7 filmes dignos de Oscar, na Netflix, que você não assistiu Caleb Deschanel / Walt Disney

7 filmes dignos de Oscar, na Netflix, que você não assistiu

Ao tentar compreender o que se passa no espírito de cada indivíduo, valorizando justamente o caráter de especificidade, em que cada um é responsável por suas próprias escolhas, pelo caminho que decide trilhar — que por tortuoso que seja, pode conduzir a algum lugar de proveito —, por seus tropeços e suas glórias, o pensamento filosófico se organiza a fim de dar à vida uma ideia de que tudo converge para um mesmo fim, qual seja, extrai do mundo, da interação com os outros e, por óbvio, de como processamos essas informações à luz da nossa própria visão acerca da existência. Injustamente tida por algo hermético, de difícil aplicação, dada a sua natureza calcada no conhecimento mais refinado, a filosofia se faz também no dia, uma vez que estamos sempre nos defrontando com circunstâncias provocativas, desafiadoras, que exigem de nós decisões rápidas, eficazes e, muitas vezes, definitivas. A filosofia, portanto, está em tudo, bem como o próprio Deus, de onde emana todo o amor e toda a sabedoria — isto é, a filosofia ela mesma —, é, igualmente uma substância hegemônica e imanente, que domina tudo quanto há na face da Terra, empenhando-se desde o seu surgimento, no século 6 a.C., em dar ao homem alguma explicação para as muitas inquietações de sua alma miserável, elevando-se sobre toda a ciência, toda a poesia, toda a beleza em conferir algum sentido a sua existência bestial — e malogrando fragorosamente. O filósofo holandês Baruch de Spinoza (1632-1977) defendia que a natureza de divindade de um ente capaz de reger todos os outros residia exatamente no seu caráter de poder se imiscuir a tudo, afinal, todos os seres e mesmo todas as coisas têm seu lado luminoso, celestial, e sua porção sombria, que nunca é dada ao acaso, existe mesmo que obedecendo a uma determinação do próprio Altíssimo. Para muitos filósofos que se detêm sobre a obra de Spinoza, é dificílimo entender por que Deus, que tudo sabe, que vê todas as coisas que se passam desde o princípio dos tempos, inclusive as que ainda nem saíram do coração do homem, molda uma criatura à sua semelhança e imagem, mas uma criatura imperfeita, que peca, que rouba, que mata e, não satisfeito, malgrado saiba que o homem é fraco, é mau, o pune por suas faltas, quando, Nome sobre todo nome, deveria interferir e apartar do gênero humano a sanha bestial. Seria Deus também imperfeito, pecador, facínora, e, para piorar, um sádico? Uma explicação rasa para tal emaranhado de hipóteses tão cabeludas é o surrado — e preciso — livre-arbítrio: Deus dá ao homem o dom da vida; cabe ao homem viver sua própria vida, Deus não irá vivê-la por ele. É como se nossos pais nos dessem um presente valioso e o retivessem num cofre, do qual só eles têm a chave e de que só nos seria concedido desfrutar muito espaçadamente. Assim como estão na vida, a filosofia e Deus, imiscuído ao princípio da hegemonia da própria vontade sobre o que os outros esperam de nós, sempre calcado no discernimento, estão na morte e na maneira como a encaramos.

O cinema é das manifestações artísticas que o gênio do homem ousou criar mais afetas à filosofia. Reunimos sete títulos em que, de uma forma mais sutil, como no drama “Meu Lugar”, do taiwanês CJ Wang, ou com violência, caso de A Ausência que Seremos (2020), do espanhol Fernando Trueba, o conhecimento une-se ao amor, na vã esperança de que o homem não sofra, o que só pode acontecer quando renunciar ao conforto de seus erros. Os filmes, todos no acervo da Netflix, estão elencados do mais recente ao lançado há mais tempo.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.