Nova comédia romântica da Netflix para desligar o cérebro, esquecer os problemas e apenas relaxar Divulgação / Netflix

Nova comédia romântica da Netflix para desligar o cérebro, esquecer os problemas e apenas relaxar

A potência do sentimento amoroso, do carrossel de emoções que passa a reger duas almas que se tocam muitas vezes sem maiores expectativas quanto ao que podem vir a ser juntas, é o mote de “Amor² Outra Vez”, continuação de uma história começada dois anos antes, e que estreia agora, visando ao entretenimento despretensioso para celebrar o Dia dos Namorados na Europa, e nisso o filme do polonês Filip Zylber, como o próprio Cupido, acerta em cheio. Casais que se desentendem, se afastam e voltam às boas só para que não muito tempo depois tornem a brigar e desejem padecer de qualquer mal, desde que não mais sintam em seu entorno a sombra da pessoa por quem antes eram capazes de matar e morrer, findando o ciclo — ou não — são o componente mais elementar das narrativas humanas, desde os clássicos gregos na Antiguidade, passando por Shakespeare e desaguando em novas obras-primas desse gênero, como Bergman e Antonioni. Que o amor é uma das experiências mais edificantes pela qual alguém pode passar ninguém tem dúvida; mesmo quando fracassa, conceito bastante subjetivo, a força do amor sempre estimula o florescer de uma renovação qualquer que permite que a vida não reste nunca estagnada e muito menos perdida, qualquer que seja a dor que se imponha, por um dia ou três séculos.

Os roteiristas Natalia Matuszek e Wiktor Piątkowski dispõem de um número limitado de personagens em subtramas cujos arcos ficam sempre por se fechar, mas que giram todas à volta de desacertos de um homem e uma mulher em circunstâncias que nem sempre conseguem amalgamar-se umas às outras, o que dá ao texto a aura de uma compilação de contos entre prosaicos e desmazelados, que servem mais para que o leitor se inteire do que se está falando e procure bibliografias mais substanciosas. Zylber abre o filme com um casal viajando de carro, sem pressa, até que a parada numa loja de conveniência encarrega-se de jogar um balde de água fria em suas ilusões. Um primeiro anticlímax aponta para o conflito que o diretor deseja erigir, colocando na boca de Adrianna Chlebicka as sentenças com que o espectador vai se municiando quanto a tomar pé do terreno pantanoso em que está a pisar. Na pele de Monika e Klaudia, mulheres que personificam esferas muito distintas do universo feminino, mas que se integram, Chlebicka é uma espécie de bússola para que se entenda a direção que o enredo toma, antes que a trama fique irremediavelmente confusa.

A transformação na vida de Stefan Tkaczyk, o bon vivant interpretado por Mateusz Banasiuk, confere dinamismo à história, porém, como se comprometido mesmo com a superfície, Zylber não vai além da repetição de clichês. Tkaczyk, mais conhecido no meio artístico como Enzo, testemunha a ruína de seu império e passa boa parte da pouco mais de hora e meia de projeção tentando reaver o prestígio que lhe fora tungado repentinamente, enquanto Monika, sua namorada, experimenta uma guinada com a qual jamais sonhara — e que, na verdade, não lhe interessa. “Amor² Outra Vez” vale-se de um estimulante jogo de gato e rato entre o casal de protagonistas à medida que a personagem de Chlebicka ascende e Enzo não é capaz de fugir a sua natureza mesquinha. Nesse ínterim, o diretor aproveita para levantar discussões como etarismo e o abuso mental de crianças no show de calouros bastante realista inclusive no que o público leigo não costuma captar.


Filme: Amor² Outra Vez
Direção: Filip Zylber
Ano: 2023
Gêneros: Comédia romântica
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.