“Maze Runner: Correr ou Morrer” é um thriller de ficção científica lançado em 2014, produzido nos Estados Unidos e atualmente disponível na Netflix. A narrativa acompanha um grupo de adolescentes confinados em uma clareira cercada por um labirinto que se transforma todas as noites, enquanto tentam compreender quem os colocou ali e qual lógica perversa rege aquele microcosmo.
O filme voltou aos rankings da plataforma após uma leva de novos assinantes impulsionar adaptações juvenis de ficção distópica. É aquele fenômeno cíclico em que a internet decide revisitar obras da década passada como se estivesse descobrindo um segredo enterrado. E, ao contrário de muitas reestreias oportunistas, esse retorno tem motivos legítimos.
Assisti assim que voltou ao catálogo da Netflix e o que mais me chamou atenção foi como a história mantém uma tensão constante sem apelar para os truques fáceis das narrativas pós-apocalípticas para adolescentes. Há algo quase arqueológico na forma como o filme vai extraindo camadas do labirinto e do próprio grupo preso ali, como se cada corredor se abrisse também sobre o caráter de quem tenta sobreviver.
Não é perfeito, mas tem algo que o distingue de outros thrillers recentes: a sensação de que o caos é menos explosão e mais método.
O labirinto como sistema
A história se arma quando Thomas, interpretado por Dylan O’Brien, é enviado para a clareira dentro de um elevador metálico que mais parece um ritual de nascimento involuntário. Sem lembranças e sem instruções, ele encontra uma comunidade de meninos que tenta manter uma vida funcional em meio ao absurdo. Alby, vivido por Aml Ameen, lidera o grupo com autoridade tranquila, enquanto Gally, em interpretação intensa de Will Poulter, protege com insistência as regras que garantiram a sobrevivência coletiva até ali.
O labirinto é a fronteira que define tudo. De dia, suas paredes se abrem; de noite, se reorganizam com lógica indecifrável. E é nesse espaço em constante mutação que atuam os corredores, liderados por Minho (Ki Hong Lee), responsáveis por tentar mapear caminhos que se apagam diariamente. O perigo maior são os Verdugos, criaturas biomecânicas que atacam com violência e deixam marcas de veneno que transformam o comportamento das vítimas. A clareza da ameaça faz com que a rebeldia de Thomas pareça um risco, mas também um impulso necessário. Ele insiste em explorar, desafiar e enfrentar o que os demais aprenderam a evitar.
A política do medo
A chegada de Teresa, interpretada por Kaya Scodelario, interrompe a rotina rígida do grupo e evidencia que alguém, em algum lugar, está acelerando o experimento. Seu bilhete misterioso e a lembrança fragmentada que guarda de Thomas introduzem uma segunda camada narrativa: a de um sistema de controle que observa, manipula e mede reações humanas como se estivesse construindo um relatório interminável. A figura distante de Ava Paige (Patricia Clarkson) funciona como símbolo dessa engenharia moral que transforma adolescentes em amostras estatísticas.
É curioso perceber como o filme articula esse controle com a criação de pequenas estruturas de poder dentro da clareira. O conflito entre Thomas e Gally se intensifica à medida que o primeiro questiona a autoridade vigente e o segundo tenta preservá-la como estratégia de segurança. Newt, vivido por Thomas Brodie-Sangster, acaba se tornando a ponte entre esses extremos, funcionando como uma consciência intermediária que entende tanto o medo quanto o desejo de ruptura.
Quando a fuga exige perder as ilusões
À medida que Thomas se arrisca no labirinto e retorna vivo, algo que ninguém antes havia conseguido, a narrativa acelera rumo a uma revelação menos empolgante do que o caminho que levou até ela. A explicação sobre quem controla o labirinto e por quê não corresponde à densidade construída ao longo do filme. Ainda assim, há mérito na forma como as relações entre os personagens sustentam a emoção até o limite final, em especial na amizade crescente com Chuck, interpretado por Blake Cooper, cuja presença confere humanidade a uma história projetada para ser um teste.
O mais interessante, porém, é perceber que o labirinto funciona não como metáfora sobre coragem, mas sobre informação: quem tem acesso a ela, quem é privado dela e quem decide que alguns merecem saber enquanto outros devem obedecer. Talvez seja por isso que, mesmo com suas falhas, “Maze Runner: Correr ou Morrer” permanece tão magnetizante nessa revisita tardia. Ele lembra que a pior prisão não é física, e sim a que limita a compreensão do próprio mundo.
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