7 livros que viraram muleta de quem nunca leu nada de verdade

7 livros que viraram muleta de quem nunca leu nada de verdade

A informação nunca esteve tão farta e tão acessível. Nunca foi tão simples encontrar dados, opiniões e análises sobre tudo. Entretanto, no frigir dos ovos, essa abundância de informação acaba por constituir um paradoxo curioso. Ao mesmo tempo que há mais gente disposta a informar-se, há mais gente incapaz de digerir o que lê, vê e ouve, e as razões são várias. Por uma necessidade de pertencer, de frequentar um dado círculo, ainda que de maneira virtual e ilusória, toma corpo uma falange de intelectuais de araque, daqueles que colam o nariz na vitrine das livrarias, entram, passam os olhos pela orelha de um certo livro e põem-se a tecer considerações as mais absurdas a respeito do que não leu.

Falar sobre o tema da moda, citar autores sobre os quais o inconsciente coletivo já cristalizou uma imagem ou parecer estar à frente de seu tempo não deixam de ser formas de inspirar respeito e alcançar prestígio. No ambiente profissional, invocar uma dada publicação culmina naquela chance de aumento; no simulacro de vida que as redes sociais congregam, um discurso eloquente e uma erudição mesmo que fingida geram engajamento, que por seu turno chama dinheiro. Afetar conhecimento dá lucro. Por outro lado, empenhar-se em leituras “obsoletas”, buscar a reflexão crítica sobre elas e, o principal, ir além da margem e da superfície, vasculhar o fundo de baús e perder-se pelas estantes das bibliotecas não rende curtidas, não se converte em memes e não traz a sonhada monetização. 

Com o avanço da internet, surgiram alguns jeitos novos de pensar. Plataformas como YouTube, TikTok e Spotify oferecem vídeos e áudios com resumos, análises rápidas e conteúdos simplificados. Pessoas que querem parecer bem-informadas valem-se de tais recursos a fim de ter uma noção básica de tópicos diversos e falar qualquer coisa sobre eles. Tomar assento em debates que se pretendem relevantes sem dominar o que é abordado virou tendência, ou hype, para usar um termo bem característico dessa turma. Por uma ou outra razão, os sete títulos aqui elencados acabaram virando exemplo de um requinte intelectual meramente cosmético, símbolos ou de quem acha que está abafando em sua vivência “literária” porque leu (e entendeu) “O Alquimista” (1988), ou daqueles que decoram o título e o enredo de uma obra da verdadeira literatura, feito “Em Busca do Tempo Perdido” (1913), o livro ao qual Marcel Proust (1871-1922) devotou sua vida, e com isso sustentam horas de lero-lero soporífero, papagueando acerca de suas madeleines pretensiosas e que só sabem a ranço. Todos temos o direito de querer-nos maiores do que de fato somos. Envolver os outros na brincadeira é outra história.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.