A comédia que vai te fazer gargalhar esta semana na Netflix Divulgação / Warner Bros Entertainment

A comédia que vai te fazer gargalhar esta semana na Netflix

Lançado em 2011, “Se Beber, não Case! Parte II” mantém Todd Phillips na direção e faz uma escolha direta para uma continuação de grande estúdio. Em vez de reposicionar personagens e temas, o filme reaplica a fórmula testada em Se “Beber, não Case!” e desloca o percurso para Bangkok. A decisão sacrifica novidade, mas garante legibilidade de objetivos e encadeamento de ações. A narrativa opera como investigação em alta rotação, com passos curtos, elos claros e pouco espaço para digressões.

A linha de enredo é objetiva. Stu viaja à Tailândia para casar com Lauren. Na véspera, ele, Phil e Alan combinam um brinde aparentemente controlado. Ao amanhecer, o trio desperta em um quarto degradado, sem memória da noite. Teddy, irmão de Lauren, está desaparecido. O grupo reconstitui o trajeto por meio de objetos, ligações e contatos espalhados pela cidade. O alvo é localizar Teddy e manter o casamento de pé. O filme transforma esse objetivo simples em motor único, afastando desvios que não contribuam para o avanço.

O roteiro assinado por Todd Phillips, Craig Mazin e Scot Armstrong replica a engenharia de apagão e investigação do primeiro título, mas ajusta cadências. Cada pista sugere uma ação imediata. Cada ação produz um resultado prático, positivo ou negativo. Não há suspense metafísico. Há logística de danos. Esse desenho prioriza causa e efeito e reduz a dependência de diálogos explicativos. O público recebe informações no ritmo das descobertas e entende por que cada cena existe. Quando a investigação ameaça estacionar, uma nova variável entra em quadro e empurra o trio adiante.

A montagem de Debra Neil-Fisher e Mike Sale acompanha essa proposta com cortes diretos e transições por ação. A passagem de um ambiente a outro, ou de um problema a outro, costuma ocorrer por meio de um gesto, um som ou um objeto que migra entre planos. O procedimento evita repetições e elimina gordura. O filme prefere sequências curtas, claramente orientadas a tarefas. Não há número cômico que interrompa a linha, salvo quando ele próprio produz consequência dramática. O efeito para o espectador é de acompanhamento contínuo, com baixa fricção.

A fotografia de Lawrence Sher dá unidade visual à pressão do percurso. Interiores apertados, luz recortada e exteriores quentes comunicam sensação de confinamento e desorientação sem perder legibilidade. A câmera prioriza ângulos que preservam a clareza de eixo e a distância necessária para que perseguições breves e corridas improvisadas possam ser lidas sem confusão. O desenho de som registra impactos secos e evita saturação. A trilha de Christophe Beck cumpre papel de propulsão. O resultado técnico favorece a compreensão da cadeia de eventos e não cria obstáculos para a progressão do caso.

O elenco sustenta a mecânica com funções claramente distribuídas. Bradley Cooper conduz Phil como liderança prática, orientada para decisão. Ed Helms assume Stu como eixo emocional e regulador de risco. A tatuagem no rosto, além da função cômica, fixa em imagem o preço das escolhas. Zach Galifianakis mantém Alan como fonte de imprevisibilidade que a narrativa absorve para mover a trama. Ken Jeong retorna como Leslie Chow e opera como gatilho de mudanças de rota. Jamie Chung como Lauren mantém o casamento no horizonte da história. Mason Lee como Teddy estrutura o objetivo. Justin Bartha, novamente como Doug, permanece como referência de normalidade fora do olho do furacão.

As soluções cômicas seguem a diretriz do procedimento. Em vez de construir longas set pieces autônomas, Phillips introduz choques pontuais e avança. A presença do macaco adestrado, por exemplo, não vale apenas pela imagem inusitada. Ela altera parcerias, abre acesso a ambientes e gera novas contas a pagar. A sequência de fotos nos créditos volta como documentação do que ficou fora de quadro. O dispositivo confirma a ênfase em resultado prático e entrega ao público o fechamento dos elos que a narrativa preferiu resumir.

