Eu não sei vocês, mas sou obcecada por documentários. Até mesmo aqueles menos elaborados conseguem prender, porque narram histórias reais, de gente com quem a gente consegue se relacionar. Quando tratam de crimes, é ainda mais perturbador, porque é assombroso perceber que qualquer um de nós está suscetível a um maluco qualquer. Agora, imagine que esse maluco, prestes a virar sua vida de cabeça para baixo, é alguém da sua convivência. Conhece bem sua rotina, sua família, sua escola, seus amigos e até suas inseguranças. Pois é, isso é o mais assustador de “Número Desconhecido: Catfishing na Escola”. Agora, senta que lá vem história! E essa aqui vem com spoilers! Então, clique no X acima na aba da página ou venha se escandalizar comigo!
A história começa com adolescentes de uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos onde absolutamente nada acontece e todos se conhecem. A maior diversão da vizinhança é falar da vida dos outros e, como a vida dos adolescentes está na fase mais emocionante, eles são os principais alvos das fofocas da cidade. Assim começa o documentário de Skye Borgman, que narra o terror vivido por Lauryn Licari e Owen McKenny, dois adolescentes de 12 anos que decidiram engatar um romance juvenil. Ela, uma menina de classe média baixa, tímida, magricela e nada popular. Ele, um rapazinho com boas intenções, atleta e amigo das meninas mais bem relacionadas. Embora os sentimentos entre eles fossem honestos e recíprocos, a relação causou mal-estar ao redor, despertando inveja e ressentimento de algumas pessoas.
Logo no começo do namoro, mensagens enigmáticas de um número desconhecido começam a chegar no celular de Lauryn, alertando-a sobre Owen. Segundo o remetente ardiloso, Owen não gostava dela de verdade e pretendia traí-la em uma festa de Halloween oferecida pela família da melhor amiga dele, Khloe, que não teria convidado Lauryn para o evento. Por mais que magoassem, eram apenas mensagens que o casal de adolescentes não levou tão a sério no começo. Afinal, tudo poderia não passar de uma piada de mau gosto. No entanto, elas não se encerraram por aí. Na verdade, foram ficando cada vez mais frequentes e maldosas, parecendo querer separar o casal.
Após um ano, as mensagens continuavam cada vez mais agressivas. Owen e Lauryn decidiram se separar. Afinal, se o remetente misterioso e invejoso queria que eles se afastassem um do outro, então isso bastaria para trazer um pouco de paz. Só que não foi o que aconteceu. Agora, com 13 anos, Lauryn recebia mensagens dizendo que ela era feia, anoréxica e deveria tirar a própria vida. Xingamentos pesados e referências sexuais inadequadas demais para a idade deles recheavam as mensagens que apitavam no celular, sempre de um número desconhecido e diferente do anterior.
Quando Owen tentava sair com uma nova menina, essa pretendente também passava a receber mensagens de ameaça. Lauryn, mesmo longe de seu primeiro amor, continuava sendo atormentada por esse stalker anônimo. Da diretoria da escola, o caso parou na polícia, que começou a investigar colegas dos dois adolescentes. Conhecida por praticar bullying com os menos populares, Khloe rapidamente virou a principal suspeita, mas contradições a isentaram da culpa. Adriana, prima de Owen, também foi cogitada. Mas logo as evidências não levaram a lugar nenhum. Depois de 18 meses, o FBI foi chamado para ajudar a solucionar o mistério.
Apenas quando um hacker do Federal Bureau of Investigation entrou no caso para rastrear o IP, as respostas começaram a aparecer. Mas o grande problema era: os rastros levavam para a pessoa mais bombástica da história. Ninguém menos que a mãe de Lauryn, Kendra, se tornou alvo das investigações. Quando abordada pelo detetive, ela admitiu tudo. As justificativas para perseguir e atormentar a própria filha? Nem ela soube explicar. Mas uma lição dolorosa ficou clara: mães narcisistas são perigosíssimas e podem, sim, provocar danos emocionais e físicos aos filhos. Ora, Kendra mandava mensagens para a própria filha instigando-a a se matar!
Apesar disso, Lauryn ainda mantém contato com a mãe e admite que ela é a pessoa que mais ama no mundo. E, por mais revoltante e doloroso que seja ouvir isso de uma vítima da própria mãe, nos faz refletir sobre o peso das ações parentais na vida dos filhos. A mãe pode não amar a filha incondicionalmente, mas a filha, sim. O filho é sempre dependente emocional dos pais, e isso mantém as feridas sempre vivas e abertas. É preciso uma aldeia inteira para educar e amar as crianças.
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