Sequência tardia de clássico infantil é perfeito para dar play nas férias, na Netflix Divulgação / 20th Century Fox Home Entertainment

Sequência tardia de clássico infantil é perfeito para dar play nas férias, na Netflix

O interesse por revisitar sucessos populares costuma traduzir mais um cálculo de mercado do que uma ambição artística. Mesmo assim, certos projetos se tornam reveladores justamente por explicitar esse mecanismo. É o caso de “Uma Turma Divertida”, continuação tardia que assume o risco de dialogar com um título querido por diferentes gerações. O filme parte da premissa simples: um novo grupo de jovens encontra no mesmo campo de baseball o espaço onde conflitos, amizades e pequenas conquistas ganham forma. A estrutura poderia facilmente descambar para a reciclagem estéril, mas a narrativa encontra algum fôlego quando desloca o foco para a convivência entre personagens que buscam, cada um à sua maneira, um lugar minimamente seguro nesse microcosmo.

A trama acompanha David, vivido por Max Lloyd-Jones, garoto que tenta consolidar seu papel dentro da equipe enquanto lida com a pressão de corresponder às expectativas dos amigos e, sobretudo, às exigências tácitas impostas por uma comunidade que deseja repetir a glória passada. A presença de Hayley, interpretada por Samantha Burton, funciona como contraponto mais estável. Ela observa o grupo com atenção crítica, intervém quando necessário e se torna gradualmente o eixo emocional da narrativa. Há, ainda, o interesse em integrar novas perspectivas ao conjunto, como Sammy, interpretado por Sean Berdy, cujo protagonismo em situações cômicas oferece um dinamismo pontual sem reduzir o personagem a mero alívio de roteiro.

Algumas escolhas deixam claro o desejo dos produtores de restabelecer elos diretos com o passado. A participação de Mr. Mertle, novamente encarnado por James Earl Jones, provoca um deslocamento deliberado: a narrativa tenta recuperar o clima de familiaridade que marcou o filme original, ainda que o impacto emocional seja menos vigoroso. A história avança com fluidez, sem grandes ambições formais, apostando na simplicidade como estratégia de aproximação com o público mais jovem. Conflitos são resolvidos rapidamente, e o enredo privilegia a construção de pequenas tensões diárias que definem a vida do grupo.

O esforço dos atores mais experientes e dos intérpretes que conseguem imprimir autenticidade às suas cenas impede que o filme se torne um exercício vazio de nostalgia. Max Lloyd-Jones trabalha bem o dilema de David, evitando a caricatura do líder inseguro. Samantha Burton demonstra controle expressivo sobre Hayley, reforçando a impressão de que sua presença sustenta a coesão do grupo. E Sean Berdy oferece nuances que superam a função de distração cômica, sugerindo que o filme poderia ter explorado com maior coragem sua trajetória individual.

A despeito das limitações de desenvolvimento e da evidente dependência do primeiro filme, “Uma Turma Divertida” alcança uma certa consistência quando abandona a tentativa de imitar o passado e passa a observar, ainda que discretamente, o impacto das relações construídas ali. É um título que não pretende se reinventar, mas compreende a necessidade de oferecer algo além da repetição automática. Essa postura, mesmo moderada, o afasta da irrelevância completa. A lembrança de que histórias simples podem encontrar força em pequenos gestos funciona como último vestígio de honestidade, sugerindo que o interesse por esses personagens talvez não esteja no feito grandioso, mas no modo como enfrentam o cotidiano limitado que têm diante de si.

Filme: Uma Turma Divertida
Diretor: David Mickey Evans
Ano: 2005
Gênero: Comédia/Esporte
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.