O filme francês da Netflix perfeito para quem quer desligar a mente e sorrir por duas horas Emmanuel Guimier / Netflix

O filme francês da Netflix perfeito para quem quer desligar a mente e sorrir por duas horas

A primeira cena de “French Lover“ apresenta Abel Camara, interpretado por Omar Sy, encarando a câmera como se falasse diretamente com o público. A imagem causa estranhamento até o momento em que o enquadramento se abre e revela que ele está gravando um comercial brega para um perfume. O incômodo dele é evidente: Abel é um ator famoso, conhecido por sucessos populares, mas sonha com outra reputação, aquela reservada aos intérpretes celebrados por papéis sérios e prêmios respeitados. Em vez disso, ele vive cercado por fofocas sobre romances, manchetes sobre supostos excessos e uma rotina marcada por fãs, câmeras e julgamentos que o deixam sempre na defensiva.

É nesse estado de vigilância constante que ele encontra Marion, interpretada por Giraudeau, uma garçonete que apenas tenta entregar sua bebida enquanto ele imagina estar sendo fotografado por ela. A discussão que se segue é rápida, tensa e injusta, culminando na demissão de Marion por um chefe arrogante que tenta se desculpar com Abel usando comentários misóginos. O ator, percebendo que contribuiu para o desastre, insiste em levá-la para casa. Marion aceita a contragosto e, ao chegar ao apartamento, Abel tenta estender a conversa, entra sem ser realmente convidado e se depara com a vida dela: o cão enorme que ocupa metade do espaço, o divórcio ainda em andamento e uma rotina atravessada por problemas bem concretos.

A aproximação dos dois acontece de forma improvisada. Eles dividem um baseado, falam sobre suas frustrações e trocam um beijo que muda o tom da noite. Quando Abel aparece de surpresa na festa de aniversário da sobrinha de Marion, entretendo um grupo de crianças enquanto os adultos o observam boquiabertos, o filme deixa claro que essa relação improvável está virando algo real. Marion, apesar de cautelosa, permite que ele se aproxime. Abel, acostumado a ser visto como produto, encontra nela uma forma de normalidade que não vive há muito tempo.

O romance, no entanto, não se desenvolve isolado do mundo de Abel. Camille, sua agente, interpretada por Pascale Arbillot, trabalha para reconstruir sua imagem após o término com Lena, vivida por Cindy Bruna. Ela tenta empurrar para Abel uma namorada fabricada, uma jovem modelo que serviria como par midiático ideal. Esse tipo de estratégia cria mal-entendidos, alimenta inseguranças e expõe os limites entre a vida profissional e a pessoal. Enquanto Marion tenta reorganizar a própria trajetória, alimentando o desejo de abrir um food truck e superar o peso do casamento fracassado, o caos do universo das celebridades se infiltra na rotina do casal.

O ponto decisivo surge quando Abel finalmente recebe a proposta de participar de um filme prestigiado, o tipo de projeto capaz de transformá-lo no ator que sempre quis ser. O problema é que o papel exige que ele contracene justamente com Lena, sua ex. A situação reacende inseguranças adormecidas, coloca Marion diante de medos que ela evitava enfrentar e pressiona Abel a provar se consegue equilibrar ambição profissional e compromisso emocional.

“French Lover“ constrói seu charme a partir desse contraste constante. Abel é carismático, mas vulnerável, preso entre a vontade de ser levado a sério e a imagem que o mundo criou para ele. Marion é pé no chão, resistente ao espetáculo e à facilidade com que tudo na vida de Abel vira notícia. Juntos, eles formam um casal que funciona não pela perfeição, mas pelas diferenças que os obrigam a negociar cada passo. O filme acompanha esse movimento com humor leve, toques de fofoca, conflitos previsíveis do gênero e um olhar sensível para a dificuldade de manter um relacionamento quando a vida é observada por todos.

Filme: French Lover
Diretor: Lisa-Nina Rives
Ano: 2025
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★