Autor: Revista Bula

A eternidade tem endereço. Adélia Prado: a poeta que ensinou o Brasil a ouvir Deus em voz baixa

A eternidade tem endereço. Adélia Prado: a poeta que ensinou o Brasil a ouvir Deus em voz baixa

De um quintal de Divinópolis molhado em 1950, quando perdeu a mãe e ganhou o primeiro verso, nasce uma voz que atravessa cozinhas, salas de aula, palcos e gabinetes. Professora por décadas, filósofa tardia, lida por Drummond, ela organiza o país com pão, oração e riso curto. Entre teatro, serviço público e prêmios maiores da língua, segue escrevendo com nitidez que consola e desinstala. Até o governador que a confundiu com locutora virou nota de rodapé. Esta é a história de atenção, coragem e esperança adulta em pleno Brasil contemporâneo.

Órfã aos 3. Viúva aos 34. Antes de Drummond, ela reinventou a poesia. Aos 63, o câncer silenciou sua voz

Órfã aos 3. Viúva aos 34. Antes de Drummond, ela reinventou a poesia. Aos 63, o câncer silenciou sua voz

Filha do Rio antigo, órfã cedo, criada pela avó açoriana, ela fez da discrição um modo de grandeza. Professora, jornalista, viajante atenta, atravessou a Primeira República, o Estado Novo e a redemocratização sem perder o compasso íntimo. Entre salas de aula e páginas, inventou uma disciplina afetiva para um país em construção. O casamento com o ilustrador Fernando Correia Dias rendeu parceria artística e uma dor que a vida não apagou. No fim, a doença estreitou os dias; o trabalho, nunca. Ficou a música baixa que organiza o mundo inteiro.

Quatro filhos sepultados. Salário curto. Pulmões cansados. Morte aos 36. A história do poeta que venceu o esquecimento

Quatro filhos sepultados. Salário curto. Pulmões cansados. Morte aos 36. A história do poeta que venceu o esquecimento

Filho de ex-escravizados, nascido em Desterro em 1861, Cruz e Sousa recebeu letras por tutela ambígua e aprendeu cedo que talento encontra portas com trancas. Recusado como promotor em Laguna por ser negro, migrou para o Rio, onde trabalhou como arquivista da Estrada de Ferro Central do Brasil, escreveu à noite, casou-se com Gavita e enterrou quatro filhos. A tuberculose o levou a Minas; morreu em Curral Novo, aos 36, em 19 de março de 1898.

O avião tocou o solo antes da pista e pegou fogo. Ela tinha 27 anos. Antes, mudou como o Brasil vê as mulheres

O avião tocou o solo antes da pista e pegou fogo. Ela tinha 27 anos. Antes, mudou como o Brasil vê as mulheres

Filha de Niterói, nascida em 25 de março de 1945, Leila Diniz fez da própria vida uma afirmação sem catecismo. A juventude no Rio acendeu presença, humor, desejo e trabalho. A voz franca atravessou salas tímidas e virou assunto de país. Na orla, em 1971, sua gravidez à luz do dia instalou um espelho incômodo; no ano seguinte, a queda de um jato em Nova Délhi interrompeu o fôlego de quem começava a respirar por conta própria. Ficou um legado simples e exigente: alegria com responsabilidade, coragem cotidiana, sem bravata.

O escritor que ensinou o Brasil a rir partiu. O riso ficou órfão. O país chora baixinho

O escritor que ensinou o Brasil a rir partiu. O riso ficou órfão. O país chora baixinho

Porto Alegre amanhece fria, em agosto; um sax em repouso, e o país segura o fôlego. Luis Fernando Verissimo, menino das gráficas, cronista de voz baixa, saxofonista de clubes e torcedor colorado, fecha o arco na cidade natal. Entre prensas e bondes, aprendeu atenção; entre salas e redações, entregou delicadeza e lâmina limpa. Viveu timidez generosa, respondeu leitores, preferiu ternura com precisão. Aos 88, morreu por complicações de pneumonia; ficam a cadência das colunas, o humor que cuida, a memória que não se apaga.