Parte do conjunto “Eros“, antologia com três segmentos independentes, dirigidos por Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh e Wong Kar-Wai, “The Hand“ tem 56 minutos de duração e se passa na Hong Kong dos anos 1960. O enredo acompanha Miss Hua (Gong Li), uma cortesã que está no auge de sua profissão, atendendo clientes ricos e ostentando luxo. Ao contratar um costureiro para fazer suas roupas, ela conhece o jovem alfaiate Zhang (Chang Chen), que ainda está iniciando a carreira. Ele se aproxima para tirar as medidas de Hua, que o seduz. Para se tornar uma cliente inesquecível, ela o toca e lhe proporciona prazer.
O evento se torna um catalisador na carreira de Zhang. Com o toque de Hua marcado em sua alma, sempre que costura seus vestidos, o trabalho se torna também um exercício de prazer, já que as peças são receptáculos da memória do toque. Ao manusear os tecidos que vestirão o corpo de Hua, ele é arrebatado para sonhos eróticos, e a atividade se torna um ato masturbatório. Reencontrá-la a cada nova prova de roupa se transforma em uma ânsia insaciável. A relação, de submissão e desejo, vira sofrimento, vício, uma saudade constante e profunda na alma de Zhang.
As transações comerciais entre eles perduram ao longo de uma década, mais ou menos, acompanhando a ascensão profissional de Zhang e a decadência de Hua, que envelhece, perde os clientes, adoece. Ela se torna depressiva e alcoólatra e, cada vez menos, deseja revê-lo. O reencontro seria uma exposição: permitiria que ele enxergasse quem ela realmente é. Algo degradante para Hua, que deseja sempre ser vista com desejo por seu admirador. Para Zhang, por outro lado, não vê-la é uma tortura.
Wong Kar-Wai transforma o erotismo em poesia. Os órgãos sexuais aqui se tornam as mãos. Não há nada explícito ou vulgar. Tudo é suave e ardente ao mesmo tempo. Cores quentes e vermelhas reforçam a atmosfera apaixonada e fetichista. Os closes servem mais para disfarçar a pornografia do que para explicitá-la. Ele deixa que a imaginação do espectador desperte as sensações mais do que as imagens. E, apesar de tudo, o amor jamais é consumado. O sentimento se prolonga, mas não se concretiza. A paixão é filmada como um eco.
Hua, com sua sofisticação, status e sensualidade, se torna símbolo de poder, enquanto Zhang não tem prestígio, é um iniciante e ingênuo. Ele é dominado sexualmente por ela. No entanto, quando ela perde tudo, ele é o único que ainda a enxerga como alguém importante. O amor sobrevive ao tempo, mas não é suficiente para ambos no mundo em que vivem.
“The Hand“ é, até agora, o melhor trabalho que já vi de Wong Kar-Wai. Com uma linguagem lírica que supera o literal, o enredo dialoga entre o platônico e o carnal, o etéreo e o terreno. Com uma atmosfera noir que dá um tom de mistério ao romance, o filme deixa o espectador com desejo de saber mais sobre esses dois personagens, de querer um desenvolvimento maior da história. Mas os dados foram jogados e as cartas foram dadas. Não há nada mais que deva ser revelado e, mesmo assim, somos completamente envolvidos por esse clima de paixão e sensualidade.
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