Autor: Helena Oliveira

Para maratonar: série que satiriza 30 anos de cultura pop é mais inteligente do que parece e está na Netflix Divulgação / Hulu

Para maratonar: série que satiriza 30 anos de cultura pop é mais inteligente do que parece e está na Netflix

A primeira impressão que “Future Man” provoca é a de uma provocação travestida de comédia juvenil: nada ali parece disposto a se levar a sério, e talvez seja justamente essa recusa obstinada à solenidade que libere a série para algo mais interessante que a simples paródia. Em vez de repetir a ladainha nostálgica que tantas produções tentam vender como homenagem, ela prefere esgarçar cada referência até o limite do absurdo, como se testasse a paciência do espectador e, ao mesmo tempo, sua cumplicidade.

Filme coreano com humor amoral e caos político vira a melhor surpresa do ano, na Netflix Divulgação / Netflix

Filme coreano com humor amoral e caos político vira a melhor surpresa do ano, na Netflix

A primeira impressão diante de “Good News” é a de um jogo cuidadosamente armado para sabotar expectativas. A narrativa começa como se alguém tivesse decidido transformar um episódio tenso da história recente do Japão numa espécie de farsa controlada, e a ousadia dessa escolha funciona porque o filme entende perfeitamente o terreno frágil em que pisa. Há senso de risco, mas também um prazer quase insolente em testar os limites do riso diante de um evento real que, em 1970, poderia ter terminado de forma trágica.

Romance francês épico inspirado por Orfeu e Eurídice estreia no Prime Video e promete provocar uma saudade que não tem nome Divulgação / Pyramide Distribution

Romance francês épico inspirado por Orfeu e Eurídice estreia no Prime Video e promete provocar uma saudade que não tem nome

“Retrato de uma Jovem em Chamas” cria um tipo de fascínio raro: aquele que não começa no enredo, mas na vibração que antecede qualquer palavra. Existe algo quase insolente na forma como o filme se recusa a oferecer pressa ao espectador, como se dissesse que certas experiências não suportam atalhos. A lentidão inicial, tão mal interpretada por quem espera estímulo imediato, funciona como um ritual silencioso para aproximar o olhar daquilo que realmente importa: dois corpos que aprendem a se reconhecer antes de se tocar.

Fantasia minimalista na Netflix transforma vampirismo em dilema moral desconfortante Divulgação / Art et essai

Fantasia minimalista na Netflix transforma vampirismo em dilema moral desconfortante

“Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário” é um daqueles filmes que assumem riscos formais e éticos sem pedir permissão ao espectador, construindo uma experiência que oscila entre o desconforto calculado e a ironia existencial. A narrativa apresenta uma vampira que se recusa a matar e um jovem que deseja morrer, colocando em colisão duas vontades que, ao se encontrarem, abalam qualquer leitura simplista sobre vida, morte e a responsabilidade que se assume quando se toca o limite do outro.

A fantasia caótica de Terry Gilliam com Damon e Ledger chega à Netflix para provar que contos de fadas nunca foram inocentes Divulgação / Dimension Films

A fantasia caótica de Terry Gilliam com Damon e Ledger chega à Netflix para provar que contos de fadas nunca foram inocentes

A floresta de um conto popular costuma ser tratada como um espaço simbólico, mas em certas narrativas ela se impõe como registro geopolítico involuntário, uma zona cinzenta onde impérios testam limites e indivíduos negociam a própria relevância. “Os Irmãos Grimm” mergulha exatamente nesse território, ainda que com a leveza colorida de um espetáculo de fantasia. O curioso é que, por trás do verniz de aventura, o filme expõe uma tensão que ressoa para além da tela: a tentativa de transformar fabulações ancestrais em mercadoria palatável, sem admitir que a própria natureza dessas histórias repele domesticações.