A comparação com “Se Beber, não Case!” é inevitável e útil para medir ambição. Em 2009, a novidade estava na descoberta da fórmula e na química imediata do trio. Em 2011, a aposta é observar o mesmo mecanismo sob maior pressão e em geografia menos confortável. A mudança de cidade retira o amortecimento lúdico de Las Vegas e expõe os personagens a um ambiente que o filme trata como labirinto. O ganho está na cadência segura. A perda é a diminuição de surpresa e a manutenção de um arco de crescimento mínimo.

A representação de Bangkok merece ressalva. Em vários trechos, a cidade é reduzida a dispositivo de risco permanente. O recorte serve ao gênero e ajuda a justificar a sequência de incidentes. Por outro lado, limita o olhar local e encurta a complexidade dos espaços visitados. O filme desloca parte das ameaças para a mecânica da investigação para não personalizar identidades como fonte do problema. Ainda assim, a associação entre espaço urbano e descontrole reaparece de modo recorrente. O desenho funciona para o ritmo, mas cobra um preço de representação que o longa assume.

O uso de Leslie Chow ilustra a administração de instabilidade dentro do esquema. O personagem quebra previsibilidade sempre que a narrativa se aproxima de rigidez. Em pequenas doses, impede que a sequência se torne apenas burocracia de pistas. Ao mesmo tempo, opera no limite entre caricatura e sátira. Essa oscilação existe e o filme a aceita como parte da equação de ritmo. O benefício imediato é manter a investigação viva no miolo, quando o formato poderia cansar.

Em atuação, o destaque recai sobre Ed Helms. Stu concentra a ansiedade que organiza as decisões e fornece a régua para medir custo e consequência. Bradley Cooper preserva a comunicação direta com o público por meio de escolhas simples e resolutivas. Zach Galifianakis faz humor físico com tempos curtos, sem interromper a linha. Ken Jeong atua como interrupção necessária. Jamie Chung e Mason Lee ancoram o conflito familiar e ajudam a manter o objetivo visível. O conjunto sustenta a química que deu certo no primeiro filme.

As cenas de perseguição, negociação e choque são curtas e claras. Elas existem para girar a engrenagem e não para inflar o espetáculo. A decupagem evita movimentos ornamentais e prioriza a legibilidade de ação. Cenários e figurinos trabalham a favor da compreensão de espaço e de deslocamentos, sem distrações. Quando a informação precisa estar em quadro, ela está. Quando a sequência pede aceleração, a montagem encurta o caminho. Não há pirotecnia de câmera. Há prioridades bem definidas.

O humor perde parte da espontaneidade do original e ganha controle. A ideia central é transformar a piada em consequência de prazos, tarefas e intermediações, e não em número isolado. O filme cumpre essa proposta de modo consistente. Para alguns espectadores, a previsibilidade decorrente desse método será um obstáculo. Para outros, a eficiência compensará a falta de invenção. A crítica precisa registrar as duas leituras porque o longa trabalha exatamente nessa fronteira.

“Se Beber, não Case! Parte II” confirma uma sequência construída para entregar ritmo e segurança, com elenco em sintonia e decisões técnicas que favorecem a clareza. O projeto assume a repetição como método e se responsabiliza pelos custos dessa escolha. Em retorno, oferece uma experiência compacta e coordenada, que cumpre o que propõe. A discussão sobre originalidade e representação continua válida, mas não compromete o funcionamento do mecanismo. Aqui a graça é resultado de execução e prazo. É um filme que trabalha, e o trabalho aparece em cada passo.

Filme: Se Beber, não Case! Parte II
Diretor: Todd Phillips
Ano: 2011
Gênero: Comédia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Revista Bula

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