Ambicioso e controverso, drama épico vencedor de 3 Oscars não rendeu um centavo ao diretor e está no Prime Video Divulgação / A24

Ambicioso e controverso, drama épico vencedor de 3 Oscars não rendeu um centavo ao diretor e está no Prime Video


Muitos atores se aventuram em diversas outras funções do cinema, às vezes de forma temporária e experimental, e outras para redescobrirem novos talentos e versões de si mesmos. É o caso de Brady Corbet, que atuou no angustiante “Violência Gratuita”, de Michael Haneke, e em outros filmes de destaque, como “Melancolia”, de Lars von Trier, e “Força Maior”, de Ruben Östlund, mas sem ganhar nenhum papel que lhe concedesse a popularidade de uma grande estrela de Hollywood. Sua carreira, embora longa e consistente, foi até aqui tímida e discreta. Mas “O Brutalista” o colocou em uma posição de destaque como nunca antes. Desta vez, no entanto, Corbet não apareceu na frente das câmeras, mas atuou como diretor e co-roteirista, ao lado de Mona Fastvold.

“O Brutalista” foi um verdadeiro fenômeno de crítica, positiva e negativa, mas de uma forma geral aclamado. O longa-metragem traz a história fictícia de László Tóth, um arquiteto judeu-húngaro, exilado nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Vivido por Adrien Brody, que levou por esse papel seu segundo Oscar de Melhor Ator, o filme retrata sua jornada de recomeço na América: de aclamado arquiteto e intelectual boêmio na Europa para um vagabundo viciado em drogas e que vive de bicos nos EUA. A história, que parecia culminar para um fim decadente, muda de rumo depois que László conhece Harrison Van Lee Buren, vivido por Guy Pearce, um magnata excêntrico e arrogante que pretende construir um centro cultural como legado para sua falecida mãe. Depois de descobrir o talento de László, decorrente de um negócio desastrado envolvendo uma biblioteca, Harrison o contrata para dar vida ao projeto que leva anos — e muitos problemas — para se tornar realidade.

O trunfo de “O Brutalista” é não construir mocinhos que só sejam mocinhos ou vilões que só sejam vilões. Cada personagem possui tantas camadas que é impossível apenas amá-los ou odiá-los. Você os admira, sente repulsa, cria afinidades e desconfianças: tudo ao mesmo tempo. O filme faz um estudo de poder e ambição e uma crítica ao capitalismo, colocando o talento como subserviente ao poder. A crítica ao capitalismo coloca o artista até mesmo como uma prostituta submissa aos desejos de seu cafetão. Se por um lado Harrison é a oportunidade de ascensão de László, por outro a situação coloca o arquiteto em um estado de dependência financeira, moral e até emocional de seu contratante. Mesmo sofrendo sucessivas violências dessa família, László precisa deles para conseguir trazer sua esposa da Europa, viver longe das ruas, ser novamente reconhecido profissionalmente. Há uma degradação do trabalhador pela sobrevivência mínima no sistema capitalista e excludente, em que certos grupos não são bem-vindos.

Importante ressaltar o brutalismo como um movimento arquitetônico de resposta à guerra. Depois de prédios e construções arrasados, era preciso reformar rapidamente as cidades, de forma bruta, barata e “simples”. Mas não apenas isso: eram necessários prédios resistentes, que sobrevivessem a novas possíveis destruições. Surgem, então, as construções em formas de caixas de concreto, como arquivos a tentarem armazenar e esconder o passado. O prédio que László constrói para Harrison tem um simbolismo incrível de sobrevivência e resistência. Adrien Brody, que some e reaparece quando recebe esporadicamente grandes papéis, demonstra uma habilidade palpável em encenar um homem entre a dignidade e a escória.

Filme: Brutalista
Diretor: Brady Corbet
Ano: 2024
Gênero: Drama/Épico
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.