“Observadores” é um thriller de horror fantástico lançado em 2024, produzido nos Estados Unidos e gravado na Irlanda, disponível agora na Netflix. A narrativa acompanha Mina, interpretada por Dakota Fanning, uma jovem que se vê perdida em uma floresta de densidade quase sobrenatural, onde encontra um abrigo habitado por três desconhecidos: Ciara (Georgina Campbell), Madeline (Olwen Fouéré) e Daniel (Oliver Finnegan). Todas as noites, criaturas chamadas pelos moradores de observadores surgem para assistir, como se os humanos fossem parte de um espetáculo involuntário.
O filme entrou no meu radar após estrear no streaming e reacender debates sobre adaptações de terror que apostam em atmosferas claustrofóbicas e dilemas psicológicos. A chegada à Netflix impulsionou uma nova onda de análises e comparações, principalmente pelo fato de ser dirigido por Ishana Night Shyamalan, novidade que despertou curiosidade tanto entre fãs de narrativas sombrias quanto entre espectadores que associam o sobrenome a viradas dramáticas e enigmas.
O impacto imediato e a experiência pessoal
Assisti assim que entrou na Netflix e o que mais me chamou atenção foi o contraste entre a beleza quase etérea da floresta e a sensação de aprisionamento imediato que ela impõe. Mina dirige até um ponto em que a estrada se dissolve num corredor de grama e, dali em diante, tudo parece conspirar para mantê-la dentro daquele labirinto vegetal. O abrigo onde se refugia é um espaço precário, sustentado por uma parede de vidro que se acende quando cai a noite, e então os observadores se alinham para vê-los. A situação tem algo de perversamente teatral, como se os humanos fossem marionetes de um público invisível.
Não é perfeito, mas tem algo que o distingue de outros thrillers recentes: o modo como propõe que o medo nasce tanto do desconhecido quanto do excesso de explicação. A diretora alterna momentos de silêncio com explicações desajeitadas dos personagens, criando um desequilíbrio que, paradoxalmente, revela uma floresta menos enigmática do que poderia ter sido.
Estruturas, repetições e a frustração calculada
O enredo aposta na rotina como ferramenta de tensão: sair do abrigo durante o dia, retornar antes do crepúsculo, repetir. Em teoria, esse ciclo deveria intensificar o desespero; na prática, ele desgasta. Mina tenta transgredir as regras, Daniel coleciona impulsos de fuga, Ciara tenta preservar alguma ordem, e Madeline parece sempre guardar algo que não diz completamente. Só que, ao longo do filme, a repetição de idas e vindas cria uma sensação de estagnação que enfraquece as descobertas posteriores.
Há também escolhas narrativas que soam arbitrárias, como objetos que surgem sem explicação ou comportamentos que mudam de forma abrupta. Quando o passado de Mina, marcado pela morte de sua mãe, retorna à superfície, o impacto é menor do que prometia ser. O filme deixa claro que sua dor não é o centro do mistério, e essa promessa quebrada gera um tipo de desalento difícil de ignorar.
O que funciona de verdade
Apesar das falhas de construção, a direção revela talento. As composições visuais criam a sensação de que a floresta tem vontade própria. O vidro iluminado à noite funciona como uma espécie de palco invertido, onde o público está no escuro. A trilha sonora de Abel Korzeniowski contribui para a simbiose entre estranhamento e melancolia, enquanto a fotografia de Eli Arenson molda a paisagem como uma prisão aberta. Dakota Fanning entrega uma personagem que oscila entre pragmatismo e vertigem, sustentando o filme quando o roteiro se perde.
O terceiro ato tenta ampliar o escopo do que vimos até então, introduzindo camadas adicionais sobre a origem dos observadores e o passado de Madeline. A ideia é intrigante, mas o filme prolonga demais a resolução, esticando conflitos que já estavam a um passo de se dissolver. Ainda assim, existe uma centelha de inquietação que perdura quando os créditos começam: a sensação de que parte do que vimos ainda se esconde nas frestas do desconhecido.
“Observadores” é irregular, mas guarda um impulso criativo que merece atenção. Funciona melhor quando abraça o mistério do que quando tenta explicá-lo. E, mesmo tropeçando, deixa uma impressão curiosa: a de que aquele bosque continua respirando sozinho, aguardando outro olhar para revelar o que preferiu manter à sombra.
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