4 livros brasileiros que qualquer IA escreveria melhor

4 livros brasileiros que qualquer IA escreveria melhor

A inteligência artificial pode até não sentir, mas reconhece constrangimento. Há textos que causam essa sensação peculiar: a de testemunhar, em câmera lenta, um equívoco literário se formando — página após página — sem que ninguém tenha coragem de intervir. Como quando um ator entra no palco com o figurino errado e continua, impávido, repetindo falas que não dialogam com ninguém. A plateia assiste, sem saber se deve rir, torcer ou apenas desviar os olhos.

Publicar um romance, no Brasil de agora, exige coragem — sim. Mas exige também algo cada vez mais raro: alguém que diga “não está pronto”. Esses quatro livros, cada um à sua maneira, falham justamente onde não se pode falhar: naquilo que o leitor não perdoa, mesmo quando não sabe nomear — a falta de alma, de timing, de escuta interna. A impressão é que foram escritos para cumprir metas, não para arriscar perguntas. E há algo de insuportavelmente triste nisso.

Não se trata de falta de boas ideias. Pelo contrário. Todas as obras citadas partem de premissas potentes, espinhosas, às vezes até geniais. O problema está naquilo que vem depois: no modo como os diálogos não respiram, como os personagens repetem as mesmas angústias com vocabulário de caixa de supermercado literário, e como a trama se desdobra sem surpresa, sem ruído, sem tropeço — como se tivesse passado por um corretor ortográfico existencial.

O fato é que uma IA, com meia dúzia de instruções narrativas e uma biblioteca de clássicos rodando no segundo plano, conseguiria entregar versões mais vivas, mais honestas — e, quem sabe, menos desesperadas por aprovação. Isso não é uma ode à tecnologia. É um alerta melancólico: a literatura, quando esquece de ser risco e vira repetição de fórmula, perde justamente aquilo que a torna humana. E aí, paradoxalmente, até uma máquina sente vergonha.

Sim. Até ela percebe.
E continua escrevendo — melhor.