O catálogo da HBO Max concentra lançamentos recentes e obras já consolidadas, distribuídas em diferentes gêneros e períodos históricos. Entre os títulos selecionados, estão produções que percorrem o terror, o drama intimista, o épico de ação, o relato político e a narrativa episódica. A lista organiza os filmes do mais novo ao mais antigo, permitindo observar como temas e estilos variam ao longo de pouco mais de uma década.
O primeiro recorte se passa em 2025, no Mississippi, durante a Lei Seca. Dois irmãos retornam à cidade natal e encontram um ambiente marcado por tensões raciais, disputas locais e manifestações ligadas a crenças regionais. A narrativa incorpora elementos históricos e situa-se em uma paisagem social fragmentada por conflitos.
Avançando para 2024, aparecem duas produções. A primeira acompanha o retorno de uma jovem às ilhas do norte da Escócia, após anos de dependência alcoólica. O enredo segue sua tentativa de reconstruir vínculos familiares e lidar com o isolamento geográfico. A segunda, também lançada nesse ano, apresenta a juventude de uma personagem central de uma conhecida franquia de ação. O pano de fundo é um deserto pós-apocalíptico, em que disputas por combustível e água organizam alianças e guerras entre facções.
A lista retorna a 2021, em Chicago, no final da década de 1960. O enredo acompanha a infiltração de um jovem em um grupo político negro sob vigilância do FBI, refletindo estratégias de repressão e resistência naquele período.
Por fim, em 2014, está uma produção argentina composta por seis histórias independentes. Cada episódio retrata personagens comuns levados a situações de limite em diferentes cenários urbanos e sociais.

No Mississippi da Lei Seca, dois irmãos gêmeos afro-americanos regressam à cidade natal para recomeçar e abrir uma casa de música, onde o blues vira refúgio contra dívidas, racismo e velhas rixas. A noite inaugural descamba quando uma ameaça sobrenatural toma forma entre fanáticos da região, revelando um inimigo ancestral que se esconde por trás de capuzes e rituais. Enquanto a comunidade dança e bebe, alianças ruem, feridas históricas são reabertas e a luta por sobrevivência se mistura a fé, violência e desejo de pertencimento. O olhar do diretor integra terror, drama e musicalidade, com números marcados por percussões e vozes que atravessam a névoa dos pântanos. Em meio ao caos, um jovem da igreja local vê ruir suas certezas diante do carisma e da brutalidade dos forasteiros. Ao despir monstros de sua fachada, a narrativa transforma a cantina num campo de batalha moral, onde cada escolha tem preço em sangue.

Após anos de excessos em Londres, uma jovem enfrenta a ressaca física e emocional da dependência alcoólica e retorna às Ilhas Orkney, no extremo norte da Escócia, onde cresceu. Entre falésias, vento e mar revolto, tenta reconectar memória, corpo e família enquanto revisita amores partidos e recaídas que quase a destruíram. O cotidiano de trabalho rural, caminhadas e mergulhos em águas geladas compõe um percurso de sobriedade frágil, guiado por diários, reuniões e uma relação tensa com os pais. O tempo insular, com suas marés e espécies migratórias, espelha avanços e retrocessos do tratamento. O filme acompanha a protagonista com câmera intimista, alternando presente e lembranças para narrar um processo de cura sem soluções fáceis. Na travessia, o apoio de um antigo parceiro e de amigos locais dá verniz de esperança, enquanto a natureza impõe silêncio, riscos e beleza a cada passo do recomeço. É doloroso, sensível, honesto e revigorante.

Arrancada do Lugar Verde das Muitas Mães por uma horda liderada pelo tirano Dementus, uma garota atravessa o deserto pós-apocalíptico e cai nas garras da Cidadela, domínio do senhor da guerra Immortan Joe. Crescendo entre sucata, motores e sangue, aprende a sobreviver como piloto e estrategista enquanto dois imperadores rivais transformam rotas de combustível e água em armas de poder. Em longas perseguições por estradas poeirentas, alianças instáveis se erguem e ruem sob metal, poeira e fogo. A personagem evolui de prisioneira resistente a líder calculista, alimentada por memória do lar perdido e promessa de retorno. A narrativa funciona como prelúdio de uma odisseia anterior, expandindo geografia, facções e mitologias desse mundo devastado, com coreografias de ação que privilegiam efeitos práticos, veículos customizados e uma gramática visual de furor e precisão. Em meio à barbárie crua, a busca por liberdade ganha contornos de lenda forjada a motor, óleo e persistência.

Em Chicago no final dos anos 1960, o carismático líder dos Panteras Negras mobiliza alianças entre trabalhadores, estudantes e comunidades marginalizadas, criando programas de alimentação e clínicas enquanto defende autodefesa contra a violência estatal. Um jovem ladrão de carros é cooptado pelo FBI para se infiltrar no núcleo do movimento, reportando-se a um agente branco que promete liberdade em troca de traição. Ao conviver com reuniões, discursos e ações comunitárias, o infiltrado oscila entre oportunismo, medo e fascínio pela causa, quando a polícia intensifica prisões, grampos e emboscadas sob o guarda-chuva do COINTELPRO. Entre assembleias e batidas noturnas, o filme dramatiza dilemas morais, manipulação e racismo numa história baseada em registros e história. A tensão explode em operações que mudam o curso do movimento local, e a vida íntima do dirigente, ao lado de sua companheira e de seus camaradas, revela a dimensão humana por trás do ícone político.

Seis histórias autônomas expõem, com humor negro e tensão crescente, pessoas comuns levadas ao limite por ofensas banais, burocracias e desigualdades. Um encontro fortuito em um avião, um restaurante de beira de estrada, uma briga de trânsito, um perito em explosivos frustrado com multas, um sinistro acerto de contas e um casamento que sai do controle formam um mosaico sobre vingança e descontrole. A estrutura episódica permite mudanças de tom sem perder coesão, enquanto a fotografia e a trilha de Gustavo Santaolalla acentuam a ironia cruel dos eventos. Personagens interpretados por Ricardo Darín, Rita Cortese, Leonardo Sbaraglia e Érica Rivas encarnam diferentes facetas do colapso emocional diante de abusos cotidianos. Entre sátira e tragédia, cada conto empurra seus protagonistas a decisões extremas, expondo instituições ineficientes e feridas sociais latentes. O resultado é um retrato catártico da fúria contemporânea, que transforma pequenos incidentes em tempestades morais de consequências imprevisíveis intensas.