A sucessão de retornos a universos já conhecidos sempre desperta a expectativa de reencontrar aquilo que tornou o primeiro contato tão eficaz. Em “Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba”, essa expectativa é tratada como um dado previsível: o espectador sabe que Larry Daley, vivido por Ben Stiller, retomará sua rotina noturna entre estátuas inquietas, heróis improváveis e criaturas que ganham movimento quando o museu escurece. O que se altera nesta terceira incursão é o modo como o filme se organiza em torno de uma crise que não exige apenas deslocamento geográfico, mas uma tentativa de reestruturar laços afetivos e responsabilidades. O ponto de partida é direto: a tábua que sustenta o feitiço que anima as exposições começa a perder sua força, e Larry, ao perceber que Teddy (Robin Williams), Jed (Owen Wilson), Octavius (Steve Coogan) e os demais começam a apresentar sinais de instabilidade, decide buscar respostas no Museu Britânico, onde se encontra a origem do artefato.
O roteiro avança sem rodeios, preocupado sobretudo em levar o protagonista até Ahkmenrah (Rami Malek) e seu pai, Merenkahre (Ben Kingsley), cuja relação com a tábua é decisiva. O deslocamento para Londres funciona como reorganização do tabuleiro, introduzindo novas figuras, como Lancelot interpretado por Dan Stevens, um cavaleiro que reage à confusão com uma mistura de encantamento e ingenuidade, e Tilly (Rebel Wilson), a funcionária de segurança que se relaciona com o caos noturno com uma naturalidade improvável. O filme, contudo, evita explorar de forma mais contundente a tensão provocada pela possível extinção da magia. A ameaça existe, mas se dilui em resoluções rápidas, como se a narrativa tivesse receio de alongar o conflito.
Os efeitos digitais seguem o padrão já estabelecido pela série, oferecendo criaturas articuladas, fósseis em movimento e constelações que moldam o espaço ao redor. Esses elementos criam a sensação de que tudo está em constante fluxo, mas ainda assim são empregados mais como ilustração do que como motores da história. A sequência envolvendo o dragão metálico no Museu Britânico, por exemplo, demonstra um potencial que se dissipa rapidamente. A criatividade visual permanece, porém se esgota em aparições breves, incapazes de aprofundar a relação entre o mundo animado e a jornada de Larry.
No centro do filme, a dualidade do protagonista tem um papel ambíguo. A presença do doppelgänger primitivo, Laa, igualmente interpretado por Ben Stiller, buscaria ampliar o espectro cômico, mas prolonga uma comicidade que interrompe o ritmo e fragmenta a progressão dramática. A interação entre os dois tende ao desgaste e toma um espaço considerável, deixando personagens tradicionalmente relevantes, como Jed e Octavius, confinados a intervenções esporádicas. A redução do protagonismo desses coadjuvantes empobrece o conjunto, já que parte do encanto da série residia justamente no diálogo entre figuras desproporcionais, sempre tensas entre a grandiosidade histórica e a banalidade das situações.
O eixo emocional, por sua vez, mira a relação entre Larry e seu filho Nick (Skyler Gisondo), agora imerso em dilemas adolescentes que tensionam o vínculo entre eles. A condução dessa dinâmica pretende reafirmar a necessidade de aceitar o crescimento alheio, mas repete estratégias previsíveis, substituindo complexidade por cenas de rápida resolução. O resultado é um núcleo temático que se anuncia importante, mas raramente se desenvolve de modo consistente.
Apesar disso, a presença de Robin Williams confere ao filme um peso simbólico que ultrapassa a narrativa. Sua interpretação de Teddy mantém a dignidade e a serenidade já conhecidas, mesmo com o espaço reduzido. A cena final em Londres, quando Teddy se despede de Larry com poucas palavras, retém uma contundência inesperada, funcionando como ponto de inflexão entre fantasia e melancolia. É o momento em que a série encontra um propósito que não depende do espetáculo, mas de um reconhecimento silencioso da passagem do tempo.
“Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba” alcança, assim, uma conclusão funcional para o conjunto iniciado quase uma década antes. A aventura cumpre sua função básica, mas evita arriscar caminhos que poderiam ter elevado o potencial da premissa. A história se encerra de maneira contida, preservando o charme residual do universo criado, embora sem recuperar plenamente a vitalidade do primeiro encontro com o museu que despertava depois da meia-noite.
★★★★★★★★★★
