7 livros que todo mundo mente que leu — mas quase ninguém passou da metade

7 livros que todo mundo mente que leu — mas quase ninguém passou da metade

Eles estão na estante como troféus de um jogo que ninguém jogou até o fim. E, ainda assim, há certo orgulho em pronunciá-los — como se apenas o nome já bastasse para abrir portas, adornar silêncios ou insinuar profundidades. Há livros que cumprem um papel social estranho: não precisam ser lidos, precisam apenas ter sido comprados, citados uma vez ou duas, deixados à vista. Basta. O resto é convenção. Ou medo. Ou cansaço, talvez. Porque nem sempre se trata de preguiça — há também o peso da densidade, o assombro diante da primeira página que já anuncia a travessia como se fosse um deserto sem fim. O leitor começa, insiste, volta ao início, se distrai… até que algo dentro se cala. E ali ficam, inacabados, mas reverenciados como relíquias sagradas de uma devoção que nunca se concretizou.

Não é exatamente mentira — é uma defesa. Admitir que não leu certos livros parece confessar um fracasso íntimo, uma falha moral. Afinal, quem nunca disse que terminou “Ulisses” quando mal passou do primeiro monólogo? Quem nunca sorriu afirmativamente ao ouvir “Em Busca do Tempo Perdido”, mesmo sem ter enfrentado mais que vinte páginas? O constrangimento é coletivo, difuso, quase ritual. E ainda assim há beleza nisso — nessa reverência vazia, nesse amor por livros que só existem como promessa. Porque, no fundo, talvez seja mais honesto do que parece: há obras que nos tocam justamente por não terem sido lidas até o fim. Como se o abandono fosse também uma forma de encontro — parcial, imperfeito, mas legítimo.

Esses livros habitam um território curioso, entre o prestígio e o trauma, entre o desejo e o desinteresse. São monumentos silenciosos. Atravessá-los exige mais que tempo: exige desarmar o ego, suportar o tédio, acolher a confusão. E nem todos querem isso. Ou podem. Ou precisam. Há quem os leia como quem escala montanhas para provar algo. Há quem os deixe quietos, respeitosamente intocados, como quem visita um túmulo antigo. E há os que mentem — não por vaidade, mas por vergonha de não ter suportado a beleza difícil, o peso da linguagem, a demora dos grandes livros. Sim. Às vezes, é só isso.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.