No início, um grupo de operadores especiais avança por uma vila no sul das Filipinas com a confiança de quem domina o terreno à distância, apoiado por satélites, drones e voz constante no rádio. Em “Zona de Risco”, Liam Hemsworth encarna o jovem sargento Kinney, recém-integrado à equipe como elo entre tropas em solo e aviões no céu, enquanto Russell Crowe vive o piloto de drone Eddie “Reaper” Grimm e Milo Ventimiglia assume o papel de um líder veterano em campo, sob direção de William Eubank. O conflito central se desenha quando uma missão de resgate supostamente controlada se desmancha em poucos minutos, deixando um soldado isolado, um piloto trancado em um contêiner e um comando distante tentando decidir até onde vale arriscar homens e munição para evitar um desastre maior.
Enquanto o plano ainda parece intacto, a narrativa funciona como relato de procedimento militar: há um alvo a ser recuperado, uma rota de infiltração, uma janela de extração e uma cadeia de comando que avalia riscos com base em mapas e relatórios. A decisão de levar Kinney, claramente menos experiente que o restante da equipe, nasce da necessidade de comunicação direta com o apoio aéreo, mas também da crença de que a tecnologia compensa a curva de aprendizado. O obstáculo real, porém, se mostra na combinação de terreno hostil, inimigos dispersos e inteligência incompleta, elementos que corroem aquela confiança inicial. A cada ordem transmitida, o que parecia coordenação absoluta se revela dependente de percepções parciais, e o filme acompanha o modo como isso altera a margem de segurança da missão.
A partir daí, o relógio aparece, ainda que nem sempre expresso em números na tela. Fala-se em combustível limitado, em janela de sobrevoo do drone, em tempo que os helicópteros podem permanecer na área, e a sensação é de areia escorrendo devagar, mas sem retorno. Reaper decide permanecer conectado ao grupo em solo mesmo quando a operação começa a escapar ao planejamento, guiando deslocamentos, sugerindo desvios, insistindo em leituras de calor no monitor que indicam emboscadas. A motivação é simples: impedir que um erro de cálculo se transforme em massacre. O obstáculo é duplo, formado tanto pelo inimigo na mata quanto pelos superiores que exigem cumprimento de protocolo. O efeito dessa disputa é um encurtamento brutal de opções, até que a própria definição de “extrair o alvo” passa a incluir apenas a sobrevivência de um homem.
Enquanto a câmera acompanha Kinney tropeçando na lama, ofegante, tentando seguir instruções que chegam com segundos de atraso, Eubank alterna continuamente para o interior do contêiner onde Reaper opera seu drone. Ali, a temperatura é estável, a luz é artificial, o café esfria em cima de um console, mas o som dos mísseis sendo armados e o eco metálico dos joysticks batendo na mesa lembram que aquela cabine de metal também é um campo de batalha. Grimm toma decisões que não aparecem no relatório: prolonga a permanência na área, pede mais munição, questiona a pressa em encerrar a missão. Cada insistência causa atrito com o comando, que observa gráficos e tabelas em outra sala, distante, e precisa pesar o desgaste de equipamentos e a exposição da unidade frente ao valor político do resgate.
Nesse desenho de forças, Kinney se torna menos um herói clássico e mais um teste vivo para o sistema. Ele decide avançar em vez de se esconder, aceitando orientações que vêm de um céu invisível porque não enxerga saída melhor no chão coberto por árvores e fumaça. A motivação é quase instintiva: afastar-se da zona de morte imediata, encontrar qualquer ponto onde um helicóptero possa pousar. O obstáculo ganha forma em atiradores que aparecem brevemente entre galhos, em explosões que reorganizam o cenário em segundos, em vilarejos onde é impossível distinguir civis de combatentes. O efeito é um percurso em que cada metro conquistado aumenta também o isolamento, como se o selim do rádio fosse o último fio que o prende a uma lógica de guerra compreensível.
Ao mesmo tempo, o filme dedica atenção às discussões entre oficiais, representados por figuras como a de Ventimiglia em campo e de superiores em centros de comando, que deliberam sobre quantos recursos ainda valem ser enviados para uma situação cambaleante. Há uma decisão, por exemplo, de limitar o uso de determinados armamentos para evitar danos colaterais politicamente desastrosos, mesmo que isso reduza a chance de limpar uma zona de emboscada. A motivação é claramente institucional, voltada à imagem pública e à preservação de ativos estratégicos. O obstáculo se concentra na percepção, por parte de quem está sob fogo, de que essa contenção significa abandonar companheiros. Cada concessão feita à prudência distante aumenta o desespero local e alimenta uma tensão que corre em paralelo às rajadas de fuzil.
Em um dos trechos mais secos, as ações se encadeiam com pouca margem para respiro. Um pedido de evacuação. Negado. Uma rota alternativa. Bloqueada. Um alvo identificado. Perdido no meio da fumaça. Um helicóptero se aproxima. Recuando de novo. Kinney escorrega, se fere, improvisa um abrigo precário. Reaper calcula ângulos, escolhe qual ameaça eliminar primeiro, aceita que outra ficará viva. O tempo não estica. A munição não reaparece. Cada corte na montagem parece uma porta que se fecha, e o espectador acompanha essa sequência quase como quem volta a olhar, sem querer, para o cronômetro de um jogo que se aproxima do limite.
Em contraste, há um parágrafo visual mais estendido quando o filme se permite seguir, em plano relativamente longo, a hesitação de Grimm diante de um comando que pode, ao mesmo tempo, salvar e condenar; ele observa a imagem granulada do alvo no monitor, ouve vozes sobrepostas no fone, tenta isolar a informação decisiva, percebe que a clareza nunca virá totalmente, e mesmo assim precisa confirmar o disparo, ainda que isso signifique aceitar uma margem de erro que o perseguirá depois, porque o que está em jogo naquele instante específico não é uma vitória limpa, e sim a chance de ganhar alguns minutos a mais para que um soldado escondido em um barranco consiga sair de um raio de explosão provável.
“Zona de Risco” reduz o horizonte dos personagens a poucos metros de selva, algumas telas e uma linha de áudio trêmula. Kinney encara a possibilidade concreta de ser capturado ou eliminado antes que qualquer extração chegue perto, e decide seguir uma orientação que contraria o impulso de se manter parado. Grimm, por sua vez, enfrenta o dilema de obedecer integralmente ao corte de suporte aéreo ou insistir em manter o drone em operação até o último segundo disponível. Os obstáculos já são conhecidos: inimigos numerosos, terreno que impede deslocamento rápido, cadeia de comando que não quer admitir mais perdas. O efeito imediato dessas escolhas é uma concentração extrema de tensão em um fragmento de tempo muito curto, quase comprimido entre o bater de hélices que se aproxima e o silêncio que antecede um disparo, congelando os dois homens, por um momento, entre a promessa de resgate e o risco definitivo registrado em uma tela fosca.
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