Suspense erótico dos anos 80 com Jeff Bridges na Netflix que vai te deixar sem fôlego Divulgação / Columbia Pictures

Suspense erótico dos anos 80 com Jeff Bridges na Netflix que vai te deixar sem fôlego

“Paixões Violentas” nunca parece interessado em oferecer ao espectador a comodidade de uma narrativa inteiramente coerente. O que ele entrega, ao contrário, é um jogo de sedução ambientado entre praias deslumbrantes e a poeira de Los Angeles, como se o filme deliberadamente recusasse a lógica previsível dos thrillers urbanos dos anos 80. O fascínio inicial nasce do desalento de Terry Brogan, vivido por Jeff Bridges, um jogador de futebol americano descartado por uma equipe que o considerava ultrapassado. A frustração de Terry não tem grandiloquência: é a queda silenciosa de alguém acostumado ao privilégio da força física agora colocado para fora do gramado como se fosse um acessório defeituoso. A decisão de processar o time é tão inútil quanto sintomática; ele percebe rapidamente que, sem dinheiro e sem aliados, resta-lhe a humilhação. E é justamente nesse ponto vulnerável que Jake Wise, interpretado por James Woods, surge com a elegância tóxica dos predadores que farejam fragilidade alheia.

Jake não propõe um serviço; propõe uma armadilha mascarada de oportunidade. Ele quer que Terry encontre Jessie Wyler, vivida por Rachel Ward, uma herdeira que evaporou depois de romper com ele e se esconder no México. O subtexto é evidente: Jake não admite um rompimento sem controle, e o convite a Terry tem mais a ver com manipulação do que com confiança. Terry aceita, não por ingenuidade, mas por cansaço — como se a viagem oferecesse a chance de escapar por alguns dias de sua própria irrelevância. Ao chegar ao México, ele se depara com paisagens que operam quase como uma provocação sensorial. Cozumel, Tulum e Chichén Itzá funcionam como um antídoto contra a monotonia de Los Angeles; tudo no ambiente conspira para dissolver as certezas que sustentavam sua vida anterior.

Quando Jessie finalmente aparece, o encontro não segue o clichê da paixão instantânea. O que se estabelece é uma atração que nasce da incompatibilidade: Terry vê nela a promessa de uma vida sem obrigações, Jessie vê nele a chance de não ser tratada como propriedade de ninguém. A química entre os dois cresce não porque o roteiro exige, mas porque os personagens finalmente encontram alguém que desperta neles aquilo que sempre faltou. As cenas em ruínas maias não são um postal turístico: elas funcionam como um contraste quase sarcástico entre a solidez das pedras antigas e a instabilidade emocional dos amantes. Helena — jornalista que escreve este texto e jamais resiste a uma boa ironia histórica — lembraria que o império maia ruiu lentamente, corroído por disputas internas; a comparação com Jessie e Terry não é gratuita.

O filme, no entanto, não sustenta essa vibração sensorial até o fim. Quando retorna a Los Angeles, “Paixões Violentas” enreda-se em tramas de corrupção imobiliária, chantagens e empresários inescrupulosos, como se tentasse provar algo que não precisava provar. A narrativa se complica sem ganhar densidade, abrindo frentes que se atropelam: o passado obscuro de Jake, os interesses da mãe de Jessie, interpretada por Jane Greer com a frieza de quem aprendeu a sobreviver entre tubarões, e a própria incapacidade de Terry de aceitar que coragem emocional não se conquista em academias. Nesse trecho, a história parece disputar atenção com carros velozes, reuniões secretas e rivalidades masculinas que pretendem profundidade sem encontrá-la.

Ainda assim, a relação entre Terry e Jake permanece como o eixo mais instigante do filme. Jeff Bridges constrói um protagonista dividido entre orgulho e desorientação, enquanto James Woods domina a tela com a malícia quase teatral de quem aprendeu a disfarçar vulnerabilidades com agressividade. Jessie, por sua vez, é o enigma menos recompensador da história; Rachel Ward alterna bons momentos com uma letargia que enfraquece o impacto emocional. O triângulo que deveria gerar tensão acaba se desequilibrando porque Jessie não sustenta o magnetismo que o roteiro atribui a ela.

Mesmo com esses tropeços, “Paixões Violentas” guarda um charme específico, quase involuntário. É um filme que tenta unir o excesso estilístico dos anos 80 com a tradição moralmente ambígua dos noirs clássicos. Talvez por isso fascine e irrite na mesma medida. No fundo, permanece a sensação incômoda de que todos ali estão procurando algo que não sabem nomear: um lugar para existir fora das expectativas alheias. E é justamente essa busca imprecisa, cheia de 

Filme: Paixões Violentas
Diretor: Taylor Hackford
Ano: 1984
Gênero: Ação/Aventura/Crime/Drama/Romance/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★