Todos somos obrigados a atravessar desertos de mil solidões com o cansaço de nossas pernas, enfrentando os demônios que fazemos questão de alimentar. Se, por encanto, um novo raio de sol invade-nos o espírito obscuro, uma promessa de felicidade nos renova, e a certeza de um horizonte menos nebuloso é magia pura. Violet vem esforçando-se por retomar sua vida desde a morte do marido, e quando está a um passo de chegar lá, vê-se enredada num jogo diabólico que testa sua paciência e, pior, coloca em risco seu trunfo. A protagonista de “Drop — Ameaça Anônima” só espera ter uma noite agradável, mas enfrenta uma chantagem que evolui rápido paraameaças mais penosas de gente que pensa saber algo comprometedor a seu respeito. Christopher Landon subverte situações românticas em terreno fértil para explorar a paranoia e o medo, ocupado por atores que encarnam o feitiço das câmeras.
O casamento de Violet não foi nenhum mar de rosas, mas ela nunca deixou de acreditar no amor, representado pelo filho, Toby. Depois de uma lembrança pouco inspiradora na abertura,ela surge se arrumando para um jantar com Henry, um homem que conheceu num aplicativo de namoro, e ouve da irmã, Jen, sugestões meio autoritárias sobre que roupa usar. Ela opta por um vestido longo vermelho, dá as últimas instruções à irmã quanto aos cuidados com Toby e se despede do menino, algo pesarosa. Henryreservara uma mesa no Palate, um restaurante de luxo com vistas para Chicago,mas se atrasa. Violet senta-se no bar, toma uma taça de Malbec enquanto aguarda, e começa uma sucessão de eventos anômalos, esmiuçados com habilidade pelo roteiro de Jillian Jacobs e Christopher Roach. A todo instante, chegam mensagens em seu celular disparadas de um certo DigiDrop, sem trégua.
Os torpedos partem de dispositivos a, no máximo, quinze metros de distância de onde Violet está sentada, e a convidam a participar de um jogo, se não quiser que Toby e Jen sejam mortos. A essa altura, Henry já chegou, e ele também entra no rol de suspeitos, malgrado nunca deixe de ser gentil. A dinâmica do filme é, no começo, levar o espectador a deter-se nos personagens de Meghann Fahy e Brandon Sklenar, mas sem pressa Landon destrincha a aflição de sua anti-heroína, insinuando que talvez não seja tão inocente assim. Fahy balança da aura angelical do início para a abordagem francamente maldita de Violet, capaz de qualquer coisa para defender Toby. Da maneira mais orgânica possível, o pulo do gato em “Drop — Ameaça Anônima” é fazer de quem assiste o grande aliado da ambígua Violet, perseguida por fantasmas que alimentou sem se dar conta. Mas ela prova que merece.
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