Suspense erótico indicado ao Oscar que arrecadou o dobro do próprio orçamento nos cinemas, está na Netflix Divulgação / 20th Century Fox

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A intimidade de um casal guarda mistérios que escapam até aos mais argutos observadores, como se esses segredos residissem nas camadas mais profundas de sentimentos conturbados. Em “Infidelidade”, Adrian Lyne oferece um olhar provocante sobre o desejo, explorando a chama que ainda arde no interior de uma mulher e o ressentimento corrosivo do marido, visível após o despertar de uma paixão unilateral.

Familiar com histórias de amores proibidos e desventuras conjugais, Lyne, ao lado dos roteiristas Alvin Sargent e William Broyles Jr., elabora uma trama que dialoga com clássicos como “A Mulher Infiel” (1969), de Claude Chabrol, e “A Bela da Tarde” (1967), de Luis Buñuel. Essa combinação de influências traz uma reflexão incisiva sobre comportamentos que, à primeira vista, parecem excitantes e libertadores, mas que inevitavelmente conduzem a um abismo de dor, violência e desilusão, em meio ao atrativo ardiloso do desejo que desperta e atrai.

O enredo se desenrola no Condado de Westchester, onde a imponente residência de Edward e Connie Sumner, situada perto do Rio Hudson, evoca uma atmosfera de paz e harmonia. O casal, vivido por Richard Gere e Diane Lane, aparenta uma relação tranquila, com momentos de carinho e cumplicidade, algo reforçado pela presença do filho pequeno, Charlie, interpretado por Erik Per Sullivan. Num dia qualquer, Connie decide ir a Manhattan para algumas compras triviais — itens de decoração e papelaria que parecem ser suas únicas preocupações.

Ao se preparar para retornar ao subúrbio, no entanto, é surpreendida por uma forte ventania, elemento simbólico e prenunciador da tempestade emocional que a espera. A intensidade dos ventos faz com que ela se desoriente em meio ao trânsito frenético, tropeçando e caindo diante de um desconhecido. Assim entra em cena Paul Martel, o encantador bibliófilo interpretado por Olivier Martinez, que a convida a tratar seus ferimentos em seu apartamento. O que segue é um envolvimento previsível e ao mesmo tempo irresistível, uma ligação secreta e apaixonada que transforma a vida de Connie, revelando o lado insaciável de uma mulher em busca de uma fuga da rotina.

Enquanto Connie se entrega ao caso com Martel, Edward, seu marido, eventualmente descobre o que está acontecendo. Em uma reviravolta dramática, ele visita o apartamento do amante da esposa, em uma sequência marcada por uma raiva silenciosa e controlada que culmina em uma violência súbita e trágica. A partir desse ponto, o filme assume um tom de tensão crescente, mas mantém-se fiel ao estilo de Lyne, que emprega uma cinematografia densa e repleta de contrastes visuais para expor as complexidades e a crueza do relacionamento.

Imagens desconfortáveis, como a cena em que o casal janta com uma paisagem de aterro sanitário ao fundo, sugerem o estado deteriorado de um casamento que antes parecia imaculado. As referências visuais evocam Buñuel mais do que Chabrol, expondo o fétido contraste do suposto charme burguês que encobre os segredos e ressentimentos que, em última análise, tornam-se impossíveis de conter.


Filme: Infidelidade
Direção: Adrian Lyne
Ano: 2002
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10