Autor: Revista Bula

O escritor que ensinou o Brasil a rir partiu. O riso ficou órfão. O país chora baixinho

O escritor que ensinou o Brasil a rir partiu. O riso ficou órfão. O país chora baixinho

Porto Alegre amanhece fria, em agosto; um sax em repouso, e o país segura o fôlego. Luis Fernando Verissimo, menino das gráficas, cronista de voz baixa, saxofonista de clubes e torcedor colorado, fecha o arco na cidade natal. Entre prensas e bondes, aprendeu atenção; entre salas e redações, entregou delicadeza e lâmina limpa. Viveu timidez generosa, respondeu leitores, preferiu ternura com precisão. Aos 88, morreu por complicações de pneumonia; ficam a cadência das colunas, o humor que cuida, a memória que não se apaga.

Numa tarde de fevereiro, aos 47 anos, o escritor que fez da solidão literatura despedia-se do mundo

Numa tarde de fevereiro, aos 47 anos, o escritor que fez da solidão literatura despedia-se do mundo

Da infância em Santiago ao retorno a Porto Alegre, a trajetória de Caio Fernando Abreu passa por adolescência em cidade grande, redações, vigilância política, uma temporada de autoexílio europeu e a decisão pública de falar do próprio corpo. Contista e cronista central da virada oitenta-noventa, ele fez da escuta uma ética e do detalhe um abrigo. Aos 47 anos, encerrou a vida numa tarde de fevereiro. O que ficou foi uma voz capaz de ensinar cuidado, nomear fragilidades e repactuar o afeto com quem lê em dias curtos de medo

Épico histórico ambientado na Era Viking chega à Netflix: entrega mais do que promete Divulgação / Focus Feature

Épico histórico ambientado na Era Viking chega à Netflix: entrega mais do que promete

Dirigido por Robert Eggers, o épico acompanha um príncipe viking que, após o assassinato do pai, retorna anos depois para recuperar a honra, confrontar a mãe e o usurpador. A narrativa prioriza clareza de ação e solenidade ritual. Violência material, paisagens severas e reconstituição histórica austera compõem um espetáculo físico, coeso e sem concessões irônicas, até o fim.

Ele tinha 44 anos, o corpo em frangalhos e uma lucidez que feria. A cirrose venceu o homem. A poesia venceu a cirrose

Ele tinha 44 anos, o corpo em frangalhos e uma lucidez que feria. A cirrose venceu o homem. A poesia venceu a cirrose

Poeta curitibano de 1944 a 1989, Paulo Leminski cruzou origem polonesa e materna portuguesa, negra e indígena com judô, concretismo e música para lapidar uma voz breve e incendiária. Nas ruas e nos estúdios, uniu filosofia e fala de bar, amizade e risco, alegria e fenda. A redemocratização fervia; o corpo cobrava juros. O alcoolismo apertou, vieram internações, e Curitiba o velou jovem. Ficou a obra enxuta, lembrada por leitores e canções, que segue alterando o ar de quem a encontra, ainda hoje, em escolas, palcos e bibliotecas da capital.

Quando a última livraria fechou, a cidade se despediu de si mesma

Quando a última livraria fechou, a cidade se despediu de si mesma

Depois de cinquenta e três anos de funcionamento, a última livraria da cidade fechou em 2025. O anúncio no vidro simbolizou mais que o fim de um negócio: marcou a perda de um espaço de encontro, cultura e identidade coletiva. Em meio à ascensão do comércio digital, o encerramento deixa uma ausência difícil de preencher. Sem biblioteca pública, a cidade perde também seu único ponto de acesso comum à leitura.