Forças as mais enigmáticas e terríveis agem na vida de cada homem, do momento em que abre os olhos para a luz do mundo até a sua derradeira hora, e se não nos tornamos todos os monstros que nunca deixam de habitar o mais fundo de nossa natureza é só porque colocamos em prática, auxiliados pelo Ente superior que recebe nomenclaturas as mais variadas a depender da freguesia, as providências que garantem alguma ordem em meio ao ubíquo caos do existir. Para tentar entender a mente de um criminoso, é comum e mesmo recomendável procurar algum resquícios de humanidade em suas ações. Há diversas linhas de estudos quanto a conjecturar o jeito mais eficaz de se chegar ao íntimo de pessoas que muitas vezes já perderam os possíveis elos cívicos com o mundo exterior, restando no fundo só uma personalidade doentia, sedenta de reparações que só elas admitem como justas.
“O Plano Perfeito 2” é um desses arrasa-quarteirões tipicamente hollywoodianos, que apostam fábulas em tecnologia aspirando a multiplicar seu orçamento em algumas vezes. Foi o que se deu em 2006, quando Spike Lee lançou “O Plano Perfeito”, cujo investimento de 45 milhões de dólares virou uma bilheteria de mais de 186 milhões, e então acharam uma boa ideia repetir a dose. Acontece que M.J. Bassett não tem o talento de Lee e faz o que pode para conferir autenticidade e algum sentido a história de um negociador de reféns e uma agente do FBI que precisam superar diferenças e empenhar-se para desvendar o que existe por trás de um assalto tão repentino quanto meticuloso, em papéis que foram de Denzel Washington e Jodie Foster.
Há filmes difíceis de classificar. Seja por uma escolha consciente do diretor, que interpreta de maneira idiossincrásica demais o que chega-lhe às mãos, seja por esse diretor não entender a natureza do material que passa a decupar e disso sair a geleia geral que tanto pode apetecer como provocar enjoo. O roteiro de Brian Brightly e Russell Gewirtz mantém a estrutura de um homem negro e uma mulher loira de temperamentos incompatíveis unidos por uma circunstância adversa, o que aumenta a sensação de que tudo é mesmo um pastiche intencional.
Uma quadrilha tem por reféns funcionários e visitantes do Federal Reserve, o banco central americano, e a situação foge a qualquer controle quando os bandidos obrigam as vítimas a trocar de roupa e usar máscara, para que possam ter um a mais trunfo sobre a polícia. Remy Darbonne e Brynn Stewart até poderiam lembrar “A Gata e o Rato” (1985-1989), o seriado concebido por Glenn Gordon Caron, caso Aml Ameen e Rhea Seehorn tivessem carisma para tanto. Entretanto, quem rouba a cena e garante esse posto é Ariella Barash, a vilã de Roxanne McKee, que parece querer vingar Dalton Russell, o irmão mais velho interpretado por Clive Owen treze anos antes. Não é incomum que antagonistas tornem-se mais interessantes que os mocinhos, mas em “O Plano Perfeito 2” isso é um sinal especialmente ruim.
★★★★★★★★★★