Autor: Helena Oliveira

O filme de realismo fantástico que transforma o impossível em metáfora da solidão moderna, na Netflix Divulgação / Netflix

O filme de realismo fantástico que transforma o impossível em metáfora da solidão moderna, na Netflix

O mito de voar sempre carregou uma promessa indecente: escapar daquilo que nos prende ao chão, às convenções, às regras, às etiquetas silenciosas que nos ditam como viver. Em “O Homem sem Gravidade”, essa fantasia ganha corpo no momento em que um recém-nascido se recusa, com elegância involuntária, a aceitar o peso do mundo. Não é apenas um bebê que flutua.

A nova obsessão da Netflix que faria Nietzsche levantar da tumba Divulgação / Columbia Pictures

A nova obsessão da Netflix que faria Nietzsche levantar da tumba

Há filmes que tentam engarrafar perguntas universais para vendê-las com pipoca. “Além da Morte” parte dessa ambição perigosa: decifrar o depois, esse território que nenhuma religião realmente conseguiu monopolizar, embora todas as marcas tentem licenciar. Cinco jovens médicos, orgulhosos de sua inteligência treinada em laboratório, decidem brincar com o limite que a biologia ainda insiste em chamar de vida.

Um pesadelo hedonista: o terror com Christian Bale, na Netflix, que deixaria Baudrillard sem palavras Divulgação / Lionsgate

Um pesadelo hedonista: o terror com Christian Bale, na Netflix, que deixaria Baudrillard sem palavras

Há algo de deliciosamente repulsivo em “Psicopata Americano”. O filme é um espelho de corpo inteiro que reflete não o monstro, mas o espectador. Nós, com nossos sorrisos bem treinados, nossas vidas editadas em filtros e nossas angústias embrulhadas em sacolas de grife. Patrick Bateman não é um psicopata isolado em sua torre de vidro; é o filho mais fiel de um capitalismo que devora a si mesmo em busca de sentido. Ele mata, sim, mas antes disso, consome, e é devorado.

O olhar delicado de Ang Lee sobre Jane Austen que rendeu um Oscar e está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

O olhar delicado de Ang Lee sobre Jane Austen que rendeu um Oscar e está na Netflix

Há algo deliciosamente anacrônico em assistir “Razão e Sensibilidade” hoje, como se abríssemos uma janela para um mundo em que a emoção usava espartilho e o decoro ditava até o ritmo das lágrimas. O filme de Ang Lee, com roteiro de Emma Thompson, não é apenas uma adaptação fiel de Jane Austen: é um duelo refinado entre a contenção e o desvario, entre o que se sente e o que se ousa dizer. E talvez seja justamente essa tensão, essa hesitação entre o que pulsa e o que se permite, que faz dele um dos retratos mais humanos já filmados sobre a linguagem do afeto.

A lógica do absurdo: por que obra com Joaquim Phoenix, na Netflix, é o melhor filme niilista que você ainda não viu Divulgação / Sony Pictures

A lógica do absurdo: por que obra com Joaquim Phoenix, na Netflix, é o melhor filme niilista que você ainda não viu

Woody Allen talvez seja o último romântico do niilismo. Em “O Homem Irracional”, ele se diverte, e se confessa, na pele de um filósofo atolado em angústia, cuja lucidez virou anestesia. Abe Lucas, vivido por Joaquin Phoenix, é um professor que carrega na barriga o peso de suas dúvidas existenciais e na mente a insolência de quem leu demais para acreditar em qualquer salvação.