Autor: Edison Veiga

Adi e Oto

Adi e Oto

O homem se contorcia todo, girava sobre si mesmo. Pecha e pose de viajante influenciador digital. Esticava o braço alguns milímetros a mais do que o corpo permitia, era isso que deixava clara sua expressão facial, entre o êxtase e o desespero. Ao seu lado, a mulher parecia lamentar as férias, a companhia, o casamento.

Querem tomar o lugar do Seu Osvaldo?

Querem tomar o lugar do Seu Osvaldo?

Na rodoviária de Quiprocó da Serra de Santo Grande do Sul, Seu Osvaldo resiste à modernidade com o mesmo quepe alinhado e o orgulho de quem ainda oferece um “bom dia” e um cafezinho. Enquanto os aplicativos tomam conta das passagens, ele observa, descrente, o avanço das telas e das inteligências artificiais que não sabem olhar nos olhos. Entre gargalhadas secas e suspiros nostálgicos, Seu Osvaldo se pergunta: se o mundo mudou tanto, será que ainda há lugar para quem trabalha com alma?

Dos leitores. Aos leitores

Dos leitores. Aos leitores

Leitores interpelam o cronista sobre tudo: se pensa antes de escrever, se crônicas precisam fazer sentido, como falou com Seu Osvaldo morando em Bled, se vive mesmo na Eslovênia. Querem signo, ideias, amigos, idade, livros, nome, horário de acordar, bebida matinal, extravios diários. Perguntam de laudas, de vida em outros planetas, do tamanho do lago. Duvidam da veracidade, não perguntam nada, xingam de farsa. Ele responde seco: com a boca, de ônibus, com plantas, café, uma volta; e corrige nada.