A guerra contra o crime tem levado diretores de Hollywood a um dilema estimulante, para o cinema e para o público. Nunca se sabe se a ofensiva retórica dos filmes sobre essa matéria deve ater-se à natureza puramente científica do problema, investigando suas causas e apostando em possíveis soluções ou, como em “Bem-Vindo à Morte Súbita”, tem mesmo é de ir para cima e marcar território, deixando tudo muito às claras, definindo perfeitamente quem são os mocinhos e os vilões e entabulando uma verdadeira profissão de fé a respeito da necessidade de heróis. O diretor Dallas Jackson volta a “Morte Súbita” (1995), de Peter Hyams, com o claro propósito de atualizar um modelo de narrativa já consagrado pelo público, ao passo que introduz novos protagonistas, renuncia à quase toda delicadeza e explora recursos mais modernos. O resultado, contudo, é irregular, ora divertido, ora tedioso, num produto que faz questão de manifestar a aparência de enlatado que agrada a alguns e decepciona outros tantos.
Jesse Freeman literalmente sonha que está salvando a humanidade, combatendo terroristas islâmicos em alguma parte remota do Oriente Médio, mas acorda atrasado para cumprir seu expediente como segurança num estádio durante a final de um campeonato de basquete. Ele já foi oficial das Forças Especiais e continua assombrado com os perigos que vivenciou no campo de batalha, num quadro de transtorno de estresse pós-traumático permanente, mas não faz corpo mole, beija a esposa, Alisha, sai da cama e veste-se rápido, a tempo de presenciar uma briguinha dos filhos, Mara e Ryan. Jackson e o corroteirista Gene Quintano dotam o filme de cenas leves, despretensiosas, com ênfase nos diálogos de Michael Jai White com as crianças, sobretudo Nakai Takawira, até que vem a hora das sequências de luta. Uma quadrilha invade a tribuna de honra e sequestra Diana Smart, uma bilionária dona de fintechs, exigindo que ela transfira uma bolada para a conta deles. Caso ela se recuse, uma bomba será acionada.
A edição de Eric Potter e Irit Raz aproveita cada lance dos oitenta minutos, recorrendo a bons enquadramentos e efeitos especiais capazes de iludir até os olhos mais treinados — o que, por óbvio, de muito pouco valeria sem uma afinada equipe de dublês. O basquete passa a compor o enredo como uma metáfora sobre bravura e resistência mas, paradoxalmente, a quadra fica esquecida durante muito tempo. Jackson tenta do limão a limonada possível, lidando com personagens caricatos e clichês, feito a obsessão de certos delinquentes por artefatos de alto potencial destrutivo e um homem comum que ostenta um passado glorioso, o único habilitado a livrar uma multidão do sacrifício. Talvez “Bem-Vindo à Morte Súbita” seja a escolha ideal para uma ocasião de tédio avassalador. E nada mais.
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