Caubóis são uma das instituições mais sólidas e respeitáveis dos Estados Unidos. Durante o primeiro século de vida, quando aquela nova nação ao norte do rio Grande lutava para se estabelecer como uma República federativa verdadeiramente democrática na qual os treze estados originais deveriam, por evidente, observar o que estava disposto nas então dez emendas de sua Carta Magna, mas tinham autonomia para decidir segundo suas próprias urgências, não se pode negar a fragilidade das leis, o menoscabo do cidadão comum em acatá-las e a balbúrdia fundamental de que resultava todo esse processo. Revirando os segredos entre envergonhados e preciosos desse país e do povo e que o fundou e o habita, John Sturges (1910-1992) eleva “Sete Homens e um Destino” à categoria de um tratado sociológico sui generisdo dia a dia de um vilarejo perdido num recanto qualquer nas imediações com o México. Sturges aproveita bem os ventos de liberdade que sopravam naquele distante 1960 para carregar nas tintas do discursopatriota, e o que se vê em “Sete Homens e um Destino”é mais um dos tantos shows de interpretação de um elenco no auge da potência física e da maturidade profissional.
O texto de uma equipe composta por seis autores, da qual destacam-se os japoneses Akira Kurosawa (1910-1998), Shinobu Hashimoto (1918-2018) e Hideo Oguni (1904-1996), ainda causa espécie, e a adaptação dos roteiristas Walter Bernstein (1919-2021) e William Roberts (1913-1997) salta aos olhos justamente porque tem a sensibilidade de inserir todos os efeitos que transformaram essa história num clássico atemporal do cinema. Aqui, o bandoleiro Calvera, de Eli Wallach (1915-2014), barbariza a aldeia sem nome pelo qual figuras errantes somente passam, meio a contragosto. A única solução que se desenha no horizonte é recorrer a Chris Larabee Adams, o pistoleiro mais hábil do Velho Oeste, com quem se juntam Vin Tanner, Bernardo O’Reilly, Harry Luck, Chico, Lee e Britt, sujeitos durões e à margem da lei que costumam topar qualquer parada em troca de um bom punhado de dólares. Sturges ilumina delicadezas do trabalho de Bernstein e Roberts, como a passagem em que os moradores do povoado oferecem a Chris tudo quanto conseguiram amealhar depois de uma coleta entre os aldeães. Chris já havia prestado seus serviços a quem lhe pagasse muito dinheiro, mas nunca a quem lhe pagasse todo o seu dinheiro.
Essa é uma óbvia tentativa de transformar o bando de Chris numa espécie de versão ocidentalizada dos guerreiros do Japão feudal de Kurosawa, tipos cujo ganha-pão era derramar o sangue dos adversários, mas observando um código de honra, tácito, porém indefectível. Quase não há mulheres no filme, à exceção de um trecho breve em que o diretor sugere o caso de Chico, interpretado por Horst Buchholz (1933-2003) — um alemão que, curiosamente, se sai bem na pele de um índio —, e a mexicana Petra, de Rosenda Monteros (1935-2018), o que reforça a sensação de que desde o primeiro momento Sturges quis mesmo fixar-se ao máximo nos sete justiceiros e seus possíveis dilemas morais, boa parte deles concentrada no líder da gangue.
Envergando a carapuça do homem austero sobre a alma de um romântico ingênuo, que crê verdadeiramente na importância de seu ofício de matador, Yul Brynner (1920-1985) confere substância dramática e espírito ao que é contado. Recém-saído de uma fase exitosa com o tocante “O Rei e Eu” (1956), longa de Walter Lang (1896-1972) que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator, Brynner é a própria encarnação do maldito, do solitário, uma alma penada que vaga por aquelas imensidões em busca de propósito. Elmer Bernstein (1922-2004) e a inesquecível trilha que compôs para “Sete Homens e um Destino” tratam de fazer com que o espectador não deixe de ter isso claro em meio à poeira dourada da América antiga.
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