Baseado em uma história real, filme com Michael B. Jordan e Jamie Foxx na Netflix vai te deixar sem chão Divulgação / Warner Bros.

Baseado em uma história real, filme com Michael B. Jordan e Jamie Foxx na Netflix vai te deixar sem chão

“Luta por Justiça” é o tipo de filme que dispensa artifícios para comover. Baseado na história real de Bryan Stevenson, jovem advogado formado em Harvard que decide abrir mão de uma carreira promissora para defender condenados injustamente no Alabama, o longa revela com sobriedade o abismo entre o ideal jurídico e a realidade racial norte-americana. Não há heroísmo fabricado nem sentimentalismo exagerado. O que o diretor constrói é uma narrativa que incomoda pelo que mostra de verdadeiro: a persistência de uma estrutura que ainda hoje confunde justiça com vingança, lei com poder e humanidade com privilégio.

O roteiro segue a trajetória de Stevenson desde sua chegada ao sul dos Estados Unidos até o encontro com Walter McMillian, homem negro condenado à morte por um crime sustentado apenas por um falso testemunho. A relação entre os dois se desenvolve sob o peso de um sistema que já decidiu seus destinos antes mesmo de ouvi-los. Cada audiência, cada apelação, parece reafirmar a tese central do filme: a justiça americana é, em muitos casos, apenas uma formalidade burocrática sustentada por preconceitos históricos. O mérito do filme está em evitar o panfleto. A luta de Stevenson é política, mas também moral, e o espectador é convidado a perceber o quanto essas esferas são indissociáveis quando o que está em jogo é a vida de um homem.

A direção aposta na contenção. A câmera observa os personagens em silêncio, confiando mais nas expressões do que nas palavras. Michael B. Jordan transmite a tensão de um idealista confrontado por um sistema impermeável, enquanto Jamie Foxx entrega um retrato de dignidade ferida que nunca escorrega para o melodrama. Não há espaço para catarse fácil: cada pequena vitória parece custar o que resta de esperança. O resultado é um filme que fala menos sobre tribunais e mais sobre o desgaste da fé na humanidade. Em vez de provocar lágrimas, provoca reflexão, e talvez esse seja seu maior feito.

A força de “Luta por Justiça” não está na denúncia em si, mas na maneira como revela o mecanismo do erro judicial como parte de um projeto social mais amplo. O racismo, aqui, não é o tema, mas a engrenagem. O Estado funciona, as leis funcionam, os tribunais funcionam, apenas para manter intocada a hierarquia que sempre beneficiou os mesmos. O filme nos força a encarar essa normalidade perversa: o fato de que a injustiça não é uma falha eventual, e sim o combustível de um sistema inteiro. É impossível assistir e não se perguntar quantas vidas reais seguem aprisionadas pela mesma lógica.

O que chama mais atenção no filme não é a comoção diante de um caso resolvido, mas o desconforto diante do que não muda. Stevenson vence uma batalha, mas o filme sugere que a guerra é interminável. Essa sensação de incompletude, longe de ser um defeito, é o que confere autenticidade ao relato. “Luta por Justiça” não procura encerrar nada, ele quer que o espectador continue pensando depois dos créditos, talvez porque a verdadeira justiça, assim como a verdade, não cabe em um veredito. O cinema, quando se presta a lembrar disso, cumpre um papel mais urgente do que qualquer tribunal.

Filme: Luta Por Justiça
Diretor: Destin Daniel Cretton
Ano: 2019
Gênero: Biografia/Crime/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.