Jaguar morreu outro dia. Verissimo morreu ontem. Ziraldo morreu no ano passado, Jô Soares acho que um pouco antes, Gal Costa e Aldir Blanc também.
Meu terapeuta atual e o anterior já embolsaram parte dos meus ordenados para me ouvirem — da forma mais qualificada possível, reconheço — divagar sobre como é difícil para um estrangeiro a experiência do luto.
Neste ponto, monologo-me exaustivamente, reconheço.
Há camadas e camadas. O luto do parente próximo, principalmente se este ainda estiver restado na cada vez mais minguada aba do querido, é uma questão dolorosa de qualquer maneira. Com um oceano de distância, creio que o sentimento se transforma de agudo em crônico.
Enterrei meus dois avôs homens. Soube por WhatsApp da morte das duas avós. Só senti, de modo indesculpável e irreversível a morte delas, anos depois quando, em bissexta viagem ao Brasil, fiz questão de conhecer seus jazigos.
Já o luto por um Verissimo é aquele que acaba significando uma perda cultural. Como se os ídolos da nossa formação intelectual fossem, pouco a pouco, deixando de existir. Nisto, ao menos, não sou pessimista. Há, haverá e haverão outros Buarques, outros Velosos, outros Fernandes e outros Verissimos para povoar mentes inquietas da geração dos meus sobrinhos, o único futuro que me ancora ao Brasil. E eles, um dia, também ouvirão, lerão e apreciarão os meus ícones da mesma maneira como não me canso de praticar o soft-power presenteando amigos gringos com as melhores traduções possíveis de Machado de Assis.
Mas com eles não consigo compartilhar o idêntico e singular sentimento de perda. O Verissimo que morre não leva para o túmulo o luto esloveno. O Jaguar que morre não espalha suas cinzas pelos desanimados bares de Ljubljana.
Ao vencedor as batatas?
Talvez.
Se vencedores formos nós, os restantes, ao menos ficamos a plantar sentimentos nos amigos, com os livros, os discos e nada mais.