com as melhores lembranças de seus desenhos favoritos. Quer saber? Não ligo. “Lilo & Stitch” foi um sucesso. E não digo isso apenas porque esse foi o live-action mais bem-sucedido da história, arrecadando um bilhão em bilheteria mundial e levando, apenas em seu fim de semana de estreia no Brasil, quase 3 milhões de espectadores. A Disney está satisfeita e eu também. Ontem, meu filho de quatro anos viu esse filme do início ao fim. Foi a primeira vez que ele ficou na frente da televisão assistindo a um filme de mais de uma hora e meia sem parar. Estou falando de uma criança que nasceu na era dos shorts.
Por mais que eu sinta culpa de deixar a criança passar algumas horas do dia no celular, eu preciso, porque só assim consigo trabalhar sossegada. Já tentei colocá-lo no videogame, pintando, brincando… enfim, nenhuma atividade parece entretê-lo por tanto tempo quanto o rapper Mussa no YouTube. Já aceitei meu destino e só tento mantê-lo seguro de conteúdos esquisitos. Mas vê-lo assistir “Lilo & Stitch” sem pegar no celular desbloqueou um novo tipo de orgulho em mim. O orgulho de perceber que meu filho está crescendo e entende as mensagens dos desenhos que vê. E a mensagem de “Lilo & Stitch” é aquela que tento passar a ele toda vez que volta chateado da escola porque foi rejeitado por alguém: “Ser você mesmo é um superpoder que só você tem”.
Confesso que eu nunca tinha visto “Lilo & Stitch” na infância. Sou de um pouco antes disso. Não sabia que o Stitch era um alienígena ou que a Lilo era uma menina órfã. Assistir ao filme foi conhecer a história pela primeira vez, embora ela faça parte da infância de muitos amigos. Lilo (Maia Kealoha) é cuidada pela irmã mais velha, Nani (Sydney Agudong), uma jovem recém-saída da adolescência que se vê diante de um desafio impossível: substituir os pais. Agora, com uma casa para cuidar, contas para pagar e uma criança para criar, Nani é obrigada a desistir dos próprios sonhos para assumir responsabilidades que nunca escolheu. E tudo isso com a Assistência Social no seu pé.
Enquanto luta para manter sua vida sob controle, Nani enfrenta um novo tornado com a chegada de Stitch, um alienígena foragido que se infiltra em sua família como se fosse um pequeno cãozinho sem dono. Enquanto foge de outros alienígenas, Stitch sempre se mete em confusões ao lado de Lilo, colocando Nani em saia justa. Sempre que tenta fazer algo certo, Lilo e Stitch criam situações desastradas que fazem com que Nani se dê mal. É óbvio que a intenção de ambos é boa, mas eles são simplesmente rebeldes e inquietos demais fazer tudo certo.
Fico pensando em como meu filho se identifica ao ver personagens que, como ele, são rejeitados apesar de quererem agradar. São considerados estranhos, apesar de seu desejo de se encaixar. Ele ficou fascinado, e eu mais ainda, ao vê-lo concentrado, refletindo sobre coisas que fortalecem sua autoestima e autoconfiança. Tudo isso sem complexidade, falando direto com os pequenos, envolvendo-os numa narrativa cheia de humor, carisma e fofura.
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