Crônicas do paraíso

É Natal no zoológico

É Natal no zoológico

Adi gosta do inverno por dois motivos muito práticos. O primeiro: há menos visitantes batendo no vidro, exigindo atenção, atrapalhando a modorra diuturna de quem vive em um recinto de zoológico. A segunda razão é justamente a escuridão expandida. Não é depressão sazonal, mas Adi é um esmerado especialista em emendar uma soneca na outra como se todo dia fosse domingo e não houvesse, er, o impaciente Oto a lhe cutucar.

Decepções

Decepções

Existe um bombom de marca famosa cujo recheio é uma suculenta gororoba chocolática, de lamber os beiços. Lançaram outro dia uma versão gigante dele. Achei que finalmente tinham entendido o consumidor: colheradas, excessos, alguma generosidade para o café da tarde. Comprei. Foi uma decepção. A casca era grande, sim. Mas, por dentro, havia apenas o velho silêncio das promessas infladas. Fiquei ali, bombom oco em uma mão, cara de ludibriado refletindo na colher empunhada pela outra.

O fusquinha do conhecimento

O fusquinha do conhecimento

Na minha primeira sexta-feira de aula na faculdade, o professor J. interrompeu um interessante arrazoado acerca da dialética hegeliana para comentar que a partir daquele fim de semana deixávamos de ser meros adolescentes no almoço de domingo da casa dos pais. Estávamos revestidos de uma autoridade estranha, esta que adorna não o corpo mas a mente daqueles que sabem fazer parte de uma privilegiada elite intelectual.

Um nome para o soldador

Um nome para o soldador

Lembrei-me do livro mais recente do Chico Buarque, ‘Bambino a Roma’, porque o personagem comenta que naquele exílio italiano era por meio de raras ligações telefônicas que seus pais sabiam de notícias do Brasil, do suicídio do Getúlio Vargas às derrotas do Botafogo. Já se vão quase oito anos do meu degredo e ainda tenho amigo que me manda mensagem no WhatsApp avisando coisas como “morreu Jards Macalé”, “no fim o Palmeiras se classificou para a final da Libertadores” ou “tá fazendo maior calorão aqui em São Paulo”.

Não pode haver Dorival Caymmi na Eslovênia

Não pode haver Dorival Caymmi na Eslovênia

Para os padrões brasileiros, era um domingo frio, dado que os termômetros marcavam seus oito, nove graus. Por aqui, um típico dia ensolarado de outono. Para mim, era um clima ameno. Cientes de que poderia ser a última chance de um domingo pleno de sol no ano de 2025, resolvemos botar as magrelas no carro e dirigir hora e meia até o imenso, impávido colosso, litoral esloveno — uma meia dúzia de cidadelas espalhadas por uma costa de 46 quilômetros e 600 metros, veja só.