Se começar um desses 7 livros, esquece: adeus sono, vida social e talheres

Se começar um desses 7 livros, esquece: adeus sono, vida social e talheres

É curioso o que um livro pode fazer com a fome. Não falo de metáfora. É literal. A colher parada no ar, o vapor escapando do prato, o arroz que esfria. Tudo porque uma frase, às vezes torta, às vezes límpida demais, decide puxar o leitor por dentro. E não solta. Há romances assim. Devoram quem lê. Não com pressa, mas com precisão. Chegam sem estardalhaço, abrem uma fresta. Uma voz, um nome, um gesto pequeno. E quando se percebe, já é tarde. A casa está desfeita, o tempo não responde, e o corpo, coitado, esquece que tinha sede.

Não é um dom do enredo. É uma espécie de encantamento na escuta. Há histórias que nascem para serem lidas com o estômago. E isso não depende de reviravolta ou pirotecnia. Depende de como elas olham para a gente. Como nos dizem eu também não entendo sem dizer nada. Ou como, ao falar de um lugar muito distante — Samarcanda, Holt, Lima, o Mississippi — parecem narrar uma coisa íntima, quase sua. Talvez porque sejam mesmo. Talvez porque a literatura, quando boa de verdade, saiba encontrar no outro aquilo que você ainda não tinha nomeado.

Os livros que fazem isso não são sempre bonitos. Alguns são feios, cortam, arranham. Têm humor ácido, voz suja, ironia sem aviso. Mas há neles uma gravidade que vicia. Como se cada página dissesse continua, só mais essa, depois você para. E claro que não para. Vai até o fim. E quando termina, não sabe muito bem quem voltou. Se o leitor ou alguém novo. Um tanto mais gasto. Um tanto mais vivo.

Não adianta fugir. Esses livros não se encaixam em agendas, nem respeitam a digestão. Eles param o mundo por dentro e pedem, em voz baixa, que você só volte quando terminar. Mesmo que do outro lado não haja mais talheres, nem hora certa, nem sono em paz. Só a lembrança de ter atravessado algo mais fundo que o tempo. E não ter se arrependido. Nem por um segundo.