Autor: Helena Oliveira

Sátira com Brad Pitt na Netflix é o diagnóstico de um sistema que prefere repetir erros Divulgação / Netflix

Sátira com Brad Pitt na Netflix é o diagnóstico de um sistema que prefere repetir erros

A confusão calculada que guia “War Machine” começa muito antes de qualquer explosão, discurso militar ou mapa estratégico. Ela se instala naquele instante desconfortável em que o espectador percebe que não está diante de uma narrativa de guerra tradicional, mas de um espelho deformado o suficiente para revelar verdades que, ditas de forma direta, soariam menos convincentes. O filme encontra força justamente nesse estranhamento: a postura rígida de um general que parece ter sido moldado em laboratório, a coreografia involuntária da burocracia militar e a incapacidade de reconhecer que nenhuma engrenagem funciona como os discursos prometem.

Vencedor do Oscar e com atuação impecável de Viggo Mortensen, filme é joia rara no Prime Video Divulgação / Diamond Films

Vencedor do Oscar e com atuação impecável de Viggo Mortensen, filme é joia rara no Prime Video

“Green Book: O Guia” é um daqueles títulos que parecem, à primeira vista, obedecer a um rádio interno que insiste em suavizar tudo o que é complexo, como se o cinema precisasse sempre envolver o espectador em algodão e mantê-lo protegido de desconfortos maiores. No entanto, o que acontece aqui é menos uma tentativa de adocicar conflitos históricos e mais um experimento curioso de aproximação entre duas subjetividades que, em qualquer outra conjuntura, jamais se tocariam.

Últimos dias na Netflix: longa que escancarou o colapso de um país enquanto narrou a história de uma das maiores bandas dos anos 1980

Últimos dias na Netflix: longa que escancarou o colapso de um país enquanto narrou a história de uma das maiores bandas dos anos 1980

A inquietação que envolve “Straight Outta Compton” nasce menos da violência explícita ou das tensões sexuais que tantos comentários reducionistas parecem enxergar, e mais da dificuldade coletiva de lidar com um espelho que devolve, sem delicadezas, uma parte pouco conveniente da história recente dos Estados Unidos. A narrativa pulsa com a energia de quem tentava transformar sobrevivência em linguagem e trauma em discurso, mas muita gente insiste em transformar esse movimento em um julgamento moral raso, como se as contradições desses jovens pudessem ser separadas do ambiente que moldou cada um deles.

Filme com Hillary Swank e Clint Eastwood no Prime Vide vai te desmontar emocionalmente sem pedir licença

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A sala escura sempre teve essa capacidade curiosa de revelar fragilidades que ninguém admite carregar no dia a dia. Em “Menina de Ouro”, o que se impõe primeiro não é a dor, a glória ou o sacrifício, mas a estranha familiaridade de três figuras que orbitam umas às outras como se fossem restos de uma constelação antiga, cada qual carregando uma pequena ruína que se tenta manter em pé a golpes de silêncio. É um relato que recusa sentimentalismos fáceis e, ao mesmo tempo, arranca do espectador uma intimidade desconfortável.

Para maratonar: série que satiriza 30 anos de cultura pop é mais inteligente do que parece e está na Netflix Divulgação / Hulu

Para maratonar: série que satiriza 30 anos de cultura pop é mais inteligente do que parece e está na Netflix

A primeira impressão que “Future Man” provoca é a de uma provocação travestida de comédia juvenil: nada ali parece disposto a se levar a sério, e talvez seja justamente essa recusa obstinada à solenidade que libere a série para algo mais interessante que a simples paródia. Em vez de repetir a ladainha nostálgica que tantas produções tentam vender como homenagem, ela prefere esgarçar cada referência até o limite do absurdo, como se testasse a paciência do espectador e, ao mesmo tempo, sua cumplicidade.