Autor: Revista Bula

Ela pagou o preço do escândalo. Morreu discretamente. Virou lenda. Mudou a poesia brasileira

Ela pagou o preço do escândalo. Morreu discretamente. Virou lenda. Mudou a poesia brasileira

Um retrato biográfico e emocional de Hilda Hilst: de Jaú à Casa do Sol, atravessando juventude, ditadura e redemocratização. Infância marcada por fraturas familiares, estudo em São Paulo, disciplina feroz da escrita, amores, amigos, cães, pátio de luz. Rigor formal, coragem temática, fé áspera e desejo pensante. Também a queda de 2004, hospital, velório simples, e depois a guarda da memória por leitores e editoras. Uma vida que transformou silêncio em verbo e devolveu responsabilidade ao leitor.

Ele morreu aos 20. Fez do amor uma faca. E ensinou o Brasil a beijar o abismo

Ele morreu aos 20. Fez do amor uma faca. E ensinou o Brasil a beijar o abismo

Ele nasceu em 1831, cresceu entre São Paulo e o Rio, estudou línguas, escreveu como quem precisava de ar e fez do Largo São Francisco um laboratório. Em 25 de abril de 1852, aos vinte, a vida parou e o país ganhou um luto inaugural. Ficaram versões de morte, ficaram papéis, ficaram amigos que os levaram à oficina. Esta reportagem percorre infância, adolescência, febres, humor e legado em salas de aula e sebos.

Quem foi que disse que a poesia não morre? Aos 66 anos, ele partiu. Antes, fez o mundo parar para ouvir o Brasil

Quem foi que disse que a poesia não morre? Aos 66 anos, ele partiu. Antes, fez o mundo parar para ouvir o Brasil

Ele nasceu no Rio, 1913, numa casa em que piano e jornal abriam o dia. Formou-se em Direito, estreou em livro antes de aprender a redigir telegramas. Diplomata desde 1943, passou por Los Angeles, Paris, Montevidéu; em 1969, o AI-5 o afastou e lhe entregou a noite inteira. Viveu nove casamentos, escreveu e recomeçou com a mesma fé. Fez da palavra passaporte e da rua sala de aula. Morreu em 1980, aos 66, e continua presente onde alguém precisa respirar melhor.

Panelas vazias. Filhos com fome. Uma mãe arrancou do lixo um caderno. Reescreveu a história do Brasil

Panelas vazias. Filhos com fome. Uma mãe arrancou do lixo um caderno. Reescreveu a história do Brasil

Nas bordas do Tietê, um bico de luz vacila; Carolina pesa arroz, contas, palavras. Chega do interior, ergue barraco no Canindé, empurra carroça, aprende a registrar preço, fome, ameaça de despejo. Um repórter encontra cadernos encordoados; a cidade, enfim, escuta. Vêm palcos, dedicatórias, porcentagens miúdas, promessas curtas. Ela grava canções; o mercado distrai o ouvido. Em Parelheiros, o fôlego rareia; vizinhos acendem lâmpadas, o bairro despede-se. Ficam cadernos, vozes de sala de aula, bibliotecas de bairro, meninas copiando frases.

O Brasil que consagra também apaga: o gênio que foi comparado a Guimarães Rosa e morreu esquecido

O Brasil que consagra também apaga: o gênio que foi comparado a Guimarães Rosa e morreu esquecido

Nascido em 1936, em Raizama, na Chapada dos Guimarães, Ricardo Guilherme Dicke cresceu em Cuiabá como primogênito de sete irmãos. Estudou filosofia no Rio de Janeiro, voltou ao Mato Grosso em 1975 e seguiu carreira discreta como professor, pintor e escritor. Vivia entre a precariedade e a fé na literatura, longe do eixo Rio-São Paulo, sustentando uma obra que refletia dureza e grandeza humanas. Morreu em 2008, praticamente esquecido, deixando um legado que hoje retorna como constelação recuperada pela crítica e pela academia.