Adam Sandler talvez seja um dos astros de carreira mais errática que Hollywood já produziu. É admirável sua evolução artística, em especial nos últimos seis anos, quando parece ter ficado mais evidente uma vontade de estrelar filmes mais corajosos e, o principal, mais sofisticados. Produções como “Joias Brutas” (2019), de Ben e Josh Safdie, e “Arremessando Alto” (2022), dirigido por Jeremiah Zagar, revelam um ator disposto a lançar-se em papéis dramáticos ou tragicômicos sem medo do ridículo, experiência adquirida em trabalhos como os do começo da carreira. Sandler parece ter acusado o golpe da maturidade (felizmente); contudo, pelo que se assiste em “Um Maluco no Golfe 2”, o pastelão não sai mesmo de seu DNA, o que é uma pena. Não é difícil para Kyle Newacheck encontrar a fórmula que sustenta boa parte dos 114 minutos do enredo. Três décadas mais tarde, o diretor oferece uma continuação para o longa de Dennis Dugan apostando no poder encantatório da nostalgia, o que só faz sentido para os fãs de Sandler ou dos impossíveis holes-in-one que a computação gráfica trata de reproduzir em escala industrial.
Happy Gilmore não é mais um homem tão feliz. Se em 1996 o vencedor do U.S. Open de Golfe tinha o mundo a seus pés, agora o roteiro de Tim Herlihy e do próprio Sandler carrega nas tintas ao pintá-lo como um fracassado profissional, que conseguiu a façanha de matar a esposa, Virginia, de Julie Bowen, num acidente com sua ferramenta de trabalho (!). Happy, claro, tomou ojeriza ao esporte e não perde uma oportunidade de encharcar-se em uísque, mas nem isso tem feito com a assiduidade que gostaria, já que era Virginia quem tomava contas das finanças e, assim sendo, ele terminou falido. Newacheck suaviza muito da cadência anárquica que pulsa no material a cargo de Dugan, e mesmo a comédia física — uma marca do quase sessentão protagonista — não é mais aquela, por motivos óbvios. O grande acerto de “Um Maluco no Golfe 2” atende por Sandler, mas não se trata do veterano; na pele de Vienna, a filha de Happy, Sunny Madeline Sandler confere alguma substância dramática a narrativa, e esse é o gancho de que o diretor vale-se para prender o espectador, não obstante a segunda metade soe como um apêndice, gigantesco e tedioso, que só está ali porque esta é, afinal, uma sequência. Happy precisa de 74 mil dólares para mandar a filha para a Escola de Balé da Ópera de Paris, e por essa razão aceita voltar ao campo.
Newacheck equilibra sua volta ao passado, com destaque para Christopher McDonald vivendo o rabugento Shooter McGavin, incluindo rostos novos. As participações especiais de Margaret Qualley, Ben Safdie, Bad Bunny e Travis Kelce, além de célebres golfistas a exemplo de Jack Nicklaus, Rory McIlroy e Scottie Scheffler, reforçam a sensação de que o longa é, antes de tudo, uma feérica peça publicitária para divulgar empresas de tacos e apetrechos afins e os carnavalescos programas da televisão a cabo americana especializados em swings e woods. Esteticamente irrepreensível, “Um Maluco no Golfe 2” corta o ar ao insistir nas piadas de tiozão e abusar dos efeitos especiais. Adam Sandler fica melhor em jogos mais arriscados.
★★★★★★★★★★