Ela sofreu 18 meses de cyberbullying — e a revelação de quem estava por trás está na Netflix Divulgação / Netflix

Ela sofreu 18 meses de cyberbullying — e a revelação de quem estava por trás está na Netflix

Eu não sei vocês, mas sou obcecada por documentários. Até mesmo aqueles menos elaborados conseguem prender, porque narram histórias reais, de gente com quem a gente consegue se relacionar. Quando tratam de crimes, é ainda mais perturbador, porque é assombroso perceber que qualquer um de nós está suscetível a um maluco qualquer. Agora, imagine que esse maluco, prestes a virar sua vida de cabeça para baixo, é alguém da sua convivência. Conhece bem sua rotina, sua família, sua escola, seus amigos e até suas inseguranças. Pois é, isso é o mais assustador de “Número Desconhecido: Catfishing na Escola”. Agora, senta que lá vem história! E essa aqui vem com spoilers! Então, clique no X acima na aba da página ou venha se escandalizar comigo!

A história começa com adolescentes de uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos onde absolutamente nada acontece e todos se conhecem. A maior diversão da vizinhança é falar da vida dos outros e, como a vida dos adolescentes está na fase mais emocionante, eles são os principais alvos das fofocas da cidade. Assim começa o documentário de Skye Borgman, que narra o terror vivido por Lauryn Licari e Owen McKenny, dois adolescentes de 12 anos que decidiram engatar um romance juvenil. Ela, uma menina de classe média baixa, tímida, magricela e nada popular. Ele, um rapazinho com boas intenções, atleta e amigo das meninas mais bem relacionadas. Embora os sentimentos entre eles fossem honestos e recíprocos, a relação causou mal-estar ao redor, despertando inveja e ressentimento de algumas pessoas.

Logo no começo do namoro, mensagens enigmáticas de um número desconhecido começam a chegar no celular de Lauryn, alertando-a sobre Owen. Segundo o remetente ardiloso, Owen não gostava dela de verdade e pretendia traí-la em uma festa de Halloween oferecida pela família da melhor amiga dele, Khloe, que não teria convidado Lauryn para o evento. Por mais que magoassem, eram apenas mensagens que o casal de adolescentes não levou tão a sério no começo. Afinal, tudo poderia não passar de uma piada de mau gosto. No entanto, elas não se encerraram por aí. Na verdade, foram ficando cada vez mais frequentes e maldosas, parecendo querer separar o casal.

Após um ano, as mensagens continuavam cada vez mais agressivas. Owen e Lauryn decidiram se separar. Afinal, se o remetente misterioso e invejoso queria que eles se afastassem um do outro, então isso bastaria para trazer um pouco de paz. Só que não foi o que aconteceu. Agora, com 13 anos, Lauryn recebia mensagens dizendo que ela era feia, anoréxica e deveria tirar a própria vida. Xingamentos pesados e referências sexuais inadequadas demais para a idade deles recheavam as mensagens que apitavam no celular, sempre de um número desconhecido e diferente do anterior.

Quando Owen tentava sair com uma nova menina, essa pretendente também passava a receber mensagens de ameaça. Lauryn, mesmo longe de seu primeiro amor, continuava sendo atormentada por esse stalker anônimo. Da diretoria da escola, o caso parou na polícia, que começou a investigar colegas dos dois adolescentes. Conhecida por praticar bullying com os menos populares, Khloe rapidamente virou a principal suspeita, mas contradições a isentaram da culpa. Adriana, prima de Owen, também foi cogitada. Mas logo as evidências não levaram a lugar nenhum. Depois de 18 meses, o FBI foi chamado para ajudar a solucionar o mistério.

Apenas quando um hacker do Federal Bureau of Investigation entrou no caso para rastrear o IP, as respostas começaram a aparecer. Mas o grande problema era: os rastros levavam para a pessoa mais bombástica da história. Ninguém menos que a mãe de Lauryn, Kendra, se tornou alvo das investigações. Quando abordada pelo detetive, ela admitiu tudo. As justificativas para perseguir e atormentar a própria filha? Nem ela soube explicar. Mas uma lição dolorosa ficou clara: mães narcisistas são perigosíssimas e podem, sim, provocar danos emocionais e físicos aos filhos. Ora, Kendra mandava mensagens para a própria filha instigando-a a se matar!

Apesar disso, Lauryn ainda mantém contato com a mãe e admite que ela é a pessoa que mais ama no mundo. E, por mais revoltante e doloroso que seja ouvir isso de uma vítima da própria mãe, nos faz refletir sobre o peso das ações parentais na vida dos filhos. A mãe pode não amar a filha incondicionalmente, mas a filha, sim. O filho é sempre dependente emocional dos pais, e isso mantém as feridas sempre vivas e abertas. É preciso uma aldeia inteira para educar e amar as crianças.

Filme: Número Desconhecido: Catfishing na Escola Número Desconhecido: Catfishing na Escola
Diretor: Skye Borgman
Ano: 2025
Gênero: Documentário/Drama/Policial
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.