Eclipsando pelo peso das estreias, marketing das grandes franquias e os lançamentos do ano, filmes passam despercebidos no catálogo da HBO Max. Produções que não apostam no espetáculo ruidoso e imediato, mas em narrativas densas, íntimas e reveladores. Descobri-las é como reencontrar o prazer de um cinema que valoriza a linguagem, o silêncio e os personagens complexos. A Revista Bula buscou três filmes disponíveis na plataforma para apresentá-los aos leitores. Entre eles, está um que figura entre os favoritos de ninguém menos que Martin Scorsese, cineasta que sempre defendeu o poder transformador da sétima arte.
Se um filme merece o selo de aprovação de Scorsese, você sabe que nele há algo maior que um enredo comum: há forma, visão e intensidade. Ao lado dele, outras obras que exploram diferentes lados de temas contemporâneos, que falam sobre as relações humanas e o impacto da tecnologia nas nossas vidas. Essa lista é uma oportunidade de olhar para fora da lógica das estreias milionárias. Esses enredos conversam com o presente e oferecem experiências perturbadoras e sensíveis que ajuda a ver o quanto ainda existe espaço para histórias originais dentro dos streamings.
Divulgação / A24Dois adolescentes, cada um preso à sua rotina sufocante em uma cidade do interior, descobrem na televisão um canal noturno misterioso que exibe uma série enigmática e aparentemente feita apenas para eles. À medida que passam a acompanhar os episódios, começam a questionar não apenas a realidade em que vivem, mas também suas próprias identidades. As histórias exibidas parecem falar diretamente às suas angústias, dando corpo a sentimentos que eles não conseguem expressar em palavras. Entre o fascínio pelo que assistem e o medo de perderem a si mesmos nesse universo, ambos se tornam cada vez mais envolvidos por essa experiência coletiva e solitária ao mesmo tempo. O brilho da tela não funciona apenas como escapismo, mas como um portal para outra existência possível, onde os limites entre fantasia e vida real se dissolvem. O resultado é um retrato sensível da adolescência como um estado de transição, marcado por incertezas, desejo de pertencimento e a dolorosa busca por um lugar no mundo.
Divulgação / New Line CinemaUma analista de tecnologia trabalha em casa revisando falhas de um assistente virtual de voz. Entre áudios triviais de usuários, ela se depara com uma gravação que sugere a ocorrência de um crime. Ao tentar denunciar o que descobriu, esbarra na resistência de sua empresa, que prefere abafar o caso a investigá-lo. Isolada, marcada por crises de ansiedade e assombrada pelo medo de sair de casa, a protagonista precisa enfrentar tanto seus limites pessoais quanto um sistema que a enxerga como obstáculo. À medida que se aproxima da verdade, descobre-se também em meio a uma trama de espionagem, manipulação corporativa e violência. O filme revela o contraste entre a aparente neutralidade da tecnologia e a forma como ela pode se tornar instrumento de controle e silenciamento.
Divulgação / Good PalsApós sobreviver a um trauma coletivo em sua escola, uma adolescente vê sua vida ser irremediavelmente transformada. Amizades antigas perdem o sentido, as conversas com a mãe se tornam mais tensas e os silêncios ocupam cada vez mais espaço em seu cotidiano. Aos poucos, ela cria uma inesperada conexão com outro jovem que também esteve presente no mesmo acontecimento, e juntos tentam encontrar uma forma de seguir em frente. O que surge dessa relação não é exatamente um romance convencional, mas um vínculo que mistura apoio, fragilidade e cumplicidade. A protagonista descobre que viver “depois” significa conviver com a ausência, mas também abrir espaço para novos afetos e possibilidades. O filme é um retrato delicado de como a dor pode ser enfrentada por meio de pequenas esperanças.


