Crônicas do paraíso

A volta daquele que nunca vai: Seu Osvaldo conversa com o correspondente de nossa coluna lá em Quiprocó

A volta daquele que nunca vai: Seu Osvaldo conversa com o correspondente de nossa coluna lá em Quiprocó

Na rodoviária de Quiprocó da Serra de Santo Grande do Sul, Seu Osvaldo, bilheteiro, enfrenta os desdobramentos de uma crônica: foto trocada, medo de ser reconhecido e gozações no forró das Aroeiras Vermelhas. Entre a partida para a capital e o Bar do Macaco Prego, conversa com Dênis Enrique, freguês do guichê e figurão na cidade. Falam de boatos, internet, WhatsApp e do cão Tião, enquanto o ônibus se aproxima e o Fantástico começa, num domingo que quase não termina.

Eusébio — ou as lições de um bonsai que repousa sobre minha mesa de trabalho

Eusébio — ou as lições de um bonsai que repousa sobre minha mesa de trabalho

Tenho um bonsai em cima da minha mesa e é para ele que olho toda vez que exerço uma pausa entre uma linha escrita e uma linha pensada. Tenho angústias, como sói acontecer com pessoas da minha idade, da minha profissão, da minha condição estrangeira, da minha natureza. O bonsai não é angustiado: exala calma, sossego, inércia. É da sua natureza. É sua natureza. É natureza.

Adi e Oto

Adi e Oto

O homem se contorcia todo, girava sobre si mesmo. Pecha e pose de viajante influenciador digital. Esticava o braço alguns milímetros a mais do que o corpo permitia, era isso que deixava clara sua expressão facial, entre o êxtase e o desespero. Ao seu lado, a mulher parecia lamentar as férias, a companhia, o casamento.

Querem tomar o lugar do Seu Osvaldo?

Querem tomar o lugar do Seu Osvaldo?

Na rodoviária de Quiprocó da Serra de Santo Grande do Sul, Seu Osvaldo resiste à modernidade com o mesmo quepe alinhado e o orgulho de quem ainda oferece um “bom dia” e um cafezinho. Enquanto os aplicativos tomam conta das passagens, ele observa, descrente, o avanço das telas e das inteligências artificiais que não sabem olhar nos olhos. Entre gargalhadas secas e suspiros nostálgicos, Seu Osvaldo se pergunta: se o mundo mudou tanto, será que ainda há lugar para quem trabalha com alma?

Dos leitores. Aos leitores

Dos leitores. Aos leitores

Leitores interpelam o cronista sobre tudo: se pensa antes de escrever, se crônicas precisam fazer sentido, como falou com Seu Osvaldo morando em Bled, se vive mesmo na Eslovênia. Querem signo, ideias, amigos, idade, livros, nome, horário de acordar, bebida matinal, extravios diários. Perguntam de laudas, de vida em outros planetas, do tamanho do lago. Duvidam da veracidade, não perguntam nada, xingam de farsa. Ele responde seco: com a boca, de ônibus, com plantas, café, uma volta; e corrige nada.