Mais um true crime imperdível acaba de chegar à Netflix e essa história vai te dar arrepios Divulgação / Netflix

Mais um true crime imperdível acaba de chegar à Netflix e essa história vai te dar arrepios

Algumas famílias guardam segredos profundos e convivem com dramas, mágoas e rivalidades tão íntimas e tão pesadas que parecem ter saído de algum livro de literatura russa. No caso da família Carman, estamos falando de uma tragédia grega ambientada nos Estados Unidos. Yon Motskin reabre o caso de Nathan Carman, encontrado à deriva no mar em setembro de 2016, uma semana após sair para pescar com sua mãe. Desaparecidos por sete dias, apenas o rapaz foi resgatado, enquanto Linda jamais teve o corpo localizado.

A situação, ao mesmo tempo milagrosa e desconcertante, ocupou manchetes e abriu telejornais durante semanas, até que detalhes antes ignorados começaram a vir à tona. De sobrevivente heroico, Nathan passou a ser tratado como o principal suspeito pela morte da mãe. Motskin dá continuidade às investigações do repórter Evan Lubofsky, da revista Wired, sobre o passado do jovem, um rapaz no espectro autista, oriundo de uma família abastada que já havia enfrentado outra grande tragédia: o assassinato do avô, John Chakalos, crime que nunca levou alguém à prisão e cujo desfecho inconcluso alimentou ainda mais suspeitas.

Motskin revisita a trajetória e o comportamento do garoto. Diagnosticado com autismo desde cedo, Nathan passou por tratamentos rígidos durante a adolescência, mas encontrou refúgio na proteção quase absoluta do avô, um empresário que distribuía mesadas generosas às quatro filhas e aos netos. Em troca, John, o patriarca, controlava com mão firme a vida de todos. Nada era realmente decidido sem sua aprovação, e cada membro da família orbitava em torno de sua autoridade.

Nos interrogatórios com a polícia, Nathan sempre pareceu um alvo tentador: alguém que, por causa da neurodivergência, foi rotulado como “estranho“, “frio“ ou “calculista demais“, rapidamente se tornando foco das investigações. Mas será que ele era apenas uma presa fácil ou realmente escondia uma mente sombria? Motskin faz um retrospecto da relação de John com as filhas, especialmente com Linda, e do vínculo que o avô mantinha com o neto. Explora também como Linda tentava manter laços com o filho na vida adulta, apesar do distanciamento emocional. Não apenas a complexidade dessas relações, cheias de nuances e ressentimentos, mas também o impacto financeiro que essas mortes poderiam gerar para determinados herdeiros, entram no centro da investigação.

Quando existe muito dinheiro envolvido, os vínculos deixam de ser apenas familiares: tornam-se negociações, acordos implícitos e disputas silenciosas. Até relações entre pais e filhos, avós e netos passam a ser atravessadas por interesses. O uso de imagens de arquivo, entrevistas com familiares e depoimentos do pai de Nathan nos levam de um extremo ao outro, ora enxergando o jovem como culpado, ora como vítima de um sistema que pouco compreende, e pouco acolhe, pessoas neurodivergentes. Mas, e se não se tratasse apenas de um rapaz no espectro, e sim de alguém capaz de manipulação? Essas dúvidas pairam no ar sem respostas definitivas, sobretudo porque peças essenciais do quebra-cabeça jamais foram encontradas, e porque o próprio Nathan morreu em 2023, antes de ser julgado, encerrando qualquer possibilidade de confronto judicial conclusivo.

Ainda assim, Motskin constrói um suspense que prende porque a história é inquietante e perturbadora. Nos faz refletir sobre como os laços familiares são frágeis e repletos de pontas soltas que, às vezes, reaparecem de forma inesperada, puxando verdades que muitos prefeririam manter enterradas.

Filme: The Carman Family Deaths
Diretor: Yon Motskin
Ano: 2025
Gênero: Crime/Documentário/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